Número de casos de câncer entre jovens cresce 79% em 30 anos
Número de casos de câncer entre jovens cresce 79% em 30 anos
Pesquisadores atribuem aumento a obesidade, álcool, tabagismo e dietas ricas em carne e sal; urgência em medidas prevenção e tratamento.
Por Roberto Peixoto, g1
O número de
casos de câncer entre pessoas com menos de 50 anos aumentou 79% nas últimas
três décadas. Isso é o que revela um estudo publicado na revista científica
“BMJ Oncology” nesta semana.
O trabalho,
realizado por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, e da
Universidade de Zhejiang, na China, analisou dados de 29 tipos de câncer em 204
países e regiões, incluindo o Brasil.
De acordo
com os dados, em 2019 foram registrados um total de 3,26 milhões de novos casos
de câncer em pessoas com menos de 50 anos. Já em 1990, essa taxa estava próxima
de 1,8 milhão de casos.
E as mortes
também aumentaram. Mais de 1 milhão de pessoas com menos de 50 anos morreram de
câncer em 2019, um aumento de quase 28% em relação a 1990.
Após o
câncer de mama, os tipos que mais causaram mortes e impactaram negativamente a
saúde foram os de traqueia, pulmão, estômago e intestino, com os maiores
aumentos nas taxas de morte entre pessoas com câncer de rim ou ovário.
Mas o que explica tudo isso? Os
pesquisadores atribuem o aumento do número de casos de câncer entre jovens a
uma combinação de fatores, incluindo:
Obesidade: já que o excesso de peso
está associado ao aumento do risco de câncer de mama, intestino, pâncreas,
esôfago e cânceres ginecológicos.
Álcool: visto que o consumo de álcool
está associado ao aumento do risco de câncer de boca, laringe, faringe,
esôfago, fígado, mama e intestino.
Tabagismo: fumar é o principal fator
de risco para câncer de pulmão, mas também está associado ao aumento do risco
de câncer de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, bexiga, rim, colo do
útero e leucemia.
Fora isso,
os fatores genéticos provavelmente desempenham um papel nesse aumento, mas na
pesquisa os autores enfatizam um ponto ainda mais importante: dietas ricas em
carne vermelha e sal, com baixa ingestão de frutas e leite também são um
indicativo de risco.
Por isso,
com base nas tendências observadas nas últimas três décadas, os pesquisadores
estimam ainda que o número global de novos casos de câncer de início precoce e
as mortes associadas aumentarão em mais 31% e 21%, respectivamente, até 2030, com
pessoas na faixa dos 40 anos sendo as mais afetadas.
E as taxas
mais altas de câncer de início precoce em 2019 foram observadas na América do
Norte, Australásia e Europa Ocidental. No entanto, países de baixa a média
renda também foram afetados, com as maiores taxas de morte entre os menores de
50 anos na Oceania, Europa Oriental e Ásia Central.
Além disso,
em países de baixa a média renda, o câncer de início precoce teve um impacto
muito maior nas mulheres do que nos homens, tanto em termos de mortes quanto de
consequências para a saúde.
No vídeo
abaixo o Bem Estar explica os diferentes tipos de câncer de pele.
Tipos de câncer mais recorrentes
No estudo,
os autores ressaltam ainda que o câncer de mama foi o responsável pelo maior
número desses casos de câncer em jovens e pelas maiores taxas de mortalidade,
com 13,7 e 3,5 casos a cada 100 mil habitantes, respectivamente.
No entanto,
os casos de câncer de traqueia e próstata em jovens também aumentaram mais
rapidamente, com mudanças percentuais anuais estimadas de 2,28% e 2,23%,
respectivamente.
Num editorial publicado junto com a pesquisa, os autores reconheceram, porém, algumas limitações em seus achados, principalmente questões relacionadas a qualidade variável dos dados de registro de câncer em diferentes países, que pode ter levado a subnotificações e subdiagnósticos.
No entanto,
os médicos do Centro de Saúde Pública da Universidade Queen’s de Belfast
destacam que os resultados desafiam as percepções convencionais sobre o tipo de
câncer que afeta os grupos mais jovens.
Eles apontam
que, embora a compreensão completa das razões por trás dessas tendências ainda
seja incerta, é provável que fatores relacionados ao estilo de vida estejam
desempenhando um papel significativo.
Além disso,
áreas emergentes de pesquisa, como o uso de antibióticos, o estudo do
microbioma intestinal, a análise da poluição do ar ao ar livre e a investigação
sobre exposições precoces ao ambiente, estão sendo exploradas.
Por isso, os especialistas ressaltam que são “urgentemente necessárias” medidas de prevenção e detecção precoce, juntamente com a identificação de estratégias de tratamento ideais para cânceres de início precoce, que devem adotar uma abordagem completa, levando em consideração as necessidades específicas de suporte e cuidados dos pacientes mais jovens.