Marina reafirma que decisão do Ibama contra Petrobras foi técnica
Marina reafirma que decisão do Ibama contra Petrobras foi técnica
Estatal que explorar petróleo na Foz da Bacia do Amazonas.
Publicado por Luciano Nascimento - Repórter da Agência Brasil - São Luís
A ministra
do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reafirmou nesta terça-feira
(12) que foi técnica e não política a decisão do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de indeferir o pedido da
Petrobras para perfuração de poço de prospecção marítima na Foz da Bacia do
Amazonas, o bloco FZA-M-59. Ao negar o pedido, em maio, o Ibama argumentou que
a decisão foi tomada “em função do conjunto de inconsistências técnicas” para a
operação segura em uma nova área exploratória.
“A licença
não foi dada em razão de insuficiências no estudo de impacto ambiental e nas
soluções apresentadas”, afirmou Marina durante audiência pública na Comissão de
Infraestrutura do Senado para debater o tema. “A negativa que o Ibama deu foi
com base no parecer de três técnicos do Ibama, o presidente do Ibama seguiu o
parecer dos técnicos, porque em um governo republicano é o que se faz”,
reiterou a ministra, argumentando que a licença já havia sido negada em 2018,
em razão do não atendimento dos requisitos legais identificados pelo órgão
ambiental no processo de licenciamento.
A Petrobras
solicitou o licenciamento para prospectar petróleo na parte da Margem
Equatorial, área apontada como de alto potencial petrolífero. O entendimento da
equipe técnica que elaborou o parecer sobre o pedido diz que faltou para a
Petrobras uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS), que permite
identificar áreas em que não seria possível realizar atividades de extração e
produção de petróleo e gás em razão dos graves riscos e impactos ambientais
associados.
“Os
processos de licenciamento não dificultam nem facilitam. Eles são processos
técnicos, que obedecem a determinados requisitos legais e que o órgão
licenciador tem que estar em conformidade com esses requisitos legais”,
afirmou. “A avaliação ambiental estratégica não é uma condicionante, mas, com
certeza, ela é uma ferramenta que, ao ser executada na área de abrangência do
empreendimento, traz mais objetividade, nos dá base para essa objetivação no
licenciamento ambiental. Se você tem um olhar abrangente, você vai conseguir
maior objetividade na hora de fazer o termo de referência e isso é bom para o
próprio empreendedor”, completou.
A ministra
esclareceu que a decisão sobre a exploração ou não de petróleo na região não é
uma decisão da pasta, mas do Comitê Nacional de Política Energética (CNPE),
presidido pelo Ministério de Minas e Energia.
“O
mundo caminha na direção de não aceitar mais produtos carbono intensivo. E
quando digo isso, não estou me referindo se o mundo vai ou não vai continuar a
explorar petróleo. No Brasil, essa decisão quem toma é o Conselho Nacional de
Política Energética. O Ibama e o Ministério do Meio Ambiente lidam com os
processos de licenciamento. Não é o Ibama, nem o ministério, quem decide qual a
matriz energética brasileira”, explicou.
A prospecção
de petróleo na Foz da Bacia do Amazonas é defendida pelos senadores do Amapá,
estado com cerca de 870 mil habitantes. A Petrobras solicitou a perfuração em
uma área localizada a 179 quilômetros (km) da costa do município de Oiapoque.
Na avaliação
do senador Lucas Barreto (PSD-AP), a iniciativa pode gerar empregos e
contribuir para o desenvolvimento do estado. Segundo o senador, o estado tem
mais de 70% da sua vegetação protegida e acaba sendo punido por essa preservação.
“Nós
queremos que haja a prospecção do petróleo na foz do Rio Oiapoque, que não é do
Amazonas. O presidente Lula falou ontem [segunda-feira] que defende a
exploração na margem equatorial e rechaça o uso da expressão Foz do Amazonas”,
disse.
“O local do
poço está a 580 km e ninguém questiona onde se quer furar esse poço para
prospectar. A 50 km já estão perfurando o quarto poço de exploração da Guiana
Francesa. O poço que se quer explorar no Amapá está a 15 km do limite do mar
territorial. A Petrobras tem 110 postos de exploração na costa do Brasil, todos
com licença, e quando chega no Amapá, não pode. Nós não podemos aceitar isso”,
reclamou Barreto.
O processo
de licenciamento ambiental do bloco FZA-M-59 foi iniciado em 4 de abril de
2014, a pedido da BP Energy do Brasil, empresa originalmente responsável pelo
projeto. Em dezembro de 2020, os direitos de exploração de petróleo no bloco
foram transferidos para a Petrobras.
A área é
considerada uma região de extrema sensibilidade socioambiental, por abrigar
unidades de conservação, terras indígenas, mangues, formações biogênicas de
organismos como corais e esponjas, além de grande biodiversidade marinha com
espécies ameaçadas de extinção, como os boto-cinza, boto-vermelho, a cachalote,
baleia-fin, peixe-boi-marinho, peixe-boi-amazônico e tracajá.
Ibama
Durante a audiência, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse que o debate sobre a necessidade de estudo mais apurados sobre a prospecção de petróleo na região ocorreu após uma tentativa de perfuração em 2012. Na ocasião, segundo disse, a sonda utilizada para perfurar o solo quebrou em razão das fortes correntes na região.
“A Petrobras
é uma das maiores especialistas do mundo em exploração de águas profundas, ela
é pioneira nisso, mas todos os estudos que ela apresentou trabalhavam a
prerrogativa de que esse óleo não chegaria na costa e que, num eventual
vazamento, iria para o Caribe. Isso para o Ibama é problemático, tivemos
ocorrência em que o óleo foi devolvido para a costa e é uma costa com 70% das
áreas de manguezais do país”, alertou.
Agostinho
destacou ainda o que o plano de emergência apresentado pela empresa colocava em
Belém a base terrestre do Centro de Reabilitação e Despetrolização da Fauna
(CRD), distante 830 km e a 43 horas de navegação da locação do poço. “Essa
localização reflete as dificuldades logísticas encontradas na região, que não
tem infraestrutura de suporte em caso de acidente. As modelagens do Ibama
indicam que, em caso de vazamento de óleo, os países vizinhos ao Brasil serão
diretamente afetados, uma vez que o óleo atingiria as águas fora do território
brasileiro no intervalo de 10 horas para pequenos vazamento e 15 horas em caso
de grandes vazamentos”.
“Tem regiões
do Brasil que já são muito conhecidas, que estão próximas de grandes centros
universitários e têm muito diagnóstico. As pessoas entendem o que pode
acontecer ali, para onde vai o óleo, se vai tocar a costa, se vai para o norte
ou leste e tem infraestrutura de atendimento a um possível acidente. Naquela
região, isso é deficitário e tem sido apresentado em uma série de pareceres”,
justificou.
“A gente
acredita que a Petrobras tem condição de entregar um estudo mais sólido. A
Petrobras, inclusive, recentemente apresentou um pedido de reconsideração e ele
está em análise na nossa equipe de licenciamento, mas ainda não tem uma resposta”,
complementou Agostinho.
O líder do
governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), cobrou a necessidade da definição de
critérios mais objetivos para esse tipo de licenciamento, e defendeu um
equilíbrio nas decisões entre o técnico e o político.
“O interesse
dos amapaenses, na minha opinião, é legítimo. Essa solidariedade no desejo de
levar desenvolvimento social para o estado do Amapá é compartilhada por todos.
Precisamos saber qual o melhor caminho para fazê-lo, para que a gente não faça
nenhuma coisa [errada] e perca o que tem que é o patrimônio da preservação”,
disse.
Licenciamento ambiental
A ministra
Marina Silva defendeu mudanças no Projeto de Lei 2159/2021, que trata do
licenciamento ambiental. O texto já passou pela Câmara dos Deputados, e agora
tramita no Senado. Segundo a ministra, se a proposta for aprovada da forma como
veio da Câmara, haverá insegurança jurídica e judicialização dos licenciamentos.
“Eu diria que o projeto que veio da Câmara dos Deputados, se não for aperfeiçoado, se for aprovado tal como veio, a gente cria gravíssimos problemas para o processo de licenciamento e, mais do que para o processo de licenciamento, para a proteção do meio ambiente e uso sustentável dos nossos recursos naturais, e mais do que para a proteção e uso sustentável dos recursos sustentáveis, cria problema para os empreendedores. Qualquer coisa que saia do padrão que está no marco regulatório leva a problema de judicialização”, alertou.
A ministra
citou como problemáticas a previsão da licença por adesão e compromisso (LAC),
conhecida como autolicenciamento, que atesta a viabilidade de instalação, de
ampliação e da operação de atividade ou de empreendimento; a previsão de
licenciamento ambiental corretivo destinado à regularização de atividade ou de
empreendimento que, na data de publicação da lei, esteja operando sem licença
ambiental válida e a parte que trata sobre empreendimentos em terras indígenas,
comunidades quilombolas e unidades de conservação.
O problema é
que, da forma como foi aprovado, segundo a ministra, são tantas facilidades,
que fica mais fácil o empreendedor fazer o empreendimento ao arrepio da lei,
depois entrar com esse expediente e tornar o mecanismo legal. “Aí, a gente fica
com dois pesos e duas medidas, pois existirão sempre pessoas virtuosas, que vão
fazer em conformidade com a lei, e alguém em desconformidade que entra com uma
licença corretiva que tem menos exigências”, disse.
Edição:
Fernando Fraga