Lula empossa Lewandowski no Ministério da Justiça
Lula empossa Lewandowski no Ministério da Justiça
Novo ministro substitui Flávio Dino, que irá para o STF.
Publicado por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil - Brasília
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva empossou, nesta quinta-feira (1º), Ricardo Lewandowski
no cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. Em cerimônia no Palácio do
Planalto, em Brasília, Lula falou dos desafios do combate ao crime organizado,
o que ele chamou de uma “indústria multinacional com muito poder” e que está
presente em todas as atividades do país.
Lula citou a
confiança que tem no ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e as
expectativas da nova gestão à frente do Ministério da Justiça e Segurança
Pública (MJSP). Lewandowski foi anunciado para o cargo no Executivo em 11 de
janeiro e a nomeação foi publicada no último dia 22. Ele substitui Flávio Dino,
que assumirá uma vaga de ministro no STF, também por indicação de Lula,
aprovada pelo Senado em dezembro do ano passado.
Para o
presidente da República, Lewandowski deverá construir parcerias dentro e fora
do Brasil para enfrentar a “indústria do crime, a indústria de roubo do
dinheiro público e de sofrimento da população mais pobre desse país”.
“Ninguém
persegue ninguém, a Polícia Federal não persegue ninguém, o governo federal não
quer se meter, nem se intrometer em fazer a política de segurança nos estados,
o que nós queremos é construir com os governadores a parceria necessária para
que a gente possa ajudar a combater um crime que eu não chamo de coisa pequena”,
disse.
“O crime
organizado não é uma coisa de uma favela, de uma cidade, de um estado, o crime
organizado é uma indústria multinacional de fazer delitos internacionais e o
crime organizado está em toda atividade desse país”, argumentou.
“Se a gente
quiser pegar do futebol ao Poder Judiciário, a classe política brasileira, a
classe empresarial, o crime organizado está metido e mancomunado com gente dos
Estados Unidos, com o crime organizado da França, da Suécia, da Holanda. Ou
seja, é uma multinacional com muito poder”, acrescentou o presidente.
Repressão e políticas sociais
Por sua vez,
Lewandowski disse que as organizações criminosas começam a se infiltrar,
inclusive, em órgãos públicos e defendeu o trabalho de inteligência para
identificar líderes e bloquear movimentações financeiras e patrimoniais que
alimentam as estruturas do crime organizado.
“A atuação
das organizações criminosas, nas quais se incluem as milícias subdivididas em
múltiplas facções, ora aliadas, ora rivais, antes restritas às áreas
periféricas onde o Estado se mostrava ausente e aos recônditos ambientes
prisionais, hoje se desenvolve em toda parte, à luz do dia, com ousada
desfaçatez e em moldes empresariais”, disse.
“Tal como
ocorre em outras nações, o crime organizado começa a se infiltrar em órgãos
públicos, especialmente naqueles ligados à segurança e a multiplicar empresas
de fachada para branquear recursos obtidos de forma ilícita”, explicou o novo
ministro da Justiça.
Assim como
Lula, Lewandowski defendeu uma aliança com estados e municípios, que detém a
responsabilidade primária pela segurança pública. “É preciso superar a
fragmentação federativa e estabelecer um esforço nacional conjunto para
neutralizar as lideranças das organizações criminosas e confiscar os seus
ativos, porque elas não podem sobreviver sem recursos para custear os seus
soldados e as suas operações”, observou.
Durante o
seu discurso, Lewandowski destacou ainda a importância das políticas públicas
sociais para o combate à violência e à criminalidade.
“É nossa
obrigação e o povo brasileiro assim espera que o Ministério da Justiça dedique
especial atenção à segurança pública que, ao lado da saúde, é hoje uma das
maiores preocupações da cidadania”, salientou, lembrando que o problema remonta
aos tempos coloniais, da escravidão de negros e indígenas.
“Numa
continuidade desse ciclo perverso, a criminalidade e a violência continuam se
nutrindo da exclusão social, da miséria, do desemprego, da falta de saneamento,
de saúde, de educação, de lazer, de habitação que, infelizmente, ainda
persistem no país”, detalhou.
“Por isso, é
escusado dizer que o combate à criminalidade e à violência, para ter êxito,
precisa ir além de uma permanente enérgica repressão policial, demandando a
execução de políticas públicas que permitam superar esse verdadeiro apartheid
social “que continua segregando boa parte da população brasileira”, acrescentou
o novo ministro.
A cerimônia
de hoje no Palácio do Planalto teve a presença dos presidentes do STF, Luiz
Roberto Barroso, e do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, além de
outros ministros da Supremo Corte, ministros de Estado e outras autoridades.
Trajetória
Ex-magistrado
de carreira que chegou ao topo do Poder Judiciário, Lewandowski deixou o cargo
de ministro do STF em 11 de abril de 2023, após ter antecipado em um mês sua
aposentadoria. Ele completou 75 anos em 11 de maio do ano passado, data em que
seria aposentado compulsoriamente.
Indicado à
Suprema Corte em 2006 pelo próprio presidente Lula, sua passagem ficou marcada
pelo chamado garantismo, corrente que tende a dar maior peso aos direitos e
garantias dos réus em processos. Presidiu o STF e o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) entre 2014 e 2016, quando conduziu o processo de impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff.
Foi também
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre 2010 e 2012. No cargo,
esteve à frente da aplicação da Lei da Ficha Limpa, que havia sido aprovada em
2010.
Com a saída
do Supremo, Lewandowski voltou a advogar e focar na carreira acadêmica. Nascido
no Rio de Janeiro, o ex-ministro é formado pela Universidade de São Paulo
(USP), mesma instituição pela qual se tornou mestre e doutor e na qual leciona
desde 1978.
Para o lugar
de Lewandowski, ainda em 2023, Lula indicou o advogado Cristiano Zanin.
Já o novo
ministro do STF, Flávio Dino, ocupou o lugar da ex-ministra Rosa Weber, que se
aposentou compulsoriamente da Corte, ao completar 75 anos de idade, em outubro
do ano passado.
Dino tomará
posse na Corte no dia 22 de fevereiro. Com a transmissão do comando do
Ministério da Justiça, hoje, Dino reassume sua vaga no Senado Federal até a
posse no Supremo, quando renunciará ao mandato no Legislativo.
A abertura
do ano judiciário também ocorre hoje, com cerimônia no plenário do STF.
Edição:
Kleber Sampaio