Operação contra policiais suspeitos de envolvimento com o PCC: quem são os presos, do que são acusados e o que foi apreendido
Operação contra policiais suspeitos de envolvimento com o PCC: quem são os presos, do que são acusados e o que foi apreendido
Agentes estariam envolvidos na manipulação e vazamento de investigações policiais, venda de proteção a criminosos e corrupção para beneficiar um esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Por César Tralli, Bruno Tavares, Isabela Leite, Léo Arcoverde, TV Globo e GloboNews — São Paulo
Uma operação conjunta entre a Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) resultou na prisão temporária de sete pessoas na manhã desta terça-feira (17). Dentre elas, um delegado e três policiais civis, suspeitos de atuarem para favorecer a facção criminosa PCC.
Eles foram
delatados ao MP por Vinícius Gritzbach, empresário executado no Aeroporto
Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em 8 de novembro.
Os agentes
estariam envolvidos na manipulação e no vazamento de investigações policiais,
venda de proteção a criminosos e corrupção para beneficiar um esquema de
lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Os
investigadores da PF acreditam que a organização criminosa tenha movimentado
mais de R$ 100 milhões com o apoio dos agentes públicos, desde 2018.
Alvos da
operação
Eduardo
Lopes Monteiro — investigador de polícia preso. Segundo a investigação, ele fez
menção aos relógios de Vinícius Gritzbach em mensagens telefônicas e teria
extorquido outros membros do PCC para evitar que fossem presos. Ele também pode
ter se apropriado de um “sítio de origem criminosa”;
Fábio Baena
Martin — delegado de polícia preso. Ele foi acusado por Gritzbach, em sua
delação premiada, de extorqui-lo na época em que o delator era investigado pela
morte de dois integrantes do PCC. Segundo os investigadores, ele também estaria
envolvido na subtração dos relógios de luxo e na apropriação ilegal do sítio,
junto a Eduardo Monteiro;
Marcelo
Roberto Ruggieri — investigador de polícia preso. As investigações apontam que
ele possui “estreitas ligações com criminosos perigosos do PCC”,
tendo falsificado documento e possuindo uma situação financeira incompatível
com os salários de policial civil;
Marcelo
Marques de Souza — investigador de polícia preso. Conhecido como
“Bombom”, ele também possui um patrimônio incompatível com o salário
de investigador, além de movimentações financeiras suspeitas. Assim como Baena,
também foi mencionado na delação de Vinícius Gritzbach;
Ahmed Hassan
Saleh — advogado preso. Conhecido como “Mudi”, ele teria ligação com
casos de lavagem de dinheiro envolvendo a empresa Upbus. Segundo as
investigações, ele teria recebido R$ 400 mil do “alto escalão do PCC”
para influenciar as eleições municipais de São Paulo. Ele também foi mencionado
por Gritzbach em sua delação premiada;
Robinson
Granger de Moura — empresário preso. Conhecido como “Molly”, ele é
concunhado de Marcelo Ruggieri e estaria lavando dinheiro para o crime
organizado. Segundo o MP, Robinson seria “um dos principais articuladores
das ações ilícitas” do PCC e pode estar envolvido com tráfico de drogas;
Ademir
Pereira de Andrade — empresário preso. Cliente antigo de uma construtora na
qual Gritzbach trabalhou, ele estaria envolvido com lavagem de dinheiro,
atuando como “agente financeiro da organização criminosa”;
Rogério de
Almeida Felício — agente de telecomunicações da polícia foragido. Segundo os
investigadores, ele também foi citado na delação de Gritzbach e estaria
envolvido na subtração dos relógios de luxo. Ele também trabalhava como
segurança do cantor Gusttavo Lima e, nas redes sociais, aparecia em diversas
publicações ao lado do delegado Da Cunha.
Os sete
presos foram levados inicialmente para a carceragem da PF em São Paulo. Nesta
quarta-feira (18), eles passarão por audiência de custódia na Justiça e, caso
as prisões sejam mantidas, os agentes seguirão para o presídio da Polícia
Civil.
Já os demais
alvos detidos deverão ir para uma unidade prisional comum.
Os
investigados, de acordo com suas condutas, vão responder pelos crimes
organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais. As
penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão.
Apreensões
Na manhã
desta terça-feira (17), foram apreendidas armas, munições, joias, dinheiro em
espécie, um carro de luxo e até uma lancha.
Somente na
casa de Marcelo Marques, a Polícia Federal apreendeu R$ 620 mil, US$ 1 mil e
1,5 mil euros, em dinheiro vivo.
Defesa
dos investigados
Em nota, o
advogado Daniel Bialski, que faz a defesa de Eduardo Monteiro e Fábio Baena,
disse que considera a prisão uma “arbitrariedade flagrante”. Afirma
ainda que os fatos que embasariam a prisão “já foram investigados e
arquivados pela Justiça, por recomendação do próprio Ministério Público”.
E acrescentou que “ambos compareceram espontaneamente para serem ouvidos e
jamais causaram qualquer embaraço às repetidas investigações”.
A defesa de Marcelo Ruggeri disse que ainda não teve acesso aos autos do processo, mas que considera a prisão prematura.
A defesa de
Rogério de Almeida Felício, que está foragido, afirmou que aguardará a
disponibilização integral dos autos processuais para analisar o caso e tomar as
medidas legais cabíveis. Disse ainda que seu cliente nunca se envolveu com o
crime organizado e que confia na Justiça para comprovar a inocência dele.
Procurada, a
assessoria de imprensa de Gusttavo Lima informou que Rogério prestou serviço em
alguns shows como integrante da equipe de segurança do artista e disse que
espera o devido esclarecimento dos fatos perante às autoridades.
A defesa de
Robinson Granger de Moura afirmou que o cliente “é pessoa de conduta
ilibada, prestou todos os esclarecimentos que lhe competia a cerca do caso em
questão, na oportunidade em que se apresentou a Justiça depois do Decreto de
sua Prisão Temporária em 2022”. Informou também que, “naquela
oportunidade, ele se apresentou espontaneamente à Justiça e desta feita não foi
intimado a prestar qualquer esclarecimento antes da decretação de sua Prisão
Temportis”.
A TV Globo e
a GloboNews tentam contato com as defesas de Marcelo Marques, Ahmed Saleh e
Ademir Pereira.
Nota da
SSP
A Secretaria
da Segurança Pública (SSP-SP) informou, por meio de nota, que a Corregedoria da
Polícia Civil acompanha os desdobramentos da operação e se coloca à disposição
para colaborar com as investigações.
“A Polícia Civil é uma instituição legalista e não compactua com desvio de conduta. Comprovada qualquer irregularidade, as medidas serão adotadas”, diz a nota.