Poderes chegam a consenso de que ‘emendas PIX’ devem ser mantidas, mas com critérios de transparência, diz STF após reunião
Poderes chegam a consenso de que 'emendas PIX' devem ser mantidas, mas com critérios de transparência, diz STF após reunião
Encontro entre representantes dos Três Poderes ocorreu após decisão do STF que suspendeu execução de emendas impositivas. Emendas PIX serão identificadas previamente, recursos priorizarão obras inacabadas e haverá prestação de contas ao TCU.
Por Márcio Falcão, Beatriz Borges, TV Globo e g1 — Brasília
O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou nota nesta terça-feira (20) em que afirma que os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário chegaram a um consenso de que as emendas parlamentares serão mantidas, mas deverão “respeitar critérios de transparência, rastreabilidade e correção”.
A nota foi
divulgada após reunião entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), os
presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), e representantes do governo sobre o impasse em torno do pagamento das
emendas parlamentares.
O ministro
da Casa Civil, Rui Costa, representou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) no encontro.
De acordo
com o STF, na reunião, ficou acordado que as chamadas “emendas PIX”
serão mantidas, com o critério da impositividade (dever de execução
obrigatória), mas será necessária a identificação prévia do objetivo da
destinação do recurso, com prioridade para obras inacabadas e com prestação de
contas ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Em relação
às emendas individuais, estas também serão mantidas com o critério da
impositividade, seguindo regras que serão estabelecidas em até dez dias em
acordo entre Executivo e Legislativo.
Sobre as
emendas de bancada, ficou acertado que estas serão destinadas a projetos
“estruturantes” em cada estado e no Distrito Federal, de acordo com a
definição das bancadas, sendo proibido que um parlamentar, individualmente,
decida sobre o destino dos recursos.
Já as
emendas de comissões temáticas do Senado e da Câmara deverão ser destinadas a
projetos de interesse nacional ou regional conforme procedimentos que também
serão definidos por Legislativo e Executivo em até 10 dias.
Ainda de
acordo com o STF, ficou acertado que o Congresso e o Palácio do Planalto vão
definir que o valor das emendas parlamentares não poderá ser superior ao
aumento total das despesas discricionárias, que são aquelas não obrigatórias.
Consenso
sobre ‘rastreabilidade’
Em
entrevista após a reunião, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, afirmou
houve, entre os presentes, um consenso de que é necessário garantir a
“rastreabilidade” das emendas.
“Há um
consenso pleno de que é preciso que haja rastreabilidade dessas emendas e
transparência, portanto, é preciso saber quem indica e para onde vai o
dinheiro, tudo sob controle do Tribunal de Contas da União” afirmou.
Barroso
disse também que tudo o que foi acordado ainda será analisado pelo ministro
Flávio Dino, que suspendeu o pagamento das emendas.
O motivo
da reunião
A ideia da reunião, segundo ministros do STF, foi buscar uma solução constitucional e de consenso sobre o tema das emendas parlamentares (entenda mais aqui).
Na semana
passada, o plenário do STF confirmou por unanimidade uma decisão individual do
ministro Flávio Dino que suspendeu a execução das emendas impositivas e impôs
restrições para as chamadas “emendas PIX”.
Nesse tipo
de emenda, a transferência é feita diretamente para estados e municípios sem
transparência e sem a necessidade da apresentação de projeto.
Paralelamente,
Dino solicitou que o Executivo e o Legislativo criassem regras que aumentassem
a transparência e a rastreabilidade das emendas.
Nesse
contexto, Lira enviou, também na semana passada, à Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) uma proposta que limita decisões individuais de ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF).
Por que o
Congresso briga tanto pelas emendas?
As emendas
não representam só dinheiro. Junto com elas, vem poder, prestígio e
possibilidades políticas.
Os
parlamentares não querem abrir mão de nenhum pedaço desse poder, ainda mais
considerando que, nos próximos meses, há duas eleições muito importantes no
calendário: as eleições municipais, em outubro; e as eleições para presidência
da Câmara e do Senado, em fevereiro do ano que vem.
O poder
de quem distribui
Em um
ambiente com critérios pouco claros sobre para qual parlamentar vai determinada
emenda, ganha muito poder aquele líder político que faz a função da
distribuição. Hoje, esse papel está com líderes partidários e com a cúpula da
Câmara e do Senado.
Ter a
proximidade com esses líderes significa ter acesso às emendas. Isso cria uma
força política para determinada aliança.
Lembrando
que todos parlamentares estão buscando eleger o maior número de prefeitos
aliados e também de eleger, para as presidências da Câmara e do Senado, um
político próximo de seu grupo.
Impacto
nos municípios
Poder enviar
recursos das emendas diretamente para o caixa do município de um
correligionário é um grande trunfo para qualquer parlamentar.
Assim, ele
consegue fortalecer o próprio nome no município e também contribuir para obras
e projetos que poderão ser capitalizados politicamente por seus aliados. É uma
arma poderosa para se sair bem nas eleições municipais deste ano e, daqui a
dois anos, nas eleições gerais.
Força
perante o governo
Se o
Congresso tem acesso a grandes fatias do Orçamento, e o governo, ainda por
cima, é obrigado a pagar, os parlamentares se tornam muito mais livres de
qualquer necessidade de negociação com o poder Executivo.
Isso dá ao
Congresso mais poder de barganha. Para o governo, por outro lado, o poder de
barganha fica menor.
Se
congressistas não precisam tanto do governo para ter dinheiro, podem pedir
cargos para o Executivo sem precisar dar muito em troca. O governo, por sua
vez, precisa entregar cada vez mais exigências se quiser ver seus projetos
aprovados.