Presidente da Coreia do Sul diz que vai revogar lei marcial após deputados rejeitarem medida
Presidente da Coreia do Sul diz que vai revogar lei marcial após deputados rejeitarem medida
Lei que restringe direitos civis foi rejeitada por unanimidade em votação emergencial na Assembleia Nacional. Medida provocou protestos em massa e críticas dentro do próprio governo.
Por Redação g1
O presidente
da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, anunciou nesta terça-feira (3) que vai revogar
o decreto de lei marcial após deputados da Assembleia Nacional votarem para
banir a medida. Logo depois, Yoon se reuniu com o gabinete governamental, que
concordou em derrubar o decreto.
Mais cedo, o
presidente decretou a lei marcial, que é um dispositivo que restringe o acesso
a direitos civis e substitui a legislação normal por leis militares, como
limitações e controle da imprensa, da Assembleia Nacional e das forças
policiais.
Yoon argumentou que queria “limpar” o país de aliados da Coreia do Norte e fez críticas à oposição. Segundo ele, forças “antiestado” estavam tentando paralisar as funções do governo e desestabilizar a ordem constitucional do país.
“Declaro
lei marcial para proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças
comunistas norte-coreanas, para erradicar as desprezíveis forças antiestado
pró-norte-coreanas que estão saqueando a liberdade e a felicidade do nosso
povo, e para proteger a ordem constitucional livre”, disse mais cedo.
Após
anunciar que estava revogando a medida, Yoon afirmou que ordenou que as forças
militares recuassem e voltou a criticar deputados opositores.
“Peço,
entretanto, que a Assembleia Nacional interrompa imediatamente o comportamento
ultrajante que está paralisando o funcionamento do país por meio de
impeachments, manipulações legislativas e orçamentárias.”
Reação
negativa
O decreto da
lei pegou os sul-coreanos de surpresa e provocou uma série de reações
negativas, inclusive dentro do próprio governo.
O acesso à
Assembleia Nacional foi fechado após a imposição da lei marcial, e forças
especiais da polícia foram enviadas para conter manifestantes. Ainda assim,
deputados conseguiram entrar no plenário e fizeram uma sessão de emergência.
A lei
marcial foi rejeitada por todos os 190 deputados que participaram da votação.
De acordo com a legislação sul-coreana, o presidente deve revogar a medida
imediatamente.
Cho Kuk, que
é líder de um pequeno partido de oposição, afirmou que irá negociar com as
outras legendas a votação de um impeachment contra o presidente. Kuk afirmou
que Yoon se mostrou como uma ameaça à democracia e à Constituição.
Já o líder
da oposição, Lee Jae-Myung, disse após a votação emergencial que a lei marcial
é inválida e que, por isso, qualquer pessoa atuando sob essa medida estaria
descumprindo a lei do país.
Enquanto
isso, milhares de sul-coreanos foram às ruas para protestar contra a lei
marcial. Alguns também pediram a prisão do presidente. Os manifestantes
comemoraram assim que receberam a notícia de que a medida seria revogada.
Crise
política
Yoon foi eleito presidente em maio de 2022, por uma margem inferior a 1%. Ele faz parte do Partido do Poder Popular, de direita.
Em abril
deste ano, o Partido Democrata — de oposição — venceu com ampla vantagem as
eleições legislativas. Com isso, a legenda ampliou o controle da Assembleia
Nacional, conquistando mais de 170 das 300 cadeiras da Casa.
O resultado
refletiu a baixa popularidade do presidente, que enfrenta desafios para reduzir
o custo de vida e combater a possibilidade de uma crise demográfica por causa
do baixo índice de natalidade.
Além disso,
o atual governo se viu envolvido em acusações de corrupção. A primeira-dama,
por exemplo, foi gravada recebendo como presente uma bolsa de luxo avaliada em
quase R$ 11 mil. O valor ultrapassa o que é permitido pela lei.
Nos últimos
meses, a oposição aprovou moções para investigar a primeira-dama. Todos os
projetos acabaram sendo vetados pelo presidente.
Já na semana
passada, o Partido Democrata rejeitou o orçamento do governo e avançou com um
plano de revisão de gastos, cortando o equivalente a mais de R$ 17 bilhões. A
medida irritou o gabinete presidencial, sendo que a porta-voz do governo chamou
a ação de “tirania parlamentar”.
Coreia do
Norte
A medida
também vem em um momento de escalada de tensões sem precedentes na última
década entre as duas Coreias, que tecnicamente ainda estão em guerra.
Só no último
ano, a relação entre os dois países foi marcada por ameaças, rompimento de um
acordo de não agressão, testes com mísseis balísticos internacionais,
lançamento de foguetes em área de fronteira e até o despejo de balões
transportando sacos com itens de lixo.
Com a piora
nas relações, os Estados Unidos firmaram uma parceria com a Coreia do Sul, o
que resultou em vários exercícios militares conjuntos.
No início de
2024, Kim Jong-un ordenou que seu Exército se prepare para uma possível guerra.
Ele também afirmou que passou a ver a Coreia do Sul como um Estado inimigo.
Em junho,
Rússia e Coreia do Norte assinaram um acordo de ajuda mútua que resgata
relações semelhantes que os países tinham durante a Guerra Fria.