Pela 1ª vez, brasileiros que estavam na Cisjordânia são resgatados
Pela 1ª vez, brasileiros que estavam na Cisjordânia são resgatados
32 passageiros seguiram para destinos diferentes no Brasil.
Publicado por Daniella Almeida - Repórter da Agência Brasil - Brasília
A aeronave VC-2 (Embraer 190), cedida pela Presidência da República, que pousou na manhã desta quinta-feira (2) na Base Aérea de Brasília, foi a nona que regressou ao Brasil pela Operação Voltando em Paz, do governo federal, desde o início das hostilidades no Oriente Médio. Mas, foi a pioneira a trazer cidadãos brasileiros resgatados do território palestino da Cisjordânia. Os outros oito voos anteriores da Força Aérea Brasileira (FAB) repatriaram brasileiros que estavam em Israel.
Neste último voo da missão brasileira, os passageiros transportados partiram, na quarta-feira (1º), de Aman, na Jordânia, país vizinho a Israel, após negociações diplomáticas realizadas pelo Ministério das Relações Exteriores.
Dos 32 passageiros, 30 são brasileiros e, ainda, há um palestino e uma jordaniana, casados com brasileiros. Deste total de transportados, 12 são homens; 9 são mulheres e 11 são crianças. Entre os adultos, seis são idosos, dois deles cadeirantes, que receberam ajuda para descer da aeronave. Na chegada, o grupo acenou com bandeiras do Brasil e da Palestina.
Apenas uma passageira permaneceu em Brasília. As demais famílias repatriadas terão outros destinos finais. Das seis pessoas que desembarcaram na escala feita no Recife (PE), às 5h35 da manhã, três pessoas ficaram na capital pernambucana e três seguiram para Fortaleza (CE).
A partir da capital federal, oito pessoas viajarão para Foz do Iguaçu (PR); cinco irão a São Paulo (SD); quatro, a Florianópolis (SC); três, Rio de Janeiro (RJ); dois, em Curitiba (PR); dois, em Goiânia (GO); e um para Porto Alegre (RS).
Resgatados
A Agência
Brasil conversou com alguns desses passageiros no desembarque, na capital
federal, antes deles voarem para outros estados, até o fim do dia.
O primeiro a
descer do avião e segurar um dos lados da bandeira do Brasil, Jalil Abdel, de
70 anos, contou que a guerra entre Israel e Hamas foi iniciada no momento em
que ele fazia a visita anual à família na cidade de Ramala. Apesar de voltar em
segurança ao Paraná, Jalil confessa que continua preocupado com os parentes que
permaneceram na Cisjordânia. “Minha filha e minha esposa estão lá. Fico
preocupado pela repressão que a gente tem lá. Muita repressão.”
Na outra
ponta da bandeira verde e amarela, outro resgatado contemporâneo de Jalil,
também com 70 anos, o palestino Mahmoud Abdel Aziz, sentiu que estava correndo
perigo naquele território. Agora, Mahmoud sente gratidão por ter voltado ao
Brasil, depois de uma temporada de seis meses na Cisjordânia. “É muito gostoso,
é bom demais. Graças a Deus, que a gente tem a honra de ser brasileiros. Nós
somos brasileiros. Agradecemos muito à nossa pátria, ao nosso pessoal, à
Marinha, às Forças Armadas.”
Ao lado do
avô, o brasileiro Mohammed Mahmoud, de 11 anos, voltará a Foz do Iguaçu (PR),
após sair da casa que a família deixou na Cisjordânia. “Voltar para o Brasil é
muito legal. Aqui, fico com meu pai, meu avô e minha avó”.
Outro
palestino, Mahmoud Salim, de 43 anos, retornou com os filhos de 15, 13 e 7 anos
e a esposa jordaniana, naturalizada brasileira, após ter passado dois anos em
Ramala. O palestino conta que foi visitar familiares em outra cidade da
Cisjordânia e não conseguiu retornar para casa. Pesou para a decisão de Mahmoud
de voltar a São Paulo, onde já morou por oito anos, a piora da situação na
Cisjordânia, desde o início do conflito na região. “Se você quiser passar para
outra cidade, está perigoso. Ao lado da minha casa, jogaram bombas, balearam o
pescoço de um cara. Perdi dois amigos. Agora, lá, está difícil. Eles colocam o
[posto de] controle na saída e, às vezes, batem no pessoal por nada.”
“Se o
consulado [do Brasil] não ajudasse a gente, nunca passaríamos na fronteira. A
gente passou na fronteira da Jordânia porque estava no carro do consulado à
frente do ônibus e eles passaram a gente no controle. Fiz contato com a
embaixada e falei estou com medo, está perigoso e preciso voltar do Brasil
logo, porque estou com medo, e pela minha criança”, descreveu Mahmoud Salim.
Já Amer
Azis, de 40 anos, voltará a Foz do Iguaçu (PR), acompanhado dos quatro filhos,
após ter ficado dois meses na Cisjordânia, onde os filhos moravam. No colo de
Amer, o pequeno Tarek e a esperança de melhores dias. “Depois que a gente
passou tudo lá, com o que está acontecendo e sendo visto por todos, a situação
ficou bem complicada. Mas, vamos ver, se Deus quiser, a situação vai melhorar
para poder voltar a ter uma segurança maior. Porque, hoje, está complicado. Se
acalmar, poderemos voltar. Se não acalmar, vou ficar aqui [no Brasil].
A única
passageira que vai morar no Distrito Federal, Nazmieh Mohamed, de 72 anos, foi
recebida pelos filhos, no desembarque tradicional do Aeroporto de Brasília. Ela
relatou muito medo. “Tem muito brasileiro na Faixa de Gaza e ninguém está
seguro lá”. Entrevista foi dada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência
da República (Secom).
Assistência médica e psicológica
Antes do
pouso, o tenente-coronel Garcez, da FAB, informou sobre a situação de
vulnerabilidade emocional de alguns passageiros vindos da Cisjordânia, pelo
fato da região também ter sofrido com ataques militares e restrições. “Então, é
uma condição até um pouco diferente do pessoal que veio de Tel Aviv [Israel]. E
não tão crítica como a situação do pessoal que está em Gaza”, descreve.
Por isso,
durante o voo, os passageiros vindos da Jordânia, tiveram assistência médica e
psicológica de profissionais da FAB. A bordo, foram realizadas 13 consultas
entre médicas e psicológicas, devido a existência de pessoas com comorbidades
(doenças) prévias, que requeriam cuidados especiais.
Do ponto de
vista psicológico, o atendimento junto a alguns passageiros resgatados que
necessitavam de assistência foi feito para aliviar a ansiedade, e dar
perspectivas que não os lembrassem o conflito da região. Para desvincular os
passageiros do ambiente da guerra, a aeronave ainda promoveu espaços lúdicos
para as crianças desenharem com brinquedos e blocos de montar.
O capitão
médico da Força Aérea Brasileira, Gustavo Messias Costa, que fez parte da
tripulação descreveu a prestação da assistência com foco no bem-estar e saúde
mental de passageiros e tripulantes. “Foi fundamental também a equipe contar
com a presença de uma psicóloga a bordo. Esse trabalho multidisciplinar foi
fundamental durante essa missão”.
O capitão
médico ficou emocionado ao relatar que se sente honrado por cumprir os
juramentos feitos quando se tornou médico e quando entrou nas forças armadas. “
Para mim, não tem preço. Não vai ter qualquer coisa material no mundo que me
traga essa sensação de ver uma criança sorrindo, um idoso chegando e falar que
essa terra é maravilhosa para ele, que aqui a gente tem paz, que aqui a gente
tem condições de viver com futuro”, revelou Gustavo Costa.
Balanço
Com o pouso
da nona aeronave VC-2 (Embraer 190), são 1.445 passageiros e 53 pets resgatados
em voos que já regressaram ao Brasil.
As aeronaves
que já pousaram no Brasil são:
KC-30 (Airbus A330 200): 211
passageiros
KC-30 (Airbus A330 200): 214 passageiros +
4 pets
KC-390 Millennium (Embraer): 69
passageiros
KC-30 (Airbus A330 200): 207 passageiros +
4 pets
KC-30 (Airbus A330 200): 215 passageiros +
16 pets
KC-30 (Airbus A330 200): 219 passageiros +
11 pets
KC-390 Millennium (Embraer): 69 passageiros
+ 9 pets
KC-30 (Airbus A330 200): 209 passageiros +
9 pets
VC-2 (Embraer 190): 32 passageiros TOTAL:
1.445 passageiros e 53 pets
De acordo
com a FAB, a aeronave VC-2 (Embraer 190), cedida pela Presidência da República,
retornou ao Brasil para manutenção rotineira que estava previamente agendada.
No lugar, outro avião de mesmo modelo foi para o Cairo (Egito) e, no momento,
aguarda autorizações para resgatar brasileiros que estão na Faixa de Gaza.
Ainda não há
previsão de pouso no Brasil desta décima aeronave.
Até o
momento, na lista dos mais de 576 estrangeiros autorizados a deixar Gaza, não
há brasileiros.
O governo
brasileiro já doou purificadores de água portáteis; kits de medicamentos;
insumos; e mantimentos para assistência humanitária, aos brasileiros moradores
de territórios palestinos.
Edição:
Valéria Aguiar