PF reuniu imagens, celulares e banco genético de réus do 8 de janeiro; STF começa a julgar na 4ª
PF reuniu imagens, celulares e banco genético de réus do 8 de janeiro; STF começa a julgar na 4ª
Tribunal convocou sessões extras pela manhã para iniciar análise das ações penais. Ao todo, 1.390 foram denunciados, mas Moraes autorizou PGR a negociar acordo com mais de mil deles.
Por Márcio Falcão, TV Globo — Brasília
Em oito
meses de investigação, a Polícia Federal se debruçou sobre centenas de horas de
imagens das câmeras de segurança do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal
Federal e do Palácio do Planalto capturadas no dia 8 de janeiro – quando
golpistas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.
Além dessas
imagens, a investigação usou também celulares apreendidos com os suspeitos,
material genético recolhido nos locais, impressões digitais, perícias e
depoimentos de testemunhas.
Todo esse
conjunto de provas começará a ser analisado pelos ministros do Supremo Tribunal
Federal na próxima quarta-feira (13), quando serão julgados os primeiros quatro
réus acusados de executarem os atos golpistas.
Os ministros
vão decidir se essas pessoas, acusadas formalmente pela Procuradoria-Geral da
República, serão condenadas ou absolvidas. As ações serão julgadas de forma
individual.
Os quatro
réus foram presos em flagrante, no dia dos ataques. Eles são acusados dos
crimes de:
– associação
criminosa armada;
– abolição
violenta do Estado Democrático de Direito;
– golpe de
Estado;
– dano
qualificado pela violência;
– grave
ameaça, com emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e
com considerável prejuízo para a vítima;
– deterioração
de patrimônio tombado.
Ao todo, a
PGR denunciou 1.390 suspeitos de participar, estimular ou financiar os atos
golpistas. O STF recebeu 1.365 dessas denúncias – ou seja, converteu os
acusados em réus.
Nem todos,
no entanto, devem ir a julgamento no STF. Isso, porque o ministro relator
Alexandre de Moraes autorizou a PGR a negociar acordo com mais de mil
investigados.
Esse tipo de
acordo permite que o réu não vá a julgamento, além de não ser punido com prisão
por eventuais crimes. Para isso, o acusado precisa atender a alguns
pré-requisitos – ser réu primário e confessar o crime, por exemplo.
Rito do julgamento
A primeira
ação penal deve ser julgada na quarta-feira pela manhã. Como relator, Moraes é
o primeiro a falar e apresenta um resumo da investigação.
Na
sequência, a PGR tem até uma hora para fazer a acusação contra o réu.
Em seguida,
começa a defesa tem até uma hora para apresentar os argumentos do acusado.
Começam
então os votos, na seguinte ordem: primeiro, o relator Alexandre de Moraes;
depois, o ministro revisor Nunes Marques; e por fim, os outros nove ministros.
Os primeiros quatro réus
Entenda, abaixo,
o que os investigadores reuniram sobre os quatro primeiros réus a serem
julgados pelos atos golpistas de 8 de janeiro:
Aécio Lúcio
Costa Pereira foi preso pela Polícia Legislativa do Senado. No celular dele, a
PF encontrou um vídeo gravado no Congresso com a seguinte mensagem:
“Amigos da Sabesp que não acreditou. Estamos aqui. Quem não acreditou também estou aqui por você, porra. Olha onde eu estou. Na mesa do Presidente. Vilsão, Roni. Estamos aqui porra. Marcelão, estamos aqui caralho. Vai dar certo. Não desistam. Saiam às ruas. Parem as avenidas. Dê corroboro para nós.”
Na denúncia,
a PGR afirma que “restou sobejamente comprovado que o denunciado Aécio Lúcio
Costa Pereira concorreu, na qualidade de executor, para a consumação dos
delitos ora apreciados. Com efeito, a turba que se dirigiu a atentar contra o
Estado de Direito, invadindo e depredando os prédios dos Três Poderes, agia de
forma multitudinária, por sugestão e imitação de uns para com os outros”.
A defesa
pediu a absolvição de Pereira. Os advogados argumentam que ele foi a Brasília
participar de uma manifestação pacífica, mas que infelizmente no decorrer da
manifestação ocorreu uma grande confusão e depredações que vão totalmente ao
contrário do que ele acredita, tendo em vista que ele não deu causa a nenhum
ato ilícito como demonstrado na instrução.
Câmeras do
Palácio do Planalto flagraram Thiago de Assis Mathar circulando pelo em meio à
invasão.
Na denúncia,
a PGR afirma que “se verifica dos elementos probatórios coligidos, o denunciado
foi autuado em flagrante no interior do Palácio do Planalto, após o prédio ter
sido invadido, com o rompimento de gradis, barreiras físicas de proteção,
destruição das vidraças para ingresso e emprego de violência contra as tropas
policiais. Além disso, tal fato é comprovado por meio de prova pericial,
consubstanciada nos laudos acostados aos autos, em que restou consignado “.
No
interrogatório, ele afirmou que se deslocou para Brasília de ônibus, saindo de
Penápolis/SP e depois passou no QG de São José do Rio Preto, ocasião em que os
seus ocupantes informaram que a condução se deslocaria até a capital federal
para participar da manifestação de apoio a intervenção das forças armadas”
A defesa
afirma que não há provas “em nenhum momento a participação do acusado na
empreita criminosa, estando ele apenas no “lugar errado e na hora errada”.
Seria cômico se não fosse trágico, ao mentirem e se perderem mais ainda nas
próprias mentiras das vítimas”.
A perícia no
celular localizou vídeos feitos por Moacir José dos Santos no dia 8 de janeiro
com “cenas de destruição nos prédios dos Três Poderes da República”.
Também foi
encontrado material genético dele a partir de vestígios coletados no Planalto.
A defesa
alega que “não há o preenchimento de nenhum dos requisitos na conduta do
denunciado. Ele não conhecia nenhuma das pessoas que estava lá, chegou em
Brasília no dia 08, logo não havia nenhuma habitualidade, permanência e
estabilidade; não se uniu a ninguém para cometer crimes, pois não cometeu
nenhum fato delituoso; passou por revista policial antes e depois de ser preso
e nenhum tipo de arma ou objeto que pudesse causar dano foi encontrado em sua
posse”.
Matheus Lima Lázaro: canivete e
mensagens sobre ‘quebrar tudo’
Matheus Lima
Lázaro foi preso, segundo a Polícia Militar do DF, após deixar o Congresso e
seguir em direção a área central de Brasília. Foi preso com um canivete, uma
camisa da seleção brasileira de futebol e dois cortes de tecido de cor preta
usado.
Ele trocou mensagens falando que o Exército precisava entrar para quebrar tudo.
“Conforme se
verifica dos elementos probatórios coligidos, o denunciado foi autuado próximo
ao Palácio do Buriti, voltando do Congresso Nacional, na posse de apetrechos
que demonstraram a adesão, livre e consciente, aos atos violentos e às graves
ameaças executados, assim como descortinaram a adesão e a contribuição para a
obra coletiva comum, consistente na tentativa de abolir o Estado Democrático de
Direito, com emprego de violência e grave ameaça, impedindo ou restringindo o
exercício dos Poderes Constitucional”, disse a PGR.
A defesa alega que ele foi colocado na condição de “mero instrumento da ação de um grupo, o que foi feito por meio de um conjunto de técnicas de ciência persuasiva. E como mero instrumento da ação de terceiro o acusado não pode ser considerado culpado, eis que presente a ausência do potencial consciência da ilicitude”.