Polícia indicia sete pessoas por tortura de homens suspeitos de furtar picanha em mercado de Canoas
Polícia indicia sete pessoas por tortura de homens suspeitos de furtar picanha em mercado de Canoas
Polícia Civil divulgou resultado da investigação na manhã desta quinta-feira (15). Eles também devem responder por extorsão mediante sequestro.
Por Jonas Campos, RBS TV e g1 RS 15/12/2022 10h05 Atualizado há 24 minutos
A Polícia
Civil divulgou, na manhã desta quinta-feira (15), que indiciou sete pessoas
pelos crimes de tortura e extorsão mediante sequestro praticados contra dois
homens, de 32 e 47 anos, suspeitos de furtar pacotes de picanha de um
supermercado de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Os
indiciados são dois ex-funcionários do estabelecimento, que pertence à rede
Unisuper, e cinco seguranças da Glock Serviços de Portaria, que era responsável
pela segurança do local. Três dos seguranças são policiais militares. Os
ex-funcionários eram gerente e subgerente do estabelecimento. Foto acima.
Os advogados
que defendem o gerente e o subgerente disseram que não vão se manifestar sobre
o caso. Já a rede Unisuper disse que deve se manifestar posteriormente. A
empresa Glock não havia respondido ao pedido de posicionamento até a última
atualização desta reportagem
De acordo
com o delegado Robertho Peternelli, responsável pela investigação, o
indiciamento foi pelo crime de tortura, pois as vítimas “sofreram grave
violência” ao longo dos 45 minutos que foram espancadas dentro no depósito
do supermercado. Já pelo crime de extorsão mediante sequestro porque foram
impedidos de sair do local até que pagassem um valor em dinheiro exigido pelos
indiciados.
“É um
caso que choca, de uma situação que se repete. Não cabe a seguranças tentar
fazer justiça com as próprias mãos. É necessário que seja feito o devido
encaminhamento para que, dentro da lei, haja a responsabilização. Essa é a
forma correta de conduzir situações como essa”, explica o delegado
Peternelli.
Em
depoimento à polícia e durante entrevista à RBS TV, uma das vítimas disse ter
sido alvo de ofensas racistas. Sobre esse caso, Peternelli diz que a polícia
vai apurar a circunstância das ofensas.
Os
indiciados
Foram
indiciados: o gerente Adriano Dias, e o nome do subgerente Jairo da Veiga. O
primeiro-tenente da reserva Gilmar Cardoso Rodrigues e os soldados em estágio
probatório, lotados no 20º Batalhão de Polícia Militar (20º BPM), na Zona Norte
de Porto Alegre, Gustavo Henrique Inácio Souza Dias e Romeu Ribeiro Borges
Neto. Outros dois não tiveram os nomes revelados.
Em
entrevista à RBS TV, uma das vítimas detalhou as agressões. Segundo ela, o
segurança de jaqueta desferiu chutes contra sua cabeça e na boca. “Ele me
chutou bastante na cabeça”, disse. O PM de roupa rosa “também deu
bastante soco, bastante paulada”.
O segurança
de camiseta amarela e o PM de camiseta cinza “começaram aquela tortura
como se fosse uma palmatória. Eles mandaram esticar as mãos e eles vinham com
sarrafo e davam com força”.
Para o homem
de cinza, o agredido disse ter pedido para não ser agredido no peito, em razão
de um infarto sofrido em agosto. “Ele disse: ‘é, negão, não é pra bater no
teu peito? Então, agora que eu vou bater no teu peito'”, relata.
O policial
militar aposentado, de acordo com o relato, era chamado de
“comandante”. Ele ainda teria ordenado que o celular da vítima fosse
quebrado.
“Bateu,
mas bateu pouco. Ele não batia tanto que nem os outros. Os outros eram mais
fortezinhos, então os outros eram que batiam mais”, fala.
Ele ainda
comenta que o gerente do supermercado levou uma máquina de cartão de crédito
para o pagamento das carnes. As vítimas dizem que foram exigidos R$ 800 e que
os produtos foram divididos entre os agressores.
De acordo
com a polícia, as duas pessoas que foram torturadas teriam furtado dois pacotes
de picanha, com custo de R$ 100 cada, e foram flagradas pela equipe de
segurança do local. Após o flagrante, a dupla passou por uma sessão de tortura,
sendo agredida por 45 minutos. As vítimas são dois homens, de 32 e 47 anos,
sendo um negro e outro de pele branca.
Ainda
conforme a polícia, 31 câmeras de segurança gravaram o que aconteceu dentro do
supermercado e também no depósito onde as vítimas foram agredidas. Após a
denúncia, os policiais foram até o estabelecimento coletar as imagens, mas
perceberam que os arquivos haviam sido deletados logo que os agentes entraram
no local. No entanto, a perícia recuperou as imagens.
A Polícia
Civil confirmou que a Glock Serviços de Portaria é de propriedade da esposa de
um policial militar. Já a Polícia Federal (PF) diz que a empresa atuava
“de modo totalmente irregular” em atividades de segurança privada. A
partir disso, foi aberto um processo administrativo de encerramento das
atividades da empresa, que pode resultar na cassação do registro de seu CNPJ.