Mercado bilionário: demanda cresce e moda plus size planeja R$ 15 bilhões de faturamento até 2027
Mercado bilionário: demanda cresce e moda plus size planeja R$ 15 bilhões de faturamento até 2027
Avanço é impulsionado por pequenos negócios, que representam mais de 90% do setor.
Por Isabela Bolzani, g1 11/05/2023 04h00 - Atualizado há 19 horas
Os debates
sobre inclusão e aceitação aos corpos fora do padrão têm crescido no mercado de
vestuário. E, impulsionado pelo alcance da internet e das redes sociais, o tema
já começa a alterar as configurações do segmento de moda — principalmente no
que diz respeito a roupas plus size.
Segundo os
dados mais recentes da Associação Brasil Plus Size (ABPS), o segmento
movimentou R$ 9,6 bilhões em 2021 e tem expectativa de alcançar os R$ 15
bilhões em faturamento até 2027.
De acordo
com especialistas ouvidos pelo g1, o movimento não é de hoje, mas ganhou força
durante a pandemia e tende a crescer ainda mais nos próximos anos — resultado
de mudanças na percepção e comportamento dos consumidores que, mais
empoderados, demandam uma maior diversidade de produtos e peças que atendam a
diferentes estilos.
Lá fora,
nomes como Dolce&Gabbana e Versace, por exemplo, já trabalham há anos com
tamanhos maiores do que a grade convencional. Por aqui, no entanto, esse
movimento é mais recente, e só agora o mercado plus size começa a dar passos
mais largos rumo a uma participação maior no setor de vestuário.
O
crescimento, no entanto, é gradativo. O segmento ainda sente os impactos da
pandemia de Covid-19, que trouxe uma queda geral na produção do setor de vestuário.
Dados do IEMI – Inteligência de Mercado apontam que a produção de roupas plus
size registrou uma queda de 5,4% em 2022 em relação ao ano anterior, com
aproximadamente de 178,2 milhões de peças fabricadas.
“Houve, por
exemplo, todo o impacto da valorização das commodities, que se agravou em 2022
com a guerra na Ucrânia. Além disso, também houve um ajuste de preços, que veio
atrasado após um longo período de redução do consumo por conta da inflação”,
explica o diretor do IEMI, Marcelo Villin Prado.
Aumento
de peso da população e novas demandas de mercado
Mesmo com a
desaceleração do segmento por conta da pandemia, no entanto, o mercado plus
size ainda coleciona bons números, tendo crescido 75,4% nos últimos 10 anos, de
acordo a ABPS.
Para
especialistas, parte do que explica esse avanço é o aumento de peso da
população e, consequentemente, as novas demandas que esse público passa a ter
no mercado. Dados da Federação Mundial da Obesidade projetam que a obesidade
atinja 41% da população adulta brasileira em 2035.
Segundo o
diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo
Lima, as diversas configurações corporais da população brasileira ainda são um
desafio para o segmento de vestuário, mas o mercado tem trabalhado para ampliar
sua grade de tamanhos e adaptar coleções para atender as demandas que têm
surgido no setor.
“Se há
alguns anos isso era tratado como um nicho de mercado, hoje em dia é uma forma
de inclusão. Essas pessoas também querem ter suas expectativas e necessidades
atendidas, e as companhias têm começado a olhar para o desenvolvimento desse
mercado”, afirma o executivo.
O papel
das grandes varejistas
Parte desse
movimento já pode ser visto nas grandes varejistas. De acordo com Lima, além da
ampliação da grade de tamanhos, algumas dessas companhias já têm uma marca
própria ou mesmo uma rede de lojas dedicada a comercializar produtos plus size.
Dentre as
grandes consultadas pelo g1, a C&A e a Riachuelo informaram que mantém uma
“escuta ativa” com seus clientes e que estão em uma “busca constante” para
desenvolver produtos que atendam os diferentes públicos, tendo visto um
crescimento significativo no segmento plus size.
“Executamos
a graduação [de modelagem das roupas] respeitando as particularidades de um
corpo plus e, para esse tipo de produto, priorizamos o conforto. Nosso esforço
está em trazer representatividade e reforçar a quebra de padrões impostos,
incentivando todos a aceitarem seus corpos e suas medidas”, diz a diretora de
compras e estilo da Riachuelo, Claudia Albuquerque.
Entre as marcas criadas pela companhia para atender o público plus size, a Filipa atende os tamanhos GG ao XGG e do 46 ao 54. Já a Allman oferece peças do G1 ao G4 e do 54 ao 60.
Já a C&A
informou em nota oficial que além de criar um “Conselho Fashion” – grupo
composto por clientes e convidados para auxiliar os times da companhia a
entenderem a expectativa do público para as coleções. Também mantém uma equipe
multidisciplinar dedicada exclusivamente às clientes plus size, que contam com
produtos do GG1 ao GG4.
Pequenos
empreendedores respondem por mais de 90% do mercado
Mas, mesmo
com o avanço do segmento dentro dos grandes varejos de moda, especialistas
contam que o volume de pessoas que continua sem encontrar roupas com o tamanho
apropriado ainda é grande.
Não à toa,
parte importante do crescimento desse mercado também vem da ascensão de
empreendedores, muitos dos quais decidiram montar o próprio negócio porque
também passaram pela dificuldade de não encontrar peças modernas que tivessem
um bom caimento no corpo gordo.
“Exatamente
por já terem sentido essa dor, muitos dos nossos empreendedores não eram
originalmente da área de confecção, mas aprenderam a fazer roupas em tamanhos
maiores para atender sua própria necessidade”, diz a presidente da ABPS,
Marcela Elizabeth.
“Isso
explica o porquê de, dentro da estatística nacional, mais de 90% do mercado
plus size ser formado por pequenos empreendedores.”
É o caso de
Rodrigo Santos, 39, fundador da marca Lambuzada. O empresário conta que, sem
encontrar peças que o vestissem bem e se adequassem ao seu gosto, começou
produzindo camisas para uso próprio – e a ideia da marca deslanchou em 2015,
quando outros amigos gordos e pessoas na rua começaram a perguntar sobre suas
roupas.
Mas apesar
de a Lambuzada atender tamanhos do PP ao G8, Santos conta que a marca ainda
deixa pessoas desatendidas, já que há pessoas que vestem peças maiores. Nesses
casos, o empresário diz que produz peças personalizadas, feitas com base nas
medidas de uma roupa que a pessoa já tenha e que a vista bem.
“Tem
bastante empreendedor surgindo no setor, mas ainda temos muito a crescer. Até
porque se nós, que vivemos nas grandes capitais já não encontramos opções,
imagina aquelas pessoas que vivem em uma cidade pequena e que não têm acesso?
Precisamos evoluir porque esse setor não trabalha apenas com a roupa, mas com a
autoestima”, acrescenta o empresário.
Além disso,
outro ponto que também deve começar a evoluir são os preços do setor. Santos
conta que ainda é comum no mercado entrar em uma loja e encontrar peças plus
size que são duas ou até três vezes mais caras do que aquelas de tamanhos
convencionais.
“No caso da Lambuzada, hoje, a gente fica bem no limite [dos preços] porque eu também preciso trabalhar com um tecido de qualidade, que não vai encolher na lavagem e que fique confortável na pessoa gorda. Mas ainda tem lojas que ultrapassam muito esse valor não pela qualidade do tecido, mas porque acham que precisam aumentar o preço só pelo tamanho da peça. Isso precisa melhorar”, completa o empresário.