Novo Marco das Garantias pode gerar aumento do endividamento das famílias, avalia Idec
Novo Marco das Garantias pode gerar aumento do endividamento das famílias, avalia Idec
Projeto prevê que o mesmo imóvel possa ser usado como garantia em mais de uma operação. Texto será analisado nesta quarta pela Comissão de Assuntos Econômicos.
Por Ana Paula Castro, TV Globo — Brasília 05/07/2023 04h00 - Atualizado há 11 horas
O novo Marco
das Garantias, em discussão no Senado Federal, pode resultar em um aumento do
endividamento das famílias. Essa é a avaliação do Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor (Idec).
O projeto
deve ser discutido nesta quarta (5) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE),
após o relator, Weverton Rocha (PDT-MA), ter apresentado na terça mudanças no
relatório.
Encaminhado
ao Congresso em 2021, no governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL), o
novo marco prevê, entre outros pontos, que o mesmo bem (como um imóvel) possa
ser usado como garantia em mais de uma operação.
Exemplo: se
o bem for avaliado em R$ 200 mil e a dívida somar R$ 50 mil, será possível usar
os R$ 150 mil restantes do bem para dar em garantia em outros empréstimos.
Regra atual:
não é possível usar um mesmo bem em garantia em mais uma operação de crédito.
Embora tenha sido apresentado no governo anterior, o projeto tem o apoio da equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Está entre
as medidas anunciadas em abril pelo Ministério da Fazenda para estimular o
mercado de crédito.
“Os impactos
esperados com a implementação da medida são a ampliação do acesso ao crédito, a
redução das taxas de juros e a melhoria do ambiente de negócios, através de
maior segurança jurídica, aperfeiçoamento das regras e melhor utilização de
garantias”, argumentou a pasta na ocasião.
‘Risco’ para o consumidor
Para o Idec,
a utilização do mesmo bem como garantia em mais de uma operação pode trazer
“risco” ao consumidor e resultar em aumento do endividamento das famílias.
“Sem
educação financeira não há garantia, somente mais dívidas. O estímulo para o
uso do crédito com garantia de bens móveis e imóveis, sem informações e com o
apelo da redução da taxa de juros é um grande risco aos consumidores”, diz o
instituto.
Na avaliação
da entidade, o projeto não evidencia os critérios que deverão ser atendidos
para assegurar a concessão responsável do crédito.
“A promessa
de crédito fácil (…), oferecida sem embasamento na capacidade de pagamento e
planejamento, apenas definida pela garantia, pode representar a perda da casa,
do carro, do terreno, das joias, da moto e até do aparelho de celular, entre
outros bens”, avalia.
Regras mais claras
Para o
advogado especialista em direito tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV),
Leonardo Roesler, faltam regras mais claras para evitar conflitos futuros em
casos de a inadimplência comprometer o direito sobre o mesmo imóvel.
“Quando traz
possibilidade de tomada de crédito, tem que se preocupar com o potencial de
pagamento dessas dívidas. Facilita a tomada de crédito por um lado, mais
dinheiro circulando. Mas a curto prazo (…) potencial risco de aumento do
endividamento”, afirmou.
Questionado
sobre a possibilidade de endividamento das famílias diante do uso de um mesmo
bem em mais de uma operação, o Ministério da Fazenda não respondeu até a
publicação da reportagem.
Em nota, a
Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse que está “debruçada” sobre o
novo texto do relator Weverton Rocha (PDT-MA) e que tem contribuído com as
discussões.
“A Febraban entende que o novo marco precisa ter
instrumentos que maximizam as garantias, desburocratizem procedimentos e
confiram ao titular do bem (móvel e imóvel) maior e melhor manejo na sua
alocação, bem como ofereçam aos bancos maior efetividade na recuperação do
crédito e na redução da inadimplência”, diz.