Novo PAC, melhora na economia, meio ambiente e acordo Mercosul-UE: os temas de Lula em Bruxelas
Novo PAC, melhora na economia, meio ambiente e acordo Mercosul-UE: os temas de Lula em Bruxelas
Presidente falou a empresários nesta segunda, na Bélgica, e deve discursar a chefes de Estado e governo à tarde. Lula disse esperar conclusão de acordo comercial ainda este ano.
Por Mateus Rodrigues, g1 — Brasília 17/07/2023 08h03 - Atualizado há 7 horas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) discursou a empresários latino-americanos e europeus nesta segunda-feira (17)
em Bruxelas, na Bélgica.
O fórum empresarial acontece horas
antes da abertura de uma cúpula na mesma cidade que reunirá representantes dos
países da União Europeia e da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e
Caribenhos (Celac), da qual Lula também participa.
No discurso, Lula citou os desafios
recentes da pandemia de Covid-19, da mudança do clima, da guerra na Ucrânia e
do que chamou de “crise da democracia”, e disse que “cabe a
governantes, empresários e trabalhadores reconstituir o caminho da democracia”.
Veja abaixo os seis temas do discurso
de Lula aos empresários na manhã desta segunda:
– Acordo Mercosul-União Europeia
– Compras governamentais
– Meio ambiente
– Novo PAC
– Retomada da economia
– Integração regional
Acordo Mercosul-UE
Lula citou, logo na primeira parte do
discurso, a necessidade de conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia,
negociado desde 1999 e em fase de revisão.
O avanço nessas negociações é tido
como a principal missão do Brasil na presidência rotativa do Mercosul – posto
assumido por Lula no início do mês.
“Um acordo entre Mercosul e União
Europeia equilibrado, que pretendemos concluir ainda este ano, abrirá novos
horizontes. Queremos um acordo que preserve a capacidade das partes de
responder aos desafios presentes e futuros”, declarou Lula.
Compras governamentais
Logo em seguida, Lula marcou posição
no principal tema que, para o governo brasileiro, precisa ser revisto: as
regras para compras governamentais dos países que aderirem ao acordo.
No formato atual, o acordo Mercosul-UE
prevê que empresas sediadas em um bloco participem, em pé de igualdade, de
licitações nos países do bloco oposto.
Na prática, isso dificulta que os
governos deem prioridade às empresas locais, na hora de contratar um produto ou
serviço, para estimular o mercado interno.
Lula é contra essa regra – e diz que o
Brasil aposta nas compras públicas para estimular a indústria local.
“As compras governamentais são um
instrumento vital para articular investimentos em infraestrutura e sustentar
nossa política industrial. EUA e União Europeia saíram na frente e já adotam
políticas industriais ambiciosas baseadas em compras públicas e conteúdo
nacional”, disse o presidente.
“O Brasil tem um grande mercado
interno de 203 milhões de pessoas, com enorme capacidade de consumo ainda
reprimida, que vai requerer a ampliação de investimentos em bens duráveis,
insumos e serviços associados”, continuou.
Meio ambiente
Em outro momento do discurso, Lula também tratou da proteção ambiental e das mudanças climáticas – ponto que também tem atrasado a conclusão do acordo Mercosul-UE, mas por ressalvas europeias.
“Nos mandatos anteriores,
reduzimos o desmatamento em 80%. Dessa vez assumimos o compromisso de eliminar
o desmatamento na Amazônia até 2030, e já nesse primeiro semestre o reduzimos
em 34% em relação ao ano passado”, citou.
Lula também disse que o governo
lançará as “bases para a reindustrialização do país com empreendimentos
menos poluentes, maior densidade tecnológica e geração de empregos verdes e
qualidade”, sem definir prazo ou detalhar o plano.
Em entrevista ao podcast O Assunto na
última semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo
prepara um “Plano de Transição Ecológica” e que a “questão
socioambiental” será a marca do governo atual.
“O Brasil voltou ao cenário
internacional para contribuir no enfrentamento dos desafios do nosso planeta,
como a crise das mudanças climáticas e o aumento das desigualdades. Vamos
provar, como já fizemos no passado, que é possível produzir e crescer de forma
sustentável e eficiente”, disse Lula.
Novo PAC
No discurso a empresários, Lula também
antecipou alguns detalhes do novo programa de investimentos públicos que o
governo federal pretende lançar nas próximas semanas – e que vem sendo chamado,
dentro e fora do governo, de “Novo PAC”.
Sem fazer referência à sigla, Lula
disse que o plano prevê retomada de obras paralisadas, aceleração dos projetos
em andamento e seleção de novas iniciativas.
“Promoveremos a modernização de
nossa infraestrutura logística, com investimentos em rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos e aeroportos”, disse.
Segundo o presidente, o programa dará
prioridade à geração de energias renováveis e terá foco em áreas como
mobilidade urbana, saneamento, prevenção de desastres e financiamento
habitacional.
“Estabeleceremos parcerias entre
o governo e os empresários em todas essas áreas, sob a forma de concessões,
Parcerias Público-Privadas e contratações diretas”, enumerou.
Retomada da economia
Logo após citar o plano de
investimentos públicos, Lula fez uma ressalva para tranquilizar os empresários
e o mercado. Disse que o Brasil está sendo “reconstruído” sem abdicar
de “compromissos com os fundamentos macroeconômicos.
“O controle da inflação e o
equilíbrio das contas públicas são requisitos essenciais para assegurar a
estabilidade, base sólida para a expansão econômica e o progresso social. Com a
reforma tributária em curso, estamos simplificando a arrecadação de tributos e
tornando a economia mais eficiente”, declarou.
A reforma tributária citada por Lula foi aprovada neste mês pela Câmara e será analisada pelo Senado a partir de agosto. Veja aqui os principais pontos da proposta.
Lula também falou sobre a intenção de
expandir a oferta de crédito no país para estimular a economia. Diferentemente
de ocasiões anteriores, no entanto, não fez menção direta à taxa de juros e ao
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com quem trava disputa
pública desde janeiro.
“Possuímos um sistema financeiro
robusto, que permitirá a expansão sustentável do crédito ao longo dos próximos
anos. Nossas elevadas reservas internacionais, hoje na casa de 343 bilhões de
dólares, proporcionam um seguro colchão frente a eventuais volatilidades
externas”, disse Lula.
Integração regional
O presidente também incluiu no
discurso menções rápidas a projetos de integração regional na América Latina,
como o corredor bioceânico que pretende ligar o Centro-Oeste brasileiro aos
portos chilenos para facilitar o escoamento da produção pelo Oceano Pacífico.
“Só cresceremos, de forma
sustentável, com a integração ao nosso entorno regional”, disse Lula no
evento.
Lula também mencionou a reunião da
“Cúpula da Amazônia”, articulada desde janeiro e prevista para agosto
deste ano.
“Ao sediar a reunião de
presidentes dos países amazônicos em agosto próximo, procuramos articular
iniciativas comuns para a proteção e o desenvolvimento sustentável desse bioma
com outros sete países da América do Sul”, citou.