Plano da China pode encerrar guerra, mas Ucrânia e Ocidente não estão prontos para paz, diz Putin
Plano da China pode encerrar guerra, mas Ucrânia e Ocidente não estão prontos para paz, diz Putin
Vladimir Putin e Xi Jiping reuniram-se na terça-feira para discutir a guerra e as relações bilaterais entre seus dois países.
Por James Gregory, BBC 22/03/2023 08h20 - Atualizado há 38 minutos
O presidente
da Rússia, Vladimir Putin, disse na terça-feira (21/3) que o plano de paz da
China para a Ucrânia pode ser usado como base para acabar com a guerra. Mas
Putin afirmou que o plano só pode ser seguido quando “o Ocidente e Kiev
estiverem prontos para isso”.
O líder
russo encontrou-se com o presidente chinês, Xi Jinping, em Moscou para discutir
o conflito na Ucrânia e as relações bilaterais entre China e Rússia.
O plano
proposto pela China, publicado no mês passado, não exige explicitamente que a
Rússia deixe a Ucrânia.
O plano tem
12 pontos e sugere negociações de paz e respeito à soberania nacional — mas não
contém propostas específicas.
A Ucrânia
insiste que a Rússia se retire de seu território como condição para qualquer
conversa — e não há sinal de que a Rússia esteja pronta para fazer isso.
Nesta
quarta-feira (22/3), as autoridades apoiadas por Moscou na Crimeia anexada
disseram que um ataque de três drones aquáticos à Frota do Mar Negro na Baía de
Sebastopol foi repelido sem danos à frota. O relatório não pôde ser confirmado
de forma independente.
Na
segunda-feira (21/3), explosões em outra parte da Crimeia teriam destruído
mísseis russos transportados por ferrovias, segundo autoridades da Ucrânia.
O secretário
de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse na segunda-feira que estabelecer um
cessar-fogo antes da retirada da Rússia seria aceitar a conquista russa na
prática.
Em uma
coletiva de imprensa conjunta após o término das negociações com Xi, na
terça-feira, Putin disse: “Muitos pontos do plano de paz chinês podem ser
tomados como base para resolver o conflito na Ucrânia, assim que o Ocidente e
Kiev estiverem prontos para isso”.
Mas Putin
diz que ainda não viu essa “disposição” do outro lado.
Ao lado do
líder russo, Xi disse que seu governo é a favor da paz e do diálogo e que a
China está do “lado certo da história”.
Ele
novamente afirmou que a China tinha uma “posição imparcial” sobre o
conflito na Ucrânia, buscando colocar Pequim como possível agente de negociação
de paz.
Putin e Xi
também discutiram comércio, energia e laços políticos entre as suas duas
nações.
“A
China é o principal parceiro de comércio exterior da Rússia”, disse o
presidente Putin, prometendo manter e superar o “alto nível” de
comércio alcançado no ano passado. Xi deixou a Rússia nesta quarta-feira.
BBC
No passado,
Xi já disse que China e Rússia são “grandes potências vizinhas e parceiros
estratégicos”.
De acordo
com a imprensa estatal russa, os dois líderes também:
– Assinaram
dois documentos conjuntos — um detalhando planos para cooperação econômica e
outro sobre planos para aprofundar a parceria Rússia-China
– Chegaram a
um acordo sobre um gasoduto planejado na Sibéria para fornecer gás russo à
China via Mongólia
– Concordaram
que “nunca deve ser feita” uma guerra nuclear
– Discutiram
sua preocupação com o novo pacto Aukus — um acordo de defesa entre a Austrália,
o Reino Unido e os EUA
– Expressaram
preocupação com a crescente presença da aliança militar Otan na Ásia em
“questões militares e de segurança”
– Há
preocupações crescentes no Ocidente de que a China possa fornecer apoio militar
à Rússia.
Em Bruxelas,
o diretor da Otan, Jens Stoltenberg, disse que sua aliança “não viu
nenhuma prova de que a China está entregando armas letais à Rússia”.
Mas ele
acrescentou que há “sinais” de que a Rússia solicitou armas e que o
pedido está sendo considerado em Pequim.
Uma
declaração conjunta divulgada pela China e pela Rússia após a reunião entre os
dois líderes disse que a estreita parceria entre os dois países não constitui
uma “aliança político-militar”.
As relações
“não constituem um bloco, não têm um carácter conflituoso e não são
dirigidas contra terceiros países”, acrescentaram.
Putin também
aproveitou a coletiva de imprensa para acusar o Ocidente de usar armas com um
“componente nuclear” e disse que a Rússia seria “forçada a
reagir” se o Reino Unido enviasse projéteis feitos com urânio empobrecido
para a Ucrânia.
O Ministério
da Defesa do Reino Unido disse que o urânio empobrecido é um “componente
padrão” que “não tem nada a ver com armas nucleares”.
Xi foi
recebido com grandes honrarias ao chegar ao Kremlin para um segundo dia de
negociações na terça-feira.
Ele disse
estar “muito feliz” por estar em Moscou e descreveu as conversas com
o presidente Putin como “francas, abertas e amigáveis”.
Sua visita à
Rússia ocorreu dias depois que o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado
de prisão contra Putin por acusações de crimes de guerra.
A visita de
Estado aconteceu quase ao mesmo tempo da viagem surpresa do primeiro-ministro
do Japão, Fumio Kishida, a Kiev — tornando-o o primeiro líder do Japão a
visitar um país em conflito desde a Segunda Guerra Mundial.
O presidente
ucraniano Volodymyr Zelensky disse a Kishida que participará da cúpula do G7 no
Japão em maio por meio de um link de vídeo.
Ele disse em
entrevista coletiva nesta terça-feira que também pediu à China que se
envolvesse nas negociações, mas estava esperando uma resposta.
“Oferecemos à China para se tornar um parceiro na implementação da fórmula da paz”, disse ele. “Nós convidamos vocês para o diálogo, estamos aguardando sua resposta.”