Ocupação de Israel nos territórios palestinos não pode ser aceita nem normalizada pela comunidade internacional, diz Brasil em Haia
Ocupação de Israel nos territórios palestinos não pode ser aceita nem normalizada pela comunidade internacional, diz Brasil em Haia
Corte Internacional realiza há um dia uma série de audiências históricas. Ao todo, 52 Estados defenderam suas posições sobre os 56 anos de ocupação israelense dos territórios palestinos e sobre as consequências do conflito.
Por g1
O governo brasileiro afirmou nesta terça-feira (20) que “não pode ser normalizada” pela comunidade internacional a ocupação por Israel de territórios na Palestina. A declaração foi feita na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, na Holanda, o maior tribunal de justiça das Nações Unidas.
“A
ocupação de Israel dos Territórios Palestinos, persistente desde 1967 em
violação ao direito internacional e a numerosas resoluções da Assembleia Geral
da ONU e do Conselho de Segurança, não pode ser aceita, muito menos normalizada
pela comunidade internacional”, disse a diplomata Maria Clara de Paula
Tusco, representante do governo brasileiro no tribunal.
Ela prosseguiu:
“Os
eventos trágicos dessa data e as operações militares desproporcionais e
indiscriminadas que se seguiram, no entanto, deixam claro que a mera gestão do
conflito não pode ser considerada uma opção, e uma solução de dois estados, com
um Estado palestino economicamente viável convivendo ao lado de Israel, é a
única maneira de proporcionar paz e segurança para Israel e os
palestinos”, disse a representante brasileira em Haia.
A Corte
Internacional realiza há um dia uma série de audiências históricas para que 52
Estados defenderam suas posições sobre os 56 anos de ocupação israelense dos
territórios palestinos e sobre as consequências do conflito.
Apesar de
ser um evento já aguardado, o discurso do Brasil era esperado, pois, há dois
dias, o presidente Lula entrou em conflitos diplomáticos com Israel após
comparar ações do país na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus na Segunda
Guerra.
No final da
semana, Lula classificou como “genocídio” e “chacina” a
resposta de Israel na Faixa de Gaza aos ataques terroristas promovidos pelo
Hamas no início de outubro. Ele comparou a ação israelense ao extermínio de
milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Adolf Hitler no século passado.
“O que
está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum
outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os
judeus”, disse Lula. O petista fez a afirmação após ser questionado sobre
a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU
para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês).
Após o
ocorrido, Israel considerou que Lula é uma ‘persona non grata’. O termo é um
instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um
representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo. A nomenclatura foi
descrita no artigo 9 da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas.
Palestina X Israel
Na
segunda-feira (19), representantes palestinos pediram à mais alta corte da ONU
que declarasse ilegal a ocupação de seu território por Israel, dizendo também
que o parecer consultivo da corte poderia contribuir para uma solução de paz
duradoura.
O chanceler
palestino Riyad al-Maliki acusou Israel de submeter os palestinos a décadas de
discriminação e apartheid — acusações que Israel rejeita.
“A
única solução consistente com a lei internacional é o fim imediato,
incondicional e total dessa ocupação ilegal”, disse ele.
Israel não
está participando das audiências, mas enviou uma declaração por escrito,
dizendo que um parecer consultivo seria prejudicial para a obtenção de um
acordo negociado com os palestinos.
Decisões da Corte
A Corte
Internacional de Justiça (CIJ) decidiu no final de janeiro que o governo de
Israel deveria tomar todas as medidas cabíveis para “prevenir um
genocídio” na Faixa de Gaza. A decisão foi o primeiro julgamento
internacional sobre a guerra entre Israel e o Hamas.
A sentença
foi uma resposta ao processo aberto pela África do Sul acusando Israel de estar
cometendo genocídio com os bombardeios na Faixa de Gaza. Mais de 24 mil pessoas
já morreram no conflito, que começou no início de outubro de 2023.
Nesta
terça-feira (20), a África do Sul, que abriu o segundo dia de audiência, pediu
que a Corte emita um parecer jurídico de que a ocupação israelense nos
territórios palestinos é ilegal, argumentando que isso ajudaria nos esforços
para chegar a um acordo de trégua.
Desde sua fundação em 1946, a Corte Internacional emitiu 30 pareceres jurídicos e seus juízes discutiram mais de uma vez sobre ocupações territoriais. Por exemplo, entre a República Democrática do Congo (RDC) e Uganda, em 2005.