Pesquisa mostra por que brasileiros deixam escola
Pesquisa mostra por que brasileiros deixam escola
Falta de condições e necessidade de trabalho são as principais causas.
Publicado em 26/05/2023 - 00:01 Por Luiz Claudio Ferreira – Repórter da Agência Brasil - Brasília
Quando
deixou Araioses, no Maranhão, de ônibus e percorreu mais de 2 mil quilômetros
até Brasília, em 2017, Maria de Fátima Santos, então com 18 anos de idade,
sonhava engatar em uma profissão no comércio e voltar aos estudos. Aos 15 anos,
Maria de Fátima tinha abandonado a escola, no quinto ano fundamental, para
ajudar em casa.
Ela
trabalhava no interior maranhense como diarista. Os livros não tinham espaço,
nem eram prioridade na rotina da jovem. Hoje, em Brasília, a escola é só um
sonho distante. Atualmente, perto dos 25 anos de idade, ela vive da coleta de
objetos no lixo de condomínios para conseguir algum recurso, pagar o aluguel e
mandar ao menos R$ 50 para a mãe, que ficou em Araioses.
Da escola,
Maria de Fátima diz que sente falta das aulas de matemática. “Eu gostava e iria
me ajudar na minha vida hoje.”
Deixar a
escola em plena juventude não é raro no Brasil, conforme aponta uma pesquisa
realizada pelo Sesi/Senai (Serviço Social da Indústria/Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. Depois dos
16 anos, apenas 15% estão em salas de aula.
”Os dados
são fortes. Só 15% da população atualmente estuda. É claro que, na idade
escolar, o número sobe para 53%”, afirmou o diretor-geral do Senai e
diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi.
Das pessoas que não estudam, 57% disseram que abandonaram a sala de aula porque não tinham condições. A necessidade de trabalhar é o principal motivo (47%) para interrupção dos estudos.
“Um número
muito alto de pessoas deixa de estudar por falta de interesse na escola que,
muitas vezes, não tem elementos de atratividade para os jovens e certamente
esses números se agravaram durante a pandemia”, afirmou Lucchesi.
O
levantamento mostrou que apenas 38% das pessoas com mais de 16 anos de idade
que atualmente não estudam alcançaram a escolaridade que gostariam.
Para 18% dos
jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixar de estudar é a gravidez ou o
nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez ou pela chegada de um
filho é maior entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais
(14%) – o dobro da média nacional, de 7%.
Preparo
O
levantamento revela também que a maioria dos jovens acima dos 16 anos de idade
considera que a maioria dos que têm ensino médio ou ensino superior
considera-se pouco preparada ou despreparada para o mercado de trabalho.
O
levantamento foi realizado com uma amostra de 2.007 cidadãos com idade a partir
de 16 anos, nas 27 unidades da federação. As entrevistas foram feitas entre 8 e
12 de dezembro do ano passado.
Entre as
pessoas que responderam a pesquisa, 23% disseram que a alfabetização deveria
ser prioridade para o governo, seguida pela instituição de creches (16%) e pela
ênfase no ensino médio (15%).
A educação
pública é vista como boa ou ótima por 30% da população, índice que sobe para
50% quando se fala de educação privada.
Entre os
fatores para aumentar a qualidade, os mais citados são o aumento do salário dos
professores, mais capacitação deles e melhores condições das escolas.
Avaliação
Pelo menos
23% das pessoas ouvidas na pesquisa avaliaram a educação pública como ruim ou
péssima e só 30% a consideraram ótima ou boa. A educação privada é avaliada
como boa ou ótima por 50% dos entrevistados.
Para Rafael,
Lucchesi, a pesquisa traz uma dura reflexão sobre a necessidade de aumentar a
qualidade da educação e também a atratividade da escola e, “como resultado
geral, melhorar a produtividade das pessoas na sociedade”.
Edição:
Nádia Franco