Preços dos alimentos devem cair nos próximos meses, projeta presidente do Banco Central
Preços dos alimentos devem cair nos próximos meses, projeta presidente do Banco Central
Para Campos Neto, país está em processo de redução da inflação, apesar da alta no setor de serviços. BC tem projetado novo corte de juros básicos em maio.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília
O presidente
do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (3) que a
inflação de alimentos, a qual gerou preocupação de consumidores e do governo,
deve retroceder nos próximos meses.
De acordo
com dados do IBGE, a inflação de alimentação e bebidas, em 12 meses até
fevereiro deste ano, somou 2,62% – abaixo do índice geral, de 4,50%.
Entretanto, alguns alimentos registraram alta maior neste período. São eles:
Arroz:
+30,72% em doze meses até fevereiro
Feijão
preto: +20,11%
Batata
inglesa: +42,69%
Cenoura:
+56,6%
Banana maçã:
+14,37%
Cereais,
leguminosas e oleaginosas: +21,91%.
“Alimentação
teve dois ou três meses ruins, teve um ‘payback’ [retorno de uma queda] que foi
de dezembro. Mas a gente não acha que a alimentação é um grande problema neste
ano. Eu entendo que tem tido assim uma ansiedade, pois a gente teve, principalmente,
arroz, feijão, ovos, leites e derivados subindo muito nos últimos dois meses.
Mas a gente acha que inflação de alimentos volta a cair”, declarou Campos
Neto, em evento do Bradesco BBI, em São Paulo.
Campos Neto
avaliou, ainda, que o Brasil está em um processo de desinflação em linha com o
que o Banco Central espera, mas acrescentou que o setor de serviços, fonte de
preocupação, tem mostrado uma inflação mais alta.
Intervenção
no câmbio
O presidente
do Banco Central também explicou que a intervenção feita pela instituição no
dólar nesta semana foi pontual, para evitar “disfuncionalidades”.
Para ele, o câmbio não deveria ser um problema no Brasil.
Campos Neto
reiterou que o câmbio é flutuante no Brasil, ou seja, que o dólar e outras
moedas variam (sobem e descem) de acordo com a oferta e demanda.
No
comunicado, o BC informou que havia “demanda por instrumentos
cambiais” por conta do resgate (vencimento) de títulos do tesouro nacional
indexados ao dólar. A operação buscou manter a proteção aos investidores cujos
papeis estavam vencendo, e evitar uma corrida ao mercado à vista.
“A
gente entende que o câmbio é flutuante, e que o BC tem de fazer intervenções
quando houver disfuncionalidade. Com fluxo forte, e volume de reservas
razoável, o câmbio não deveria ser um problema no Brasil”, declarou Campos
Neto.
O fluxo
forte a que o presidente do BC se refere está relacionado com o ingresso de
recursos por conta das exportações brasileiras e por investimentos feitos no
Brasil. Já as reservas internacionais, consideradas um seguro contra crises
cambiais, estão acima de US$ 350 bilhões.
Mesmo assim,
ele avaliou que uma eventual decisão do Federal Reserve, o BC norte-americano,
de não baixar os juros a partir de junho – quando o mercado espera o início do
processo – pode ter impacto nas moedas ao redor do mundo.
Decisões
sobre a taxa de juros
Para definir
a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas
de inflação, o BC faz projeções para o futuro. Se as estimativas estão em linha
com as metas, pode reduzir os juros. Se estão acima, pode manter a taxa estável
ou até mesmo subir.
Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste ano, e também para o primeiro e o segundo semestres de 2025 (em doze meses). Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
A meta de
inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e
será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
A partir de
2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser
contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida.
Na semana
passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024
somará 3,75% e, a de 2025, 3,51%. Ou seja, acima da meta central nos dois anos,
mas dentro da margem.
O Banco
Central indicou, em seus últimos comunicados, que deve realizar mais um corte
de juros em maio deste ano, de 10,75% para 10,25% ao ano. Mas não quis projetar
novo corte em junho por conta de incertezas.
Campos Neto
afirmou nesta quarta-feira que as metas centrais de inflação serão perseguidas.
“A expectativa de inflação [do mercado] de longo prazo não tem convergido para a meta (…) As pessoas têm incorporado que a meta não é a meta, mas a meta é a meta. Queremos cumprir. A gente entende que é importante perseguir a meta”, acrescentou.