PGR poderá usar dados de três investigações sobre Bolsonaro em uma mesma denúncia; entenda o elo
PGR poderá usar dados de três investigações sobre Bolsonaro em uma mesma denúncia; entenda o elo
Apurações são as de tentativa de golpe de Estado, apropriação das joias sauditas e fraude no cartão de vacina. Mas a procuradoria poderá entender que todas as irregularidades investigadas contribuíram para a tentativa de golpe de Estado.
Por Reynaldo Turollo Jr, g1 — Brasília
A
Procuradoria-Geral da República poderá usar dados de três frentes de
investigação sobre Jair Bolsonaro para formular uma única denúncia, caso
entenda que há motivos legais para o ex-presidente ser julgado.
As três
frentes de apuração são:
A da
tentativa de golpe de Estado
A das joias
sauditas
A da fraude
em cartões de vacina
Nesta
semana, há a perspectiva de que a PGR receba do ministro Alexandre de Moraes,
do Supremo Tribunal Federal (STF), os indiciamentos que a Polícia Federal fez
nas investigações sobre tentativa de golpe de Estado.
A PF
indiciou Bolsonaro, seu ex-ministro Braga Netto e mais 35 políticos, militares
e assessores por participação nas tramas golpistas que tentaram impedir a posse
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final de 2022.
A partir do
momento em que receber os indiciamentos das mãos de Moraes, o procurador-geral
da República, Paulo Gonet, vai ler o material e decidir se oferece a denúncia
para a Justiça.
Nos
bastidores da PGR, a avaliação é que Gonet vai usar ao máximo o tempo de que
dispõe para analisar o caso. A expectativa é que ele apresente eventuais
denúncias em fevereiro do ano que vem, após o recesso do Judiciário, que começa
em dezembro.
Gonet também
poderá se valer das três investigações para montar uma denúncia que mostre que
a fraude nos cartões e a apropriação das joias sauditas também estavam a
serviço da tentativa de golpe.
Paralelamente
a isso, surgiu na semana passada a revelação do plano para assassinato de Lula,
do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Moraes. Quatro militares do
Exército e um agente da PF foram presos. Eles pretendiam matar as autoridades
para instalar um gabinete de crise no lugar do comando do governo. Essa
investigação se insere na apuração de golpe de Estado, e o elo de Bolsonaro com
o grupo também está sendo apurado.
Entenda
abaixo como isso poderá funcionar:
Caso tudo
leve ao golpe
Há um
entendimento, dentro da PGR, de que uma das possibilidades de desdobramento é
Gonet entender que os casos das joias sauditas e da fraude do cartão sejam
preparativos para a trama golpista.
Isso porque
eles poderiam ser etapas previstas na suposta trama maior planejada por
Bolsonaro e seu entorno.
Fraude
nos cartões de vacina
De acordo
com a PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid,
coordenou um esquema de fraude no cartão de vacina do ex-presidente e de seu
entorno para atestar falsamente que ele havia tomado a vacina contra a
Covid-19. Só que Bolsonaro nunca tomou a vacina — e ele mesmo diz isso.
A
falsificação seria para facilitar a entrada nos Estados Unidos em dezembro de
2022, caso o país fizesse essa exigência. Bolsonaro foi para a Florida em 30 de
dezembro, dois dias antes de Lula tomar posse.
Uma semana
depois, no 8 de janeiro, explodiram os ataques golpistas de apoiadores de
Bolsonaro que invadiram e depredaram as sedes dos três poderes da República.
Para
investigadores, a ida para os Estados Unidos foi uma maneira de Bolsonaro
disfarçar laços dele com a trama golpista. Ele seria beneficiado com o golpe,
que tiraria Lula do poder, mas poderia alegar que não tinha participação em
nada daquilo, uma vez que estava fora do país.
Joias
sauditas
Nessa
análise também entram as joias sauditas. São joias milionárias dadas pelo
governo da Arábia Saudita ao governo brasileiro durante a gestão Bolsonaro. Só
que o ex-presidente, ao contrário do que determina a legislação brasileira
tentou adicionar essas joias ao seu próprio patrimônio pessoal.
As joias
chegaram a ser levadas aos Estados Unidos e negociadas lá. Segundo a PF, seria
uma forma de o ex-presidente se manter financeiramente em território
estrangeiro para se proteger de eventuais desdobramentos da tentativa de golpe
aqui no Brasil.
Mas quando
estouraram as investigações da PF sobre a apropriação ilegal das joias, o
entorno de Bolsonaro recomprou aquelas que haviam sido vendidas na Florida e as
devolveu para o Estado brasileiro. Bolsonaro voltou para o Brasil em março de
2023, três meses depois de ter saído.
O papel
de Gonet
Dentro da
PGR, há um entendimento de que Gonet poderá apresentar uma denúncia juntando
todas as pontas desses casos. Isso, na avaliação de procuradores, daria mais
robustez ao material no sentido de mostrar que tudo tinha um objetivo final: o
golpe de Estado.
O procurador-geral quer analisar essas diversas frentes de investigação para ter certeza de que elas se juntam ou não. E também, em caso de elas estarem ligadas, deixar claro na denúncia como esse elo se deu.
Só após uma
denúncia ser oferecida ao STF é que o tribunal decidirá se vai transformar ou
não os investigados em réus.
A PF manteve
essas três linhas de investigação dentro de um mesmo inquérito, conhecido como
inquérito das milícias digitais.
Para investigadores, um elemento que une as apurações é que todos os possíveis crimes foram cometidos por um mesmo grupo de pessoas, como Bolsonaro, seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid e assessores como o coronel Marcelo Câmara. Assim, a PF vê em todos esses casos a ação de uma mesma organização criminosa.