Lula assina MP para reduzir conta de luz e ampliar subsídios a fontes renováveis em R$ 4,5 bi
Lula assina MP para reduzir conta de luz e ampliar subsídios a fontes renováveis em R$ 4,5 bi
Segundo o governo, objetivo é reduzir conta de luz dos consumidores em 3,5%. Medida também prevê ampliação do prazo para uso de subsídios por usinas eólicas e solares.
Por Lais Carregosa, Pedro Henrique Gomes, g1 — Brasília
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta terça-feira (9) uma medida
provisória que tem o objetivo de diminuir a conta de luz em 3,5% em 2024, com o
pagamento de empréstimos tomados por distribuidoras.
A medida,
por outro lado, prevê a ampliação de prazo para usinas de energia renovável,
principalmente solar e eólica, contarem com subsídios integrais nas tarifas de
uso dos fios.
Segundo a
Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres
(Abrace), o custo da extensão de prazo será de cerca de R$ 4,5 bilhões por ano
– valor que será repassado aos consumidores.
Ou seja, a
redução de 3,5% vai se dar na conta de luz do consumidor que compra energia das
distribuidoras, como o residencial e rural, por exemplo.
Mas, ao mesmo tempo, pode haver uma adição de R$ 4,5 bilhões por ano na conta de todos os consumidores – inclusive na conta do consumidor industrial, que compra energia no mercado livre e pode negociar seus contratos com as empresas.
“Naturalmente,
o setor elétrico acomoda interesses legítimos de escolhas de políticas públicas
que afetam a tarifa de energia, mas é necessário que custos e benefícios sejam
sempre explicitados para garantir as melhores escolhas para o país”, diz a
Abrace.
Antes de
assinar a medida provisória, Lula foi abordado por jornalistas sobre uma
possível troca no comando da Petrobras. Uma ala do governo defende a saída de
Jean Paul Prates da chefia da estatal do petróleo. Lula cumprimentou
jornalistas, mas não respondeu ao questionamento.
O que prevê a medida do governo
Para chegar
ao efeito de redução de 3,5% na conta, o governo pretende antecipar recursos
previstos na lei de privatização da Eletrobras e destiná-los ao pagamento da
“conta Covid” e da “conta escassez hídrica”.
Essas contas
são fruto de transações de emergência feitas pelas distribuidoras para lidar
com custos adicionais da pandemia – que gerou crise econômica e aumento da
inadimplência – e da escassez hídrica entre 2020 e 2022 – quando a falta de
chuva obrigou as empresas a contratar energia mais cara.
Agora, o
custo desses empréstimos corresponde a uma parcela dos reajustes tarifários,
que elevam a conta de luz.
Os recursos previstos na MP vêm:
– do fundo
regional do Norte previsto na privatização da Eletrobras, que será usado nas
tarifas dos estados da região –entre eles, o Amapá;
– da
antecipação de cerca de R$ 26 bilhões da Eletrobras, que seriam depositados na
Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Esse dinheiro será usado para pagar
os empréstimos;
– de
investimentos obrigatórios em pesquisa, desenvolvimento e eficiência energética
por parte das distribuidoras.
Em
entrevista a jornalistas no último dia 3, o ministro de Minas e Energia,
Alexandre Silveira, disse que a antecipação dos R$ 26 bilhões em depósitos da
Eletrobras vai pagar os empréstimos das distribuidoras e ainda vai sobrar uma
quantia.
Com o montante, o governo pretende:
– usar cerca
R$ 15 bilhões para quitar despesas do setor energético que foram necessárias na
época aguda da pandemia de Covid (quando as tarifas ficaram congeladas) e no
período de escassez hídrica, em 2020 e 2021(quando o governo precisou contratar
energia térmica, mais cara que a hidrelétrica).
– usar os
aproximadamente R$ 11 bilhões restantes para o barateamento da conta de luz.
Além da
destinação de recursos para a conta de luz, o governo também vai prorrogar o
prazo para usinas entrarem em operação e contarem com subsídios, aumentando o
custo em R$ 4,5 bilhões para os consumidores.
Entenda o aumento de custo
O governo
tenta resolver a fila de empreendimentos renováveis aguardando capacidade de
escoamento de energia no sistema nacional.
A fila de
usinas sem garantia de escoamento da energia produzida é consequência de uma
lei publicada em março de 2021 e do decreto que a regulamenta.
A lei
encerra gradativamente os descontos nas tarifas de uso dos sistemas de
distribuição e transmissão – que são subsidiados e fazem parte de um dos
encargos na conta de luz.
Além disso,
o texto estabeleceu que os empresários que quisessem contar com os descontos
deveriam apresentar o pedido à Aneel no prazo de 12 meses – o que gerou uma
“corrida ao ouro” por parte das usinas.
O cenário
foi intensificado graças a um decreto editado pelo então presidente Jair
Bolsonaro (PL), em 2021. O texto flexibilizou o processo de autorização, o que
aumentou o número de usinas autorizadas, mas que não conseguiriam operar por falta
de capacidade no sistema.
Depois de
terem seus pedidos aceitos pela Aneel, as usinas precisavam entrar em operação
em até 48 meses. É esse prazo que o governo pretende estender, dando mais três
anos para a conclusão dos empreendimentos.