PF indicia o traficante Colômbia como mandante das mortes de Bruno e Dom e encaminha relatório à Justiça
PF indicia o traficante Colômbia como mandante das mortes de Bruno e Dom e encaminha relatório à Justiça
Outras 8 pessoas foram indiciadas por envolvimento no crime. 'Colômbia' é apontado como financiador de organização criminosa, fornecedor dos cartuchos usados nas execuções e responsável por coordenar ocultação de cadáveres.
Por Marco Antônio Martins, g1
A Polícia
Federal indiciou Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia, como
mandante dos assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do
jornalista britânico Dom Phillips, ocorridos em junho de 2022 no Vale do Javari,
no Amazonas.
Colômbia
está preso desde dezembro daquele ano, seis meses após o início das
investigações, e também é investigado por pesca ilegal e tráfico de drogas.
O documento
da PF foi encaminhado na sexta-feira (1º) à Justiça. Ao todo, são nove
indiciados, mas apenas Rubén aparece como mandante, conforme a PF. Os outros
nomes não haviam sido divulgados até a última atualização desta reportagem.
Caso a
Justiça aceite os nove indiciamentos, eles se tornam réus e irão a julgamento.
Só após serem julgados que eles poderão ser considerados culpados ou inocentes,
e deverão cumprir pena em caso de condenação.
Segundo a
investigação, Colômbia praticou os seguintes crimes:
– forneceu
cartuchos para a execução dos assassinatos;
– interveio
para coordenar a ocultação dos cadáveres das vítimas;
e patrocinou financeiramente as atividades de organização criminosa que praticava pesca ilegal e ameaçava indígenas e servidores públicos da área de proteção ambiental.
A
investigação da PF confirmou que os assassinatos ocorreram devido às
fiscalizações realizadas por Bruno Pereira na região. O indigenista era um dos
principais especialistas em povos isolados e denunciava a presença de
quadrilhas de pesca ilegal.
Dom Phillips
morreu por estar acompanhando Bruno, segundo a polícia. O jornalista tinha ido
conhecer o trabalho da equipe de vigilância indígena, treinada por Bruno para
combater a invasão do território.
No documento
encaminhado à Justiça, a PF mostra como funcionava a organização criminosa
coordenada por Colômbia em Atalaia do Norte. O grupo praticava pesca e caça
predatória, de forma ilegal, invadindo territórios indígenas.
A ação
irregular dos criminosos em áreas de proteção ambiental provocou impactos
socioambientais, como o risco a espécies de peixes e à segurança dos moradores.
Relembre o crime
Bruno e Dom
desapareceram quando faziam uma expedição para uma investigação na Amazônia.
Eles foram vistos pela última vez em 5 de junho, quando passavam em uma
embarcação pela comunidade de São Rafael. De lá, seguiam para Atalaia do Norte.
A viagem de
72 quilômetros deveria durar apenas duas horas, mas eles nunca chegaram ao
destino.
Os restos
mortais dos dois foram achados em 15 de junho daquele ano. As vítimas teriam
sido mortas a tiros, e os corpos, esquartejados, queimados e enterrados.
Segundo laudo de peritos da PF, Bruno foi atingido por três disparos, dois no
tórax e um na cabeça. Já Dom foi baleado uma vez, no tórax.
A polícia
achou os restos mortais dos dois após um dos suspeitos, o pescador Amarildo da
Costa Oliveira, confessar envolvimento nos assassinatos e indicar onde estavam
os corpos.
Além de
Amarildo e ‘Colômbia’, também foram acusados por envolvimento no crime:
– Jefferson
da Silva Lima, o Pelado da Dinha, custodiado na Penitenciária Federal de Campo
Grande
– Jânio
Freitas de Souza, apontado como braço direito do mandante, ambos também presos
em presídios federais
– Oseney da
Costa de Oliveira, o Dos Santos, em regime domiciliar
Em documento
enviado à Justiça, em julho de 2022, o Ministério Público Federal argumenta que
Amarildo e Jefferson confessaram o crime. Diz ainda que a participação de
Oseney, apesar de negar envolvimento no crime, foi mencionada em depoimentos de
testemunhas.
Em junho
deste ano, a Justiça Federal tornou réus outros cinco homens que teriam
participado do crime.
Francisco
Conceição de Freitas, Eliclei Costa de Oliveira, Amarílio de Freitas Oliveira,
Otávio da Costa de Oliveira e Edivaldo da Costa de Oliveira vão responder pelos
crimes de ocultação de cadáver.
Todos, com
exceção de Francisco, também responderão por corrupção de menor, após, segundo
a Justiça, obrigarem um adolescente a participar da ação criminosa. Eles
respondem em liberdade.
A Rede
Amazônica tentou contato com a defesa de Ruben Dário da Silva Villar, o
‘Colômbia’, mas até o momento não houve retorno.
Quem foi Dom Phillips
O jornalista
britânico era um veterano na cobertura internacional. Ele já foi colaborador
dos jornais “Washington Post”, “The New York Times” e
“Financial Times”, e morava no Brasil desde 2007.
Segundo o
jornal do qual era colaborador, ele era conhecido por seu amor pela região
amazônica e viajou muito p a fim de relatar a crise ambiental brasileira e os
problemas de suas comunidades indígenas.
Era natural
do condado de Merseyside, região onde fica a cidade de Liverpool, no noroeste
inglês. De acordo com amigos, Phillips se aventurou no mundo da música antes de
se tornar jornalista.
Quem foi Bruno Pereira
O
indigenista Bruno Araújo Pereira, que viajava com o jornalista inglês Dom
Phillips pela região do Vale do Javari, na Amazônia, era um dos maiores
especialistas em indígenas que vivem em isolamento no Brasil.
Casado com a
antropóloga Beatriz Matos, que conheceu durante uma viagem de trabalho no
próprio Vale do Javari, o indigenista deixou dois filhos.
Pereira foi
criado em Pernambuco e deixou a região em meados dos anos 2000 para seguir o
sonho de trabalhar na Amazônia. Ingressou na Funai em 2010, em um dos últimos
concursos públicos promovidos pelo órgão.
Chegou a
coordenador regional do Vale do Javari, com sede na cidade de Atalaia do Norte
(AM), mas deixou o cargo em 2016 após um intenso conflito registrado entre
povos isolados da região.