Novo PAC deve triplicar investimentos em infraestrutura
Novo PAC deve triplicar investimentos em infraestrutura
Lançamento está marcado para sexta-feira, no Rio de Janeiro.
Publicado em 09/08/2023 - 07:13 Por Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil - Brasília
O governo
federal vai lançar na próxima sexta-feira (11) a terceira edição do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC). Com o desafio de focar em obras de
infraestrutura que promovam a sustentabilidade, o Novo PAC deve prever
investimentos públicos federais de R$ 240 bilhões para os próximos quatro anos
em áreas como transportes, energia, infraestrutura urbana, inclusão digital,
infraestrutura social inclusiva e água para todos. Outras áreas como defesa,
educação, ciência e tecnologia também devem estar incluídas no novo programa.
A
implementação do PAC deverá triplicar os investimentos públicos federais em
infraestrutura nos próximos anos. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC), o valor investido por ano no setor pelo governo federal deverá
saltar dos atuais R$ 20 bilhões para R$ 60 bilhões.
“É claro que
a gente torce para que isso aconteça. Mas triplicar o valor que a gente dispõe
atualmente não será tão fácil assim”, avalia Carlos Eduardo Lima Jorge,
presidente da Comissão de Infraestrutura da CBIC.
Segundo ele,
a retomada dos investimentos públicos e a previsão da inclusão de
empreendimentos de menor porte no PAC estão animando o setor de infraestrutura
do Brasil.
Além dos recursos do orçamento da União, o novo PAC contará com recursos das estatais, financiamento dos bancos públicos e do setor privado, por meio de concessões e parcerias público-privadas. A previsão é que o total investido chegue a R$ 1 trilhão em quatro anos, incluindo os investimentos da Petrobras.
A primeira
etapa do PAC será composta por empreendimentos propostos pelos ministérios e
pelos governadores. Uma segunda etapa iniciará em setembro, com uma seleção
pública para estados e municípios.
Os
principais objetivos do novo PAC são incrementar os investimentos, garantir a
infraestrutura econômica, social e urbana, melhorar a competitividade e gerar
emprego de qualidade.
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva diz que o PAC será uma nova política de
desenvolvimento de investimento em obras de infraestrutura e desenvolvimento
industrial.
“Vai ser um
grande programa de investimento e, combinado com a política de inclusão que já
colocamos em prática, acho que vamos voltar a surpreender os analistas
econômicos do FMI [Fundo Monetário Internacional], que vão se enganar todas as
vezes que nivelaram por baixo as perspectivas de crescimento econômico do
Brasil”, disse o presidente Lula, em conversa com correspondentes estrangeiros
na última semana.
A cerimônia
de lançamento do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está marcada
para a próxima sexta-feira (11), às 10h, no Theatro Municipal do Rio de
Janeiro.
Histórico
A primeira
versão do PAC foi anunciada pelo presidente Lula em janeiro de 2007, com o
objetivo de superar os gargalos de infraestrutura do país. Primeiramente, o
programa previu investimentos de R$ 503,9 bilhões em ações de infraestrutura
nas áreas de transporte, energia, saneamento, habitação e recursos hídricos,
entre 2007 e 2010.
Uma segunda
etapa do programa, o PAC 2, foi anunciada em 2011 pela então presidenta Dilma
Rousseff, com investimentos previstos em R$ 708 bilhões em ações de
infraestrutura social e urbana.
Desafios
Um dos
principais desafios do novo PAC será evitar os mesmos erros das edições
anteriores, que resultaram em descontinuidade e paralisação de obras.
“As
experiências do passado têm que ser levadas em conta agora. Por exemplo, na
assinatura de convênios com prefeituras, a gente espera que as regras estejam
bem definidas, que haja uma projeção para frente, quais serão as contrapartidas
dos municípios. Há uma grande preocupação de aproveitar o que deu certo e o que
deu errado no passado para não repetir o erro, a expectativa toda é essa”, diz
o representante da CBIC.
O Tribunal
de Contas da União (TCU) aponta que, no final de 2022, o país tinha mais de 8,6
mil obras paralisadas, o que representa cerca de 38,5% dos contratos pagos com
recursos da União. Segundo o TCU, o mau planejamento dos empreendimentos é o
principal fator de paralisação das obras.
Social e sustentabilidade
Além de
incluir investimentos em áreas como transporte, infraestrutura e saneamento
básico, o PAC terá como novidade o incentivo a projetos de geração de energia
limpa. “Vamos anunciar muitos investimentos na questão energética, na energia
eólica, solar, biodiesel, etanol, hidrogênio verde, e tudo isso vamos fazer na
perspectiva de produzir energia mais barata para o povo brasileiro”, explica o
presidente Lula.
O PAC prevê
uma transição ecológica, com incentivos ao uso de combustíveis de baixa emissão
de carbono, o uso de materiais sustentáveis no setor de construção civil,
incentivo para a gestão de resíduos e logística sustentável.
O ministro
da Casa Civil, Rui Costa, aponta o novo PAC como a grande oportunidade de o
Brasil receber investimentos internacionais, promovendo obras alicerçadas na
sustentabilidade ambiental.
“O Brasil
quer voltar a crescer, promover inclusão social, tendo como pilar central a
sustentabilidade e o cuidado com o meio ambiente”, afirmou Rui Costa.
Para o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o novo Programa de Aceleração do
Crescimento será um “PAC verde” e vai representar um novo ciclo de desenvolvimento
sustentável no país.
“Precisamos
destravar o investimento público com responsabilidade fiscal, no âmbito do novo
marco fiscal que vai ser aprovado nas próximas semanas pela Câmara dos
Deputados em caráter terminativo. Isso repactua as relações federativas de
maneira que presidente da república, governadores e prefeitos se tornam
parceiros para que a gente alcance os objetivos de gerar emprego e renda e
terminar mais de 14 mil obras paradas que estão sendo retomadas, como escolas,
creches, postos de saúde e hospitais. Isso sem falar em toda a infraestrutura
do país que ficou muito prejudicada por falta de investimentos.”
A CBIC
também aposta que o novo PAC deverá ter um viés social mais forte que os dois
anteriores, especialmente porque a escolha dos projetos contou com a
participação de governadores e prefeitos. “Acho que boa parte delas é
relacionada à mobilidade urbana, que é muito deficiente ainda no país, mas
deverá ter muita coisa em infraestrutura social”, diz Jorge.
Gestão de riscos
Os projetos
de infraestrutura que serão incluídos no PAC devem vir acompanhados de
instrumentos de gestão de riscos e impactos sociais e ambientais a longo prazo,
avalia o Instituto Socioambiental (ISA).
“Estamos
aguardando o lançamento e também o que vai acompanhar esse lançamento. Qual
será o acompanhamento e a gestão de risco e de impactos que o governo vai
realizar para acompanhar esses empreendimentos?”, questiona a economista e
assessora do ISA, Mariel Nakane.
A entidade
não governamental elaborou uma nota técnica com um conjunto de critérios para a
análise e classificação de empreendimentos de infraestrutura do governo, que
foi encaminhado à Casa Civil e a outros ministérios setoriais envolvidos na
elaboração do PAC. Segundo o estudo,
também assinado pelo Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas
(Ibraop), Transparência Internacional – Brasil, Instituto de Energia e Meio
Ambiente (IEMA) e GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental, o planejamento
das obras deve evitar intervenções que levem ao desperdício de recursos
públicos, práticas ilegais e atividades que causem danos socioambientais,
inclusive desmatamento e violações dos direitos de comunidades locais.
Para o
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), as obras previstas no PAC não
podem deixar de lado os direitos das populações que vivem nos locais dos
empreendimentos.
“Consideramos
que o crescimento econômico é importante, as grandes obras também. Mas é
preciso dar um salto de qualidade nesse sentido, isso não pode servir para
legitimar a retirada de direitos de populações e comunidades. O desenvolvimento
econômico, a soberania nacional e o interesse público não são contraditórios
com o reconhecimento e a garantia dos direitos da população que vivem nos
territórios em que os impactos são os mais graves”, diz Robson Formica, membro
da Coordenação Nacional do MAB.
Edição:
Lílian Beraldo