Orçamento 2024: governo estima que arrecadação atingirá maior nível em 14 anos
Orçamento 2024: governo estima que arrecadação atingirá maior nível em 14 anos
Texto enviado ao Congresso prevê alta de R$ 282 bilhões e eleva receitas para 19,2% do PIB. Equipe econômica anunciou uma série de medidas para tentar zerar o rombo nas contas públicas.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília
O governo
federal estima que a arrecadação do governo atingirá, em 2024, o maior patamar
em 14 anos – ou seja, desde o fim do segundo mandato do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em 2010.
Essa
comparação leva em conta a receita corrente líquida – o que sobra da
arrecadação após as transferências a estados e municípios e pode ser usado pelo
governo federal.
De acordo
com a projeção incluída na proposta do Orçamento de 2024, já enviada pelo
Ministério da Fazenda ao Congresso, as receitas líquidas deverão atingir 19,2%
do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024.
Em valores
correntes, a estimativa do governo é de que a arrecadação líquida atingirá R$
2,19 trilhões no ano que vem, contra R$ 1,90 trilhão em 2023 (dado revisado).
O aumento
projetado de um ano para o outro é de R$ 282 bilhões – cerca de 15% a mais que
o arrecadado em 2023.
Para uma
comparação histórica, no entanto, especialistas preferem usar um outro
indicador: a proporção entre a arrecadação e o Produto Interno Bruto (PIB, soma
das riquezas produzidas pelo país em um ano).
Além de ser
o maior nível em 14 anos, a arrecadação líquida projetada para 2024 também
será, se confirmada, a segunda maior da história, perdendo apenas para o
recorde de 20,2% do PIB em 2010.
E ficará bem
acima da média registrada entre 1997 e 2022 (anos já fechados) – que é de 17,8%
do PIB.
O aumento da
arrecadação líquida, segundo a equipe econômica, é uma necessidade para
reequilibrar o orçamento.
No último
ano, o governo eleito aprovou a PEC da transição, que elevou as despesas em
mais de R$ 160 bilhões em 2023 para aumentar o benefício do Bolsa Família a R$
600, recompor o orçamento de áreas sociais, como saúde e educação, e
impulsionar investimentos.
O arcabouço
fiscal, aprovado em agosto deste ano, tornou essa alta de despesas da PEC da
transição permanente.
Com a alta
de gastos, as contas públicas registraram uma piora de mais de R$ 200 bilhões
nos sete primeiros meses deste ano.
Com o
princípio de que o orçamento seja equilibrado (sem déficit), o governo projeta
que as despesas totais do governo somarão R$ 2,19 trilhões – o mesmo patamar da
receita.
Com isso, a
relação despesa x PIB também ficaria em 19,2%. Veja a série histórica para essa
comparação
O gasto
total projetado para 2024 está acima da média de 1997 e 2022 (anos fechados)
que foi de 17,4% do PIB, segundo dados do Tesouro Nacional.
Medidas para aumentar a arrecadação
A equipe
econômica anunciou na semana passada que buscará implementar medidas que elevem
a arrecadação em R$ 168 bilhões no ano de 2024.
Desse total,
porém, somente R$ 124 bilhões ficarão com o governo federal, informou a
ministra do Planejamento, Simone Tebet. O restante será repassado aos estados e
municípios por meio de transferências constitucionais.
Entre as
ações para impulsionar as receitas, estão a tributação de “offshores”
no exterior e de fundo exclusivos, anunciadas recentemente.
O objetivo
das medidas de incremento da arrecadação é buscar um déficit zero nas contas do
governo, objetivo que consta na proposta de orçamento de 2024 – que consta no
arcabouço fiscal, a nova regra para as contas públicas.
Porém, a
lista para incrementar a arrecadação também conta com medidas anunciadas e
contabilizadas anteriormente no decorrer deste ano, como a retomada do voto de
qualidade no Carf, colegiado responsável pelo julgamento de recursos de
empresas multadas pela Receita Federal.
Algumas delas são fruto de decisões da Justiça, sobre as quais os contribuintes seguem aguardando esclarecimentos ou contestando judicialmente, além da taxação de encomendas internacionais.
Apesar do
anúncio de medidas de aumento de receita, economistas têm criticado a ausência
de ações mais concretas por parte da área econômica para cortar gastos
públicos.
Haddad fala em fim de benefícios
Embora o
governo esteja prevendo elevar a receita líquida na proporção com o PIB, o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dito que o objetivo do governo não é
aumentar a carga tributária.
Segundo ele,
as ações visam acabar com benefícios concedidos a alguns setores e segmentos da
sociedade no passado e, com isso, financiar o aumento de gastos sociais
promovido pelo governo.
Em março
deste ano, Haddad afirmou que o governo federal não pretende criar novos
tributos ou aumentar a alíquota dos impostos existentes para a população em
geral.
“Se por
carga tributária se entende criação de novos tributos ou aumento de alíquota
dos tributos existentes, a resposta é: não está no nosso horizonte. Não estamos
pensando em CPMF, não estamos pensando em acabar com Simples, não estamos
pensando em reonerar a folha de pagamentos”, declarou o ministro, naquela
ocasião.
A concepção
da atual equipe econômica sobre o aumento de arrecadação contrasta com a visão
do antigo ocupante da pasta, o ministro Paulo Guedes – que chefiou o Ministério
da Economia nos últimos quatro anos no governo Jair Bolsonaro.
Guedes pregava a diminuição do Estado brasileiro – por meio do mecanismo do teto de gastos (que já perdeu a validade) –, e a redução de impostos para aumentar a competitividade do setor produtivo.