Países produtores de petróleo anunciam corte de produção, e efeitos podem chegar aos combustíveis no Brasil
Países produtores de petróleo anunciam corte de produção, e efeitos podem chegar aos combustíveis no Brasil
Arábia Saudita e outros produtores da Opep+ anunciam cortes voluntários na produção de petróleo; subida dos preços pode encarecer combustíveis, fazendo aparecer a reoneração de impostos à gasolina.
Por Raphael Martins, g1 02/04/2023 16h21 - Atualizado há 17 horas
A Arábia
Saudita e outros países produtores de petróleo da Opep+ (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo) anunciaram neste domingo (2) que vão cortar a
produção em cerca de 1 milhão de barris por dia.
A redução
começa em maio e deve ir até o fim do ano. Sauditas e russos devem cortar 500
mil barris diários cada.
A redução da
oferta de petróleo no mercado internacional deve causar um choque de preços, o
que pode impactar os valores dos combustíveis no Brasil.
No fim de
fevereiro, o governo retomou a cobrança de impostos federais sobre a gasolina.
De início, os preços cobrados nos postos subiram, mas nas últimas semanas
tiveram queda.
Os
levantamentos semanais da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis) mostram que o litro da gasolina custava, em média, R$ 5,08 na
semana anterior à volta dos impostos. Duas semanas depois, o preço havia subido
para R$ 5,57. Na semana passada, estava em R$ 5,48.
Ainda assim,
o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a
prévia da inflação oficial, ficou em 0,69% em março, puxado justamente pelo
preço da gasolina.
O resultado
só não foi pior porque o preço do petróleo no mercado internacional, usado como
referência pela Petrobras para vender combustível às refinarias no Brasil,
estava “comportado”.
O barril do
tipo Brent fechou a sexta-feira (31) custando US$ 79,77. No auge da crise de
preços dos combustíveis em 2022, turbinada pela guerra na Ucrânia, chegou a US$
140.
Agora, o
ministério da energia saudita disse em comunicado que o corte voluntário foi
uma medida de “precaução”, destinada a apoiar a estabilidade do
mercado de petróleo. Isso porque os preços da commodity acumulam quedas sempre
que há indícios de recessão na economia global, em especial nos países
desenvolvidos.
A
perspectiva de recessão não é nova, mas ela foi intensificada com os recentes
receios de crise bancária nos Estados Unidos e na Europa, que poderiam frear
ainda mais as economias impactadas pela alta recente dos juros.
Na sexta, os
preços já haviam retornado ao nível anterior à crise bancária, com alívio do
sentimento de que o problema pode ser maior. Agora, há um novo impulso de
preço, dado por uma redução de oferta.
Reoneração
suavizada
Os preços da
gasolina no Brasil são formados pelo preço cobrado pela Petrobras às
refinarias, pelos impostos estaduais e federais, e pelos lucros de
distribuidoras e revendedoras. (relembre aqui)
Com essa
equação, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva desfrutou de duas operações
casadas para amortecer a alta no fim de fevereiro: trazer de volta os impostos
federais do combustível e, ao mesmo tempo, reduzir o preço cobrado pela
Petrobras às refinarias.
Em outras
palavras: quando o governo precisou retomar a arrecadação, conseguiu também
reduzir o valor final pelo lado da Petrobras, porque o petróleo estava com
preços em queda no mercado internacional.
A estatal
anunciou o reajuste de preço da gasolina no dia 28 de fevereiro, um dia antes
da reoneração entrar em vigor. De acordo com nota da empresa, essas reduções
tinham o objetivo de buscar o equilíbrio dos preços com os mercados nacional e
internacional, “através de uma convergência gradual”.
“A
companhia, na formação de preços de derivados de petróleo e gás natural no
mercado interno, busca evitar o repasse da volatilidade conjuntural das
cotações e da taxa de câmbio, ao passo que preserva um ambiente competitivo
salutar nos termos da legislação vigente”, informou a empresa em nota
oficial.
O mercado deve precificar nesta segunda-feira (3) qual será o impulso nos preços do petróleo.
Segundo
relatório de sexta-feira da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis
(Abicom), a gasolina brasileira está sendo vendida por um valor 2% abaixo do
mercado internacional. Ou seja, seguindo a mesma lógica de fevereiro, há uma
pressão no horizonte para acompanhar os preços internacionais.
Dólar é
importante
A reoneração
da gasolina foi a primeira vitória de Fernando Haddad (PT) no cargo de ministro
da Fazenda. Ele travou uma batalha contra a ala política de seu próprio
partido, que via na retomada dos impostos federais uma ameaça de disparo da
inflação.
Com uma nova
pressão no preço do petróleo, Haddad pode evitar o desgaste com uma melhora do
câmbio. O real desvalorizado é o outro fator importante que pode elevar o
preços dos combustíveis no Brasil, já que o barril de petróleo é negociado em
dólar.
Na sexta-feira,
o dólar fechou em queda pelo sexto pregão consecutivo, repercutindo o novo
arcabouço fiscal apresentado pela equipe econômica do governo federal. A moeda
norte-americana recuou 0,55%, cotada a R$ 5,0691.
O resultado renovou o menor patamar do dólar desde o dia 2 de fevereiro, quando fechou o pregão cotado a R$ 5,0444.