Orçamento do Farmácia Popular para 2023 está defasado em quase R$ 1,8 bilhão, diz instituto
Orçamento do Farmácia Popular para 2023 está defasado em quase R$ 1,8 bilhão, diz instituto
Proposta orçamentária de 2023 previu R$ 1 bi para o programa; Para o Instituto Brasileiro de Saúde e Assistência Farmacêutica, se não houver mais investimento, pode haver queda no número de pessoas atendidas.
Por Bianca Lima, Jéssica Sant’Ana e Ana Paula Castro, GloboNews, g1 e TV Globo — Brasília 22/11/2022 04h00 Atualizado há 3 horas
O orçamento
do programa Farmácia Popular para 2023 está defasado em quase R$ 1,8 bilhão,
segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Saúde e Assistência Farmacêutica
(Ibsfarma), também chamado de “Cuida Brasil”.
Esse é o
valor que o instituto defende que seja recomposto ao orçamento do programa para
recuperar o nível de gastos anteriormente praticado.
Para 2023, a
proposta orçamentária previu R$ 1,018 bilhão para o Farmácia Popular,
considerando os recursos destinados para o sistema de gratuidade e também para
a modalidade de copagamento, em que o governo subsidia parte do preço do
remédio e o paciente paga outra parte.
É o menor
valor previsto para o programa na série histórica do Ibsfarma, que começa em
2013. Os dados são em valores correntes (sem atualização pela inflação).
Queda no
número de atendimentos
No ano
passado, o programa Farmácia Popular atendeu cerca de 20 milhões de pessoas.
Foram quase 9 milhões de atendimentos a menos do que o número registrado em
2015 – ano com o maior volume de recursos destinados às modalidades com e sem
coparticipação.
De acordo
com o Cuida Brasil, a queda do número de pessoas atendidas está relacionada com
a redução de investimento ao longo dos anos.
“O projeto
Farmácia Popular do Brasil vem enfrentando, desde 2017, a diminuição dos
recursos destinados a ele. Por consequência, a diminuição de postos de
atendimento à população e a queda da quantidade de beneficiários vem prejudicando
a iniciativa”, explica o Ibsfarma.
Na avaliação
de Gustavo Pires, secretário-executivo do Cuida Brasil, o cenário pode ser
ainda pior no próximo ano se o orçamento do programa não for recomposto.
“Se a
gente ficar com R$ 1 bilhão, que foi colocado [no Orçamento] pro ano que vem, a
gente vai ter de reduzir mais da metade das pessoas atendidas”, explicou.
Defasagem
por modalidade do programa
Segundo o
Ibsfarma, a defasagem orçamentária no Farmácia Popular somente na modalidade
gratuidade, em que os remédios são disponibilizados sem custo aos cidadãos, é
de R$ 1,4 bilhão para 2023.
“Esses
recursos podem impor aos usuários do programa a indisponibilidade de
medicamentos importantes, como os voltados ao tratamento de diabetes, asma e
hipertensão”, diz o instituto em nota.
Já na modalidade de copagamento, em que o governo subsidia parte do preço do remédio e o paciente paga outra parte, a defasagem orçamentária pode chegar a R$ 373,3 milhões em relação ao patamar de recursos destinados a essa modalidade antes do atual governo, aponta o Ibsfarma.
“A
insuficiência de recursos nessa política pública pode significar a
indisponibilidade de medicamentos destinados ao tratamento de dislipidemia,
rinite, doença de Parkinson, osteoporose, glaucoma e anticoncepção, bem como de
fraldas geriátricas para a população necessitada”, diz o instituto.
A proposta
de Orçamento para 2023 foi enviada pelo governo Bolsonaro ao Congresso em
agosto. Ainda está em tramitação e, portanto, deve sofrer mudanças.
Negociação
com novo governo
O Ibsfarma
pretende entregar o estudo e as sugestões de melhorias ao programa Farmácia
Popular à equipe de transição do governo eleito e ao relator do orçamento, o
senador Marcelo Castro (MDB-PI).
Integrantes
do governo de transição já afirmaram que uma das prioridades é recompor a verba
para o Farmácia Popular, mas ainda evitam falar em números.
A minuta da
chamada PEC da Transição, apresentada pelo governo de transição para tirar o
programa Bolsa Família do teto de gastos, pode abrir um espaço de R$ 105
bilhões no orçamento de 2023 com essa manobra.
Com o espaço
fiscal que ficará disponível, caso a proposta avance nesses termos, o governo
eleito poderá financiar novas ações. Porém, a lista de prioridades que a equipe
de transição e parlamentares petistas citaram como possíveis destinações é
grande:
Melhorias
Além da
recomposição orçamentária, o Ibsfarma, uma iniciativa de conselheiros do
Conselho Federal de Farmácia (CFF), defende que o programa passe por melhorias.
Uma delas é a implantação de um prontuário eletrônico único do Sistema Único de Saúde (SUS) que integre as farmácias cadastradas no Farmácia Popular aos demais programas e profissionais de saúde.
De acordo
com o secretário-executivo do Cuida Brasil, a ideia é que, quando alguém for
atendido em uma unidade básica de saúde, por exemplo, as informações
resultantes dessa consulta sejam compartilhadas com as farmácias.
Desta forma,
segundo Pires, o farmacêutico consegue auxiliar no acompanhamento do paciente.
“Não adianta
só fornecer o medicamento, a gente tem que fazer um acompanhamento junto, isso
é uma das melhorias que a gente pode fazer”, defendeu.
Farmácia
Popular
O Farmácia
Popular foi criado em 2004. O programa fornece medicamentos de forma gratuita
ou subsidiada à população.
Entre os
medicamentos distribuídos de graça, estão os para tratamento de diabetes, asma
e hipertensão. Também há remédios com até 90% de desconto para doenças como
Parkinson e glaucoma.