Moeda de ouro de 2 mil anos prova que imperador romano ‘falso’ era real
Moeda de ouro de 2 mil anos prova que imperador romano 'falso' era real
Por BBC 24/11/2022 07h42 Atualizado há uma hora
Uma antiga moeda de ouro é a prova de
que um imperador romano do século 3, relegado da história como um personagem
fictício, realmente existiu, segundo cientistas no Reino Unido.
A moeda com o nome de Esponsiano e seu
retrato foi encontrada há mais de 300 anos na Transilvânia, outrora um posto
avançado remoto do império romano.
Como acreditava-se que a moeda era
falsa, a mesma foi guardada no armário de um museu.
Agora, cientistas dizem que as marcas
de arranhões visíveis ao microscópio provam que ela realmente estava em
circulação há 2 mil anos.
Paul Pearson, professor da University
College London (UCL), no Reino Unido, que liderou a pesquisa, disse à BBC News
que ficou surpreso com a descoberta.
“O que encontramos é um
imperador. Ele era uma figura que foi considerada uma farsa e descartada pelos
especialistas.”
“Mas achamos que ele era real e
teve um papel na história.”
A moeda estava em um pequeno tesouro descoberto em 1713. Até meados do século 19, acreditava-se que era uma moeda romana genuína. Mas especialistas daquela época suspeitaram que ela poderia ter sido produzida por falsificadores, devido ao design rudimentar.
A decisão que relegou a peça ao
ostracismo veio em 1863, quando Henry Cohen, o principal especialista em moedas
da época, da Biblioteca Nacional da França, levou a questão em consideração em
seu grande catálogo de moedas romanas. Ele disse que os objetos eram
falsificações “modernas”, mas mal feitas e “ridiculamente
imaginadas”. Outros especialistas concordaram — e Esponsiano acabou
esquecido.
Mas Pearson suspeitou que havia algo
errado nessas conclusões quando viu fotos da moeda, enquanto pesquisava para um
livro sobre a história do império romano. Ele conseguiu identificar arranhões
na superfície que poderiam ter sido produzidos pela circulação da moeda.
Ele entrou então em contato com o
Museu Hunterian, da Universidade de Glasgow, na Escócia, onde a moeda foi
mantida trancada em um armário junto com outras três do tesouro original.
Junto com outros pesquisadores, ele
examinou todas as quatro moedas com um poderoso microscópio e confirmou em
artigo publicado na revista científica PLOS 1 que realmente havia arranhões nos
objetos — e que os padrões eram consistentes com moedas sacudindo dentro de
bolsas.
Uma análise química também mostrou que
as moedas tinham ficado enterradas no solo por centenas de anos, de acordo com
Jesper Ericsson, curador de moedas do museu que trabalhou com Pearson no
projeto.
Sob um poderoso microscópio, os
pesquisadores identificaram marcas de arranhões causadas pela circulação das
moedas — Foto: BBC NEWS
Sob um poderoso microscópio, os
pesquisadores identificaram marcas de arranhões causadas pela circulação das
moedas — Foto: BBC NEWS
Os pesquisadores
agora têm que responder à seguinte pergunta: quem foi Esponsiano?
Eles acreditam que se tratava de um
comandante militar que foi forçado a assumir o papel de imperador da província
mais distante e difícil de defender do império romano, a Dácia.
Estudos arqueológicos estabeleceram que a Dácia foi isolada do resto do império romano por volta de 260 d.C. Havia uma pandemia, uma guerra civil, e o império estava se fragmentando.
Cercado por inimigos e isolado de
Roma, Esponsiano provavelmente assumiu o comando supremo durante um período de
caos e guerra civil, protegendo a população militar e civil da Dácia até a
volta da normalidade, entre 271 e 275 d.C, de acordo com Jesper Ericsson.
“Nossa interpretação é que ele
estava encarregado de manter o controle dos militares e da população civil
porque eles estavam cercados e completamente isolados”, afirma.
“Para criar uma economia
funcional na província, eles decidiram cunhar suas próprias moedas.”
Essa teoria explicaria por que as
moedas são diferentes das de Roma.
“Eles podiam não saber sequer
quem era o verdadeiro imperador porque havia uma guerra civil”, diz
Pearson.
“Mas o que eles precisavam era de
um comandante militar supremo na ausência do poder real de Roma. Ele assumiu o
comando em um período em que era necessário haver liderança.”
Depois que os cientistas estabeleceram
que as moedas são autênticas, eles alertaram os pesquisadores do Museu
Brukenthal, em Sibiu, na Transilvânia, que também possui uma moeda de
Esponsiano. Ela fazia parte do legado do barão Samuel von Brukenthal, o
governador da Habsburgo da Transilvânia.
O barão estava estudando a moeda
quando morreu — e reza a lenda que a última coisa que ele fez foi escrever uma
nota dizendo “genuína”.
Os especialistas do Museu Brukenthal
haviam classificado a moeda como uma falsificação histórica, assim como todo
mundo. Mas eles mudaram de ideia quando viram a pesquisa do Reino Unido.
A descoberta é de particular interesse
para a história da Transilvânia e da Romênia, de acordo com o gerente interino
do Museu Nacional Brukenthal, Alexandru Constantin Chituță.
“Se esses resultados forem aceitos pela comunidade científica, teremos o acréscimo de outra importante figura em nossa história”, diz ele.
As moedas estão em exibição no Museu
Hunterian, em Glasgow.