Ministério Público Eleitoral diz que houve abuso de poder político e pede inelegibilidade Bolsonaro
Ministério Público Eleitoral diz que houve abuso de poder político e pede inelegibilidade Bolsonaro
Na primeira etapa do julgamento, defesa do ex-presidente afirmou que fala de Bolsonaro em reunião com embaixadores foi fora do tom, mas ocorreu antes do período eleitoral. Julgamento recomeça na terça-feira.
Por Fernanda Vivas e Márcio Falcão, TV Globo — Brasília 22/06/2023 12h33 - Atualizado há uma hora
O
vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet, defendeu nesta quinta-feira (22)
a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro por abuso de poder político.
Gonet se
manifestou na primeira etapa do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
que analisa a conduta de Bolsonaro em uma reunião com embaixadores em julho do
ano passado.
Na reunião,
transmitida em TV pública, Bolsonaro difamou o sistema eleitoral brasileiro sem
apresentar provas.
O PDT
acionou o TSE contra o então presidente. O caso pode resultar na
inelegibilidade de Bolsonaro.
Segundo Gonet, ”estão estampados” elementos que justificam afastar Bolsonaro das eleições, como desvio de finalidade, busca de vantagem na disputa eleitoral de 2022, além da gravidade da conduta.
“Conclusão
dos autos conduzem que o evento foi deformado em instrumento de manobra
eleitoreira, traduzindo em desvio de finalidade”, afirmou o
vice-procurador-geral eleitoral.
No julgamento, também falaram (veja
mais abaixo nesta reportagem):
– o advogado
do PDT
– a defesa
de Bolsonaro
Gonet
afirmou ainda que a fala de Bolsonaro no encontro não estava protegida pela
liberdade de expressão. “Um discurso dessa ordem não compõe o domínio
normativo da liberdade de expressão”.
O julgamento
foi interrompido após a fala do vice-procurador-geral eleitoral e será retomado
na terça-feira (27). A previsão é que o resultado saia na sessão de
quinta-feira (29).
Na primeira
etapa do julgamento, antes de Gonet, também falaram o advogado do PDT e a
defesa de Bolsonaro. Veja abaixo.
Alegações
do PDT
O advogado
do PDT, Walber Agra, afirmou que as provas mostram que houve abuso de poder
político, com uso de estrutura da administração pública, e do uso de meio de
comunicação na reunião. Para Agra, Bolsonaro atuou para desacreditar as
instituições.
“Será que
vamos entrar novamente de estágio de cegueira coletiva? Houve reunião para
desmoralizar as instituições. Constrangeu servidores, usou TV Brasil, usou
propaganda institucional para propagar fake news. Utilizou-se avião da FAB,
ataques sistêmicos à democracia e principalmente aos ministros. Veja que cena
triste. E tentativa de um golpe militar. Se fosse qualquer mandatário
estaríamos aqui discutindo o conteúdo da reunião”, afirmou.
Ele defendeu
o uso da minuta do golpe como prova. “A minuta do golpe não é o creme dela
creme é apenas o ápice, vergonhoso de menosprezo da coisa pública, do regime
democrático, das instituições”.
“Naquele
momento foram proferidas várias fakes news. Como que as urnas brasileiras não
permitem auditória – mentira; que a apuração de votos é realizada por uma
empresa terceirizada – mentira; que as eleições de 2018 foram fraudadas –
mentira; que houve acesso aos códigos fontes das urnas eletrônicas – mentira.
que hacker conseguiu invadir o que e mais sagrado – mentira”, disse.
O que
disse a defesa
Responsável
pela defesa de Bolsonaro e do então vice na chapa, general Braga Netto, o
advogado Tarcísio Vieira de Carvalho afirmou que a discussão do sistema
eletrônico de votação não pode ser considerado um tema tabu na democracia e que
a reunião foi um evento diplomático. Segundo ele, Bolsonaro apenas tentou
propor um debate público para aprimorar o sistema.
Vieira
admitiu que Bolsonaro usou um tom “inadequado” ao tratar o tema com
os embaixadores, mas alegou que a reunião ocorreu antes do período eleitoral.
Vieira
defendeu ainda que a minuta do golpe, apreendida em janeiro pela Polícia
Federal na casa do ex-ministro Anderson Torres, não poderia ser usada como
prova no julgamento.
O documento
tratava da decretação de um estado de defesa no TSE com o objetivo de rever o
resultado da eleição, da qual Bolsonaro saiu derrotado.
Vieira
alegou que se trata um documento risível e que tinha como destino o lixo.
“Tentativa
de golpe conectada a reunião com embaixadores? Essa pretensão não dependeria de
outros [fatos]? Alguém que vai praticar golpe vai perder tempo em desacreditar
a Justiça Eleitoral? Disputar eleições? Liderou a baderna do dia 8 de janeiro?
Nada disso aconteceu Houve um debate na reunião de julho, legítimo, salutar em
torno do aprimoramento do sistema de votação. Proposta de melhoria na
sistemática do sistema de votação”, afirmou.