Presidente do INSS defende revisão nos cálculos que reduziu em R$ 10 bilhões previsão no pagamento de benefícios
Presidente do INSS defende revisão nos cálculos que reduziu em R$ 10 bilhões previsão no pagamento de benefícios
Alessandro Stefanutto afirmou ao g1 que cálculos foram feitos com 'tecnicidade e ciência'. Em poucos dias, previsão de pagamento de benefícios previdenciários foi alterada, o que facilitou a abertura de espaço para gastos dos ministérios.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília
O presidente
do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, afirmou
nesta sexta-feira (14) ao g1 que solicitou a técnicos que revisassem, em maio,
o valor estimado para o pagamento de benefícios previdenciários em todo ano de
2024.
Com o
recálculo, feito em apenas alguns dias, a expectativa de desembolso de
benefícios previdenciários neste ano ficou cerca de R$ 10 bilhões menor — o
que facilitou que o governo pudesse autorizar, naquele momento, novos gastos
para os ministérios no valor de R$ 5,4 bilhões.
A informação sobre o recálculo foi publicada inicialmente pelo jornal Folha de S.Paulo.
Segundo
Stefanutto, presidente do INSS, os cálculos, após a revisão, estão corretos e
foram feitos com tecnicidade, com ciência.
Nesta quinta
(13), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento,
Simone Tebet, informaram que vão fazer uma revisão ampla e irrestrita dos
gastos do governo. A ideia é buscar o equilíbrio das contas públicas.
Entenda
A equipe
econômica divulga a cada dois meses o relatório de receitas e despesas do
orçamento. O último relatório bimestral foi divulgado no dia 22 de maio, data
limite fixada em lei.
Se as
projeções de arrecadação e de gastos estiverem em linha com as metas de
superávit primário, e com o limite fixado ano a ano para as despesas do
Executivo, o governo pode liberar gastos aos ministérios. Do contrário, é
obrigado a bloquear recursos.
No dia 15 de
maio, o Ministério da Previdência e Assistência Social emitiu um documento, que
serve de base para o relatório bimestral de orçamento do governo, estimando em
R$ 912,3 bilhões o valor a ser pago em benefícios previdenciários neste ano.
Apenas
alguns dias depois, em 19 de maio, antes da divulgação do relatório de
orçamento pela área econômica, outro documento foi produzido pelo Ministério da
Previdência, no qual o valor estimado para o pagamento de benefícios
previdenciários foi reduzido para R$ 902,7 bilhões.
Essa folga a
mais no valor previsto para as despesas com benefícios previdenciários em 2024
facilitou à área econômica do governo a liberação de novos gastos para os
ministérios.
A primeira
vez que veio isso fui eu que olhei e disse, nós temos que melhorar isso aí,
porque isso aí está ocupando espaço orçamentário sem justificativa técnica.
Vamos fazer. Se der o mesmo valor, tudo bem. Eu não tinha um número mágico. Eu
fui, conversei com os técnicos e aí nós mudamos, disse o presidente do INSS,
Alessandro Stefanutto, ao g1.
Segundo ele,
o primeiro relatório do INSS, produzido em 15 de maio, embutia um crescimento
vegetativo de 0,64% por mês ao estimar, para o restante do ano, um ritmo de
despesas verificado de janeiro a abril — que estava influenciado, de acordo
com sua explicação, por valores atrasados (de pessoas que tinham direito ao
benefício e que estavam na fila esperando sua vez).
Stefanutto argumentou que, como a fila já estava mais próxima do fim, não havia razão para estimar, para o restante de 2024, um ritmo de pagamento maior que, em sua visão, não seria verificado, comprometendo assim um espaço orçamentário dos ministérios. No segundo relatório, após a revisão, o crescimento vegetativo caiu para 0,17% ao mês.
Quando veio
o relatório deles, os meus técnicos, nós debatemos o relatório e eu falei isso
está errado. Isso aí é uma previsão contando que ainda há muito processo para
internalizar e não há. Eles voltaram, fizeram outra prancheta, com mais
técnicos e voltaram com isso. Então sim, a primeira vez que veio isso fui eu
que olhei e disse, nós temos que melhorar isso aí, porque isso aí está ocupando
espaço orçamentário sem justificativa técnica, declarou o presidente do INSS.
Entre o
primeiro e o segundo relatório do INSS, houve uma mudança entre os técnicos que
assinaram os documentos. Questionado por que isso aconteceu, Stefanutto afirmou
que os servidores que assinaram o segundo documento são de outra diretoria que
entende e que estão fazendo enfrentamento à fila. É só por isso, acrescentou.
O presidente
do INSS negou que tenha recebido qualquer pedido, por parte de autoridades do
governo, para reduzir a estimativa para o pagamento de benefícios
previdenciários e, assim, possibilitar a liberação de recursos artificialmente
para os ministérios.
Eu nunca
recebi pedido para baixar a expectativa, nunca recebi nada, ninguém me falou,
nem mesmo o presidente da República, até os técnicos. Nunca ninguém pediu isso.
Eu fiz o cálculo dentro do que a gente acredita. Pode acontecer de ficar maior
Pode. Pode acontecer de ficar menor por conta dos trabalhos de revisão de
benefício Também pode, concluiu Stefanutto, presidente do INSS.