Moraes multa coligação de Bolsonaro em R$ 22,9 milhões após relatório do PL pedir anulação de votos sem indicar prova de fraude
Moraes multa coligação de Bolsonaro em R$ 22,9 milhões após relatório do PL pedir anulação de votos sem indicar prova de fraude
Presidente do TSE apontou litigância de má-fé por parte dos partidos e pediu que corregedoria eleitoral apure o caso; Despacho cita 'possível cometimento de crimes comuns e eleitorais com a finalidade de tumultuar o próprio regime democrático brasileiro'.
Por Márcio Falcão, TV Globo — Brasília 23/11/2022 20h27 Atualizado há 10 horas
O presidente
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, negou o pedido de
verificação extraordinária do resultado do segundo turno das eleições. O pedido
foi apresentado na terça-feira (22) pelo PL, partido do presidente Jair
Bolsonaro.
Moraes
considerou que a ação do partido não apresenta qualquer indício ou prova de
fraude que justifique a reavaliação de parte dos votos registrados pelas urnas.
O ministro
ainda condenou a coligação da campanha à reeleição de Bolsonaro a pagar uma
multa de quase R$ 23 milhões por litigância de má-fé — quando a Justiça é
acionada de forma irresponsável.
Moraes
determinou ainda:
o bloqueio e
a suspensão dos repasses do fundo partidário às siglas até que a multa seja
quitada;
a abertura
de um processo administrativo pela Corregedoria-Geral Eleitoral para apurar
“eventual desvio de finalidade na utilização da estrutura partidária,
inclusive de Fundo Partidário”;
o envio de
cópias do inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da
investigação sobre a atuação de uma suposta milícia digital para atacar a
democracia e as instituições.
Pedido
‘esdrúxulo’
A ação do
partido de Bolsonaro é baseada no relatório de uma consultoria privada que diz
que as urnas anteriores ao modelo 2020, que têm um número de série único,
deveriam apresentar um número individualizado. Segundo a auditoria, isso não
permitiria que esses equipamentos passassem por uma auditagem — o que é
desmentido por uma série de especialistas e entidades fiscalizadoras.
Na terça, ao receber o pedido do PL, Moraes, deu 24 horas para o partido entregar os dados completos da consultoria, inclusive do primeiro turno, já que ambos os turnos usaram as mesmas urnas.
Mas o
partido não incluiu o primeiro turno na auditoria — na prática, incluir o
primeiro turno levaria ao questionamento da eleição da bancada do PL: a maior
da Câmara.
Na decisão
desta quarta, Moraes classificou o pedido do PL de “esdrúxulo”,
“ilícito” e realizado de maneira inconsequente.
Moraes disse
que o partido atentou contra o Estado democrático de direito e usa o pedido
para incentivar movimentos criminosos e antidemocráticos que estão ocorrendo
nas estradas, inclusive com uso de violência.
O presidente
do TSE esclareceu ainda que é descabida a afirmação de que as urnas possuem o
mesmo número de identificação, o que impediria o rastreamento. Para Moraes,
esse argumento só pode ter sido levantado por ignorância — o que não parece
ser o caso, segundo Moraes –, ou má fé.
Moraes
afirmou que os argumentos do PL são absolutamente falsos, já que todas as urnas
utilizadas na eleições 2022 assinam digitalmente os resultados com chaves
privativas de cada equipamento. E que essas assinaturas são acompanhadas dos
certificados digitais únicos de cada urna. Portanto, a partir da assinatura
digital, é possível rastrear a origem dos arquivos.
O ministro
afirmou ainda que não faz sentido verificar os votos do segundo turno apenas
para presidente da República, porque é impossível dissociar um turno do outro,
sendo que os equipamentos foram usados nos dois turnos.