PM atira em rosto de menina de 1 ano com arma de airsoft na Zona Leste de SP
PM atira em rosto de menina de 1 ano com arma de airsoft na Zona Leste de SP
Filmagem de câmera de segurança gravou momento que policial militar saca arma e dispara contra criança, que estava sendo transportada irregularmente pelo pai numa moto. Ela foi ferida, está internada num hospital e tomou pontos na face.
Por Indianara Campos, Alfredo Perez, TV Globo e g1 SP — São Paulo
Vídeo
gravado por câmera de segurança mostra o momento que um policial militar atira
no rosto de uma menina de 1 ano com uma arma de airsoft, na madrugada desta
terça-feira (26), na Zona Leste de São Paulo (veja acima). A informação foi
confirmada à reportagem pela Polícia Civil.
Airsoft é
uma arma de pressão que dispara munição de plástico usada em estandes de tiro,
mas não faz parte dos equipamentos da Polícia Militar (PM). Até a última
atualização desta reportagem a criança estava internada no Hospital Tide
Setubal em São Miguel Paulista. Ela precisou levar pontos no rosto.
A bala foi
retirada pelos médicos numa cirurgia feita na menina. O artefato foi
encaminhado à Polícia Técnico-Científica para ser periciado. A família da
menina procurou uma delegacia e registrou um boletim de ocorrência para apurar
o caso. O 50º Distrito Policial (DP), Itaim Paulista, investiga o crime de
tentativa de homicídio e tenta identificar o policial militar que atirou na
criança.
A
Corregedoria da PM também apura o caso e a conduta dos policias militares que
estavam na viatura que foi filmada por uma câmera de um estabelecimento na Rua
Sete Estrelas, no Itaim Paulista.
Menina estava em moto
Nas imagens
é possível ver o momento que um policial que estava dirigindo o carro da
Polícia Militar saca a arma de airsoft e aponta na direção de uma moto que
passava na mesma via, mas no sentido contrário. Na motocicleta estavam a menina
e o pai dela, que pilotava o veículo.
Segundo o
Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran) quem transporta criança
menor de dez anos na garupa de uma moto fere a lei e comete infração gravíssima
pelo Código Nacional de Trânsito (CNT). A punição para isso é pagamento de
multa ou suspensão do direito de dirigir, além da possibilidade de reter o
veículo.
Delegado investiga tentativa de
homicídio
Mas não foi
isso o que os policiais que estavam na viatura da PM fizeram. Ao invés de dar
uma ordem de parada para o pai da menina, um dos agentes atirou na direção da
motocicleta, segundo o delegado que investiga o caso.
“Não
houve ordem de parada, não houve abordagem policial, nenhum tipo de registro,
nenhum tipo de comunicação”, disse o delegado Gregory Goes Siqueira,
titular do 50º DP. “Conduta que julgo não ser adequada. O certo seria dar
ciência à autoridade de plantão para que fosse feito o registro e a
consequência jurídica dos fatos adequados.”
De acordo
com o delegado, o PM que atirou na criança será responsabilizado criminalmente
por tentativa de assassinato.
“Adianto
que a conduta se amolda ao tipo penal de tentativa de homicídio, no mínimo a
título de dolo eventual [quando se assume o risco de matar]”, falou
Gregory. “Entendo que o policial militar que tem um conhecimento técnico
prévio deve presumir que um disparo de airsoft daquela distância, numa moto no
sentido contrario, poderia causar um acidente, uma fatalidade com a criança
vindo a óbito em virtude de uma conduta deliberada, consciente e
voluntária”.
Para o 50º
DP, o fato de o policial militar ter usado um equipamento que não pertence à
corporação aumenta a gravidade do que ele fez. “Não há justificativa para
utilizar um instrumento que nem faz parte do acervo que faz parte da atividade
policial: o airsoft. O que demonstra a torpeza da conduta”, falou o
delegado.
O veículo da
Polícia Militar que aparece no vídeo já foi identificado pela investigação da
Polícia Civil. A Corregedoria informou que afastou preventivamente os dois PMs
que estavam na viatura.
Menina ficou ferida e chorou
A madrinha
da menina falou à reportagem que o pai da criança tinha pego a filha para levar
até a sua casa. Mas quando chegou lá, viram ela sangrando no rosto de chorando.
“A
gente olhou, já estava furado e um monte de sangue nela”, afirmou a
mulher, que não quis se identificar. “A gente tá abalado. Se ele tivesse
dado a ordem, mandado parar, eu mesmo tinha descido da minha casa, pegado a
neném. Só que um erro não justifica o outro porque a neném não tem culpa
nenhuma”.
“Tão
falando que foi airsoft, mas se é um tiro de verdade… iam matar a
menina”, disse a madrinha da criança.