Preço de alimentos e bebidas cai pelo 5º mês seguido, mas ainda está acima do que era há 1 ano
Preço de alimentos e bebidas cai pelo 5º mês seguido, mas ainda está acima do que era há 1 ano
Alimentos e bebidas têm variação negativa de preços no indicador prévio da inflação desde junho. No acumulado de 12 meses até outubro, no entanto, grupo ainda tem alta de 0,69%.
Por Daniel Silveira, g1 — Rio de Janeiro
Pelo quinto
mês seguido o Brasil registrou queda na média dos preços de alimentos e
bebidas, apontou a prévia da inflação oficial do país divulgada nesta
quinta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O recuo, no
entanto, ainda não se reflete no bolso do consumidor. Segundo especialistas,
apesar de essa ser a sequência mais longa de quedas nos preços de alimentos em
seis anos, os brasileiros continuam a pagar mais caro para se alimentar.
(entenda mais abaixo)
De acordo
com o indicador divulgado pelo IBGE, por exemplo a média de preços do grupo de
alimentos e bebidas recuou 0,31% em outubro em comparação a setembro.
O número
representa uma deflação menos intensa quando comparada a junho, quando teve
início a sequência de quedas do grupo no Índice de Preços ao Consumidor Amplo
15 (IPCA-15).
De junho a
outubro, o grupo de alimentos e bebidas acumulou um recuo de 2,64%. No
acumulado do ano, no entanto, a queda é um pouco menor, de 0,54%.
Segundo o
IBGE, desde 2017 não havia uma sequência tão grande de taxas negativas nos
preços dos produtos alimentícios pesquisados para composição do indicador.
Naquele ano, foram sete deflações seguidas, de junho a dezembro, acumulando
queda de 3,21%.
E para este
ano o cenário não deve ser muito diferente: a expectativa é que 2023 repita a
mesma sequência — de sete meses consecutivos de queda de preços — para
alimentos e bebidas.
“Caso
se confirmem as previsões, o indicador deve acumular queda de 3%”, disse o
economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV
Ibre) André Braz, reiterando que a previsão é que o grupo continue a apresentar
um recuo de preços em novembro e dezembro.
Pouco efeito para o consumidor
Mesmo com a
tendência de queda nos preços dos alimentícios, no entanto, a leitura dos
economistas é que o consumidor ainda não deve sentir um alívio no bolso.
Um exemplo
disso, dizem, é o indicador acumulado em 12 meses, que ficou em 0,69% em
outubro — sinalizando que, na média, o brasileiro está pagando mais caro para se
alimentar que no ano passado.
Mesmo se
confirmada a deflação de 3% no acumulado até setembro, “as famílias devem
perceber mais uma estabilidade que uma queda nos preços”, disse Braz.
Além disso,
a expectativa é que o grupo de Alimentação e bebidas apresente uma deflação
cada vez menos intensa ao longo dos próximos meses — como já indica a taxa de
outubro.
“Agora,
vai ficar menos evidente a queda de preços dos alimentos”, afirmou o economista
André Perfeito.
Veja os dez
produtos alimentícios com maiores quedas no preço médio em 12 meses:
Cebola:
-30,96%
Óleo de
soja: -28,74%
Feijão –
carioca (rajado): -17,94%
Batata-inglesa:
-17,74%
Fígado:
-17,58%
Leite longa
vida: -17,1%
Peito:
-16,8%
Filé-mignon:
-15,97%
Óleos e
gorduras: -15,57%
Abacate:
-15,36%
Abobrinha:
-15,01%
Perfeito
enfatizou que a deflação dos alimentícios de forma isolada não aumenta o poder
de compras do consumidor.
“O que
vai fazer as pessoas consumirem mais é aumento da renda. O rendimento médio
está estável em relação à inflação. Os dados do mercado de trabalho mostram
aumento da população ocupada, ou seja, a massa salarial está subindo, mas a
renda em si continua estável”, apontou.
Espaço no orçamento para comer mais e
melhor
Segundo
Braz, sempre que a alimentação fica mais barata, por ser essencial, ela abre
espaço para acomodar outra despesa no orçamento doméstico.
Para as
famílias com rendimentos menores, porém, esse cenário se reflete na compra de
mais comida — sobretudo aquelas em situação de extrema pobreza, que se
alimentam apenas com o básico.
“A
família em extrema pobreza incorpora algo mais nutritivo na alimentação, uma
proteína, como a carne ou o frango. Ou seja, ela come mais e melhor quando a
alimentação fica mais barata”, enfatizou.
“Alimentos
ficando mais baratos diminuem o custo de vida dos menos favorecidos. Se a
comida fica mais barata é um alivio imediato no orçamento de famílias mais
humildes e permite que elas consumam outras coisas, inclusive outras
comidas”, reforçou Braz.
Comer fora está cada vez mais caro
Os dados do
IPCA-15 mostram, ainda, que o reajuste de preços da alimentação no domicílio acompanha
o movimento do grupo de alimentos e bebidas como um todo. Já a alimentação fora
do domicílio vai na contramão, ficando cada vez mais cara.
A
alimentação no domicílio também registrou a 5ª deflação seguida em outubro, de
0,52% ante setembro, sendo, também, a menos intensa do período.
A diferença
em relação ao grupo geral dos alimentícios está no indicador acumulado em 12
meses, que aponta queda de 1,05% na comparação com os preços praticados em
outubro do ano passado.
Veja os dez
produtos alimentícios com maior alta de preços em 12 meses:
Abacaxi:
18,72%
Tangerina:
18,92%
Melancia:
19,19%
Manga:
19,69%
Banana-da-terra:
20,11%
Farinha de
mandioca: 23,11%
Azeite de
oliva: 24,51%
Cenoura:
35,8%
Morango:
39,52%
Tomate:
40,5%
Já a
alimentação fora do domicílio, por sua vez, registrou o 38º mês consecutivo de
alta no indicador mensal: a taxa de outubro foi de 0,21%.
O número, no
entanto, ainda representa uma desaceleração em comparação ao mês anterior, cujo
índice foi de 0,46%. A última deflação da alimentação fora do domicílio foi
registrada em agosto de 2020, quando recuou 0,30%.
Num
movimento inverso, porém, o indicador acumulado em 12 meses mostra que a alta
de preços da alimentação fora do domicílio vem perdendo fôlego.
Nos 12 meses até outubro, por exemplo, o indicador registrou avanço de 5,36%, uma desaceleração em comparação a abril (7,93%) e o menor patamar desde fevereiro de 2021 (5,13%).