Marisa conclui processo de reestruturação com fechamento de 88 lojas
Marisa conclui processo de reestruturação com fechamento de 88 lojas
Plano inicial da varejista previa o encerramento de 92 unidades. Custo total de desativações foi de R$ 44,5 milhões, informou a empresa nesta segunda-feira (17).
Por André Catto, g1
A rede de
varejo Marisa informou nesta segunda-feira (17) que concluiu seu plano de
reestruturação financeira com um total de 88 lojas fechadas. De acordo com a
empresa, foram investidos R$ 44,5 milhões para a desativação das unidades.
A companhia
está empenhando esforços para tentar recuperar sua capacidade de gerar caixa —
ou seja, voltar a ter recursos disponíveis para investimentos e para sua operação
— e para voltar a ser rentável.
“A
Marisa Lojas S.A (…) vem informar aos seus acionistas e ao mercado em geral a
conclusão, dentro do prazo previsto, das principais e mais desafiadoras ações
desenhadas dentro plano de otimização operacional da companhia”, informou
a empresa em fato relevante.
O plano
inicial previa o fechamento de 92 lojas. No comunicado desta segunda, no
entanto, a varejista disse ter optado pelo encerramento de um número menor de
unidades “visando a preservação de pontos em que foram identificadas
melhorias e que deverão resultar em maior eficiência operacional”.
Segundo a
companhia, o custo de R$ 44,5 milhões para o fechamento das lojas ficou 16% abaixo
do previsto inicialmente.
Com isso, a empresa projeta uma potencial captura de Ebtida (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de cerca de R$ 40 milhões em 2023 e de aproximadamente R$ 60 milhões ao ano a partir de 2024.
“Para o
parque [número de lojas] atualizado de 246 unidades, que mantêm a presença da
companhia em todos os estados da federação, o foco estará em maximizar a
produtividade e resultado operacional, com suporte do braço digital e inovações
no modelo operacional”, informou.
De acordo com a companhia, a primeira parte do processo de redução de SG&A (despesas de vendas, gerais e administrativas) foi concluído, “viabilizando uma geração extra de caixa de R$ 35 milhões ao ano”.
“Ao
longo do segundo semestre serão otimizados os serviços de terceiros e outras
despesas, o que deverá gerar uma economia adicional de pelo menos R$ 10 milhões
por ano”, continuou a empresa.
Segundo a
Marisa, o processo de renegociação de dívidas atingiu 90% do total de seus
fornecedores e 97% do total de valores devidos aos seus parceiros de revenda.
O que levou a empresa às dezenas de
lojas fechadas?
Essa não foi
a primeira ação da companhia para tentar sair de uma crise financeira que há
mais de 10 anos tem impactado seus resultados.
Só neste
ano, por exemplo, a Lojas Marisa enfrentou a renúncia de cinco executivos da
alta cúpula da empresa, contratou assessores externos e anunciou emissões de
debêntures (títulos de dívida) e a venda de direitos creditórios (direitos aos
créditos que a companhia tem a receber).
Além disso,
a empresa já vinha mantendo esforços para renegociar prazos e dívidas com
fornecedores, credores e proprietários de imóveis, reduzir seus investimentos
em estoques de produtos e cortar suas despesas operacionais.
Mas afinal, o que aconteceu com a
varejista?
A Marisa é
uma das maiores redes de moda feminina e lingerie do Brasil, mas desde o início
da década passada vive uma longa crise financeira.
Com foco na
classe média — segundo a empresa, mais da metade de suas consumidoras possui
renda entre R$ 3 mil e R$ 5 mil —, a companhia apertou as margens para manter
preços baixos e deixou de inovar.
Dali em
diante, a Marisa teve que lidar com a redução de qualidade dos produtos e a
perda de poder de compra dessa fatia da população. As contas passaram a não
bater, mas foi apenas em 2016 que a família Goldfarb, fundadora da rede, deixou
a gestão da empresa para dar lugar a um executivo de mercado.
Ainda assim, as recessões de 2015 e 2016 somadas à pandemia de Covid-19 apertaram as finanças do público em geral e limitaram o avanço de empresas varejistas. E com a Marisa não foi diferente: em 2020, a empresa registrou um prejuízo líquido de mais de R$ 400 milhões, seguido por outro prejuízo de mais de R$ 70 milhões em 2021 e outro de mais de R$ 200 milhões em 2022.
Em seu
último resultado, divulgado no começo desta semana, a empresa reportou um
prejuízo líquido de R$ 148,9 milhões no primeiro trimestre deste ano, um
aumento de 64,2% em relação a igual período de 2022.
Os
resultados ruins e a demora em uma mudança nas perspectivas da empresa levaram
as ações da Marisa da casa dos R$ 27 em 2013 para menos de R$ 1 nos dias de
hoje.
Ajuda externa e capitalização
Para tentar
superar a crise, a companhia informou, em fevereiro, que contratou a BR
Partners, em “continuidade ao processo de otimização financeira e
aprimoramento de sua estrutura de capital”. Desde então, o banco de
investimentos tem assessorado a Marisa em seu processo de renegociação de
dívidas.
A empresa
também contratou a Galeazzi Associados na mesma época, para apoiá-la no
aperfeiçoamento de sua estrutura de custos.
Em uma das
últimas atualizações sobre sua situação financeira, a empresa informou que
renegociou dívidas com 90% de seus fornecedores e 65% de proprietários de
imóveis. Ainda assim, segundo relatório de resultados, a companhia ainda tinha
uma dívida líquida de R$ 461 milhões ao final do primeiro trimestre deste ano.
Com
informações de Isabela Bolzani, do g1, em São Paulo.