“Periferia da bola” mostra seu valor na primeira Copa do Mundo Feminina
"Periferia da bola" mostra seu valor na primeira Copa do Mundo Feminina
Primeira fase de grupos com 32 seleções termina com marcas importantes alcançadas por países de menor tradição, como Marrocos, Colômbia, Jamaica e África do Sul.
Por Allan Caldas — Melbourne, Austrália 04/08/2023 05h04 Atualizado há 4 horas
Na urgência
de crescer após décadas de marginalização, as mulheres precisaram acelerar
etapas no desenvolvimento do seu futebol. E enfrentaram um dilema: aumentar a
Copa do Mundo Feminina para 32 seleções ajudaria a popularizar a modalidade em
países que ainda sofrem com pouco investimento, mas poderia ter um efeito
negativo em caso de resultados muito discrepantes, nos confrontos com as
grandes potências.
A primeira
fase da Copa de 2023 terminou nesta quinta-feira com uma boa notícia: quem
chegou agora na festa mostrou seu valor. Todos os continentes tiveram pelo
menos um país alcançando um feito relevante no Mundial. Com destaque para a
Colômbia, que derrotou a Alemanha na segunda rodada e se classificou em
primeiro lugar no Grupo H, e Marrocos, que estreou na Copa Feminina avançando
para as oitavas de final na mesma chave.
Sim, a bicampeã mundial Alemanha, segunda colocada do ranking da Fifa e tida como uma das favoritas ao título, foi embora para casa mais cedo, jogando em um grupo sem rivais de tradição. Outras duas seleções do top-10 caíram na fase de grupos: o Canadá, sétimo do ranking e atual campeão olímpico, e o Brasil (oitavo), eliminado pela Jamaica (43º), em outro resultado surpreendente deste Mundial.
Muitas
pessoas estavam preocupadas com a expansão deste ano (para 32 seleções), porque
pensaram que não estávamos preparados para o futebol feminino, mas acho que
muitas equipes estão mostrando que a distância está diminuindo e que cada vez
mais países estão investindo no futebol feminino.
— Por isso,
estou muito contente por ver todas estas equipes que não esperavam que tivessem
um bom desempenho mostrando que são capazes de fazer isso no cenário mundial —
completou o treinador.
África tem três nas oitavas pela
primeira vez
Única
seleção africana presente nas nove edições da Copa Feminina, a Nigéria cada vez
mais ganha a companhia dos vizinhos. Pela primeira vez, três seleções africanas
estão nas oitavas de final. Além de Nigéria e Marrocos, a África do Sul também
avançou. Uma vitória emocionante sobre a Itália por 3 a 2, com um gol de
Kgatlana aos 47 minutos do segundo tempo, na terceira rodada do Grupo G, deu às
sul-africanas a vaga inédita no mata-mata, na segunda Copa disputada pelo país.
A Copa
Feminina de 2023 teve oito seleções fazendo sua estreia no torneio. Marrocos foi
a única a passar de fase, mas até mesmo algumas das eliminadas deram orgulho
aos seus torcedores.
Como
Portugal, que endureceu o confronto com a poderosa seleção dos Estados Unidos e
quase tirou as atuais bicampeãs da Copa. O empate em 0 a 0, pela terceira
rodada do Grupo D, foi ao mesmo tempo heroico e frustrante, já que as
portuguesas acertaram a trave nos minutos finais e estiveram a um passo da
classificação. Portugal também volta para casa com sua primeira vitória em
Copas do Mundo na bagagem: 2 a 0 sobre o Vietnã, na segunda rodada.
E o que
dizer do pequeno Haiti? Também em sua primeira Copa Feminina, perdeu os três
jogos que disputou no Grupo D. Mas ninguém teve vida fácil. Terceira do ranking
da Fifa, a Inglaterra fez apenas 1 a 0 nas haitianas, mesmo placar conseguido
pela China. A Dinamarca foi um pouquinho melhor, 2 a 0. Goleada humilhante?
Aqui não!
No Grupo A,
a seleção das Filipinas venceu uma das anfitriãs, a Nova Zelândia, na segunda
rodada, e vai para casa com uma vitória no currículo em seu primeiro Mundial. E
as neozelandesas, que disputam a Copa Feminina pela sexta vez, aprontaram a
primeira grande zebra de uma fase de grupos cheia de surpresas. Logo no jogo de
abertura da Copa, bateram a Noruega, campeã mundial em 1995, por 1 a 0, pelo
Grupo A. Foi a primeira vitória do país em uma Copa, seja no feminino ou no
masculino.
Em
entrevista ao ge durante o Mundial, o observador técnico da seleção brasileira,
Jonas Urias, afirmou que considera o Mundial 2023 revolucionário por aproximar
as seleções de menor tradição das grandes potências.
— A gente
está presenciando e vivendo a revolução da modalidade, com diferentes escolas
no seu auge de preparação. Em versões anteriores da Copa do Mundo a gente via
muita discrepância física. Agora, estamos vendo seleções que não são tão tradicionais
no cenário internacional jogando fisicamente um jogo equivalente às principais
seleções que estão há mais tempo investindo no futebol feminino – afirmou
Jonas, que veio para Austrália com a missão de analisar os adversários da
seleção brasileira.
Colômbia x Jamaica garante
“periferia” nas quartas
Entre as
surpresas da fase de grupos, certamente o ponto alto foi a vitória da Colômbia
por 2 a 1 sobre a Alemanha, com um show de Mayra Ramírez e Linda Caicedo,
autora de um golaço considerado por muitos como o mais bonito da Copa até aqui.
O triunfo pela segunda rodada abriu caminho para as colombianas chegarem pela segunda vez no mata-mata. Na Copa de 2015, porém, a seleção sul-americana avançou como uma das terceiras colocadas. Agora, como líder. Nas oitavas de final, a Colômbia vai enfrentar a Jamaica, garantindo que pelo menos uma das surpresas do Mundial estará presente nas quartas de final, aumentando a festa na periferia da bola.