Primeira prova do Enem teve mais textos e nível de dificuldade médio
Primeira prova do Enem teve mais textos e nível de dificuldade médio
Estudantes dizem que a avaliação teve menos gráficos e tirinhas.
Publicado por Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
A candidata
Cíntia Oliveira fala sobre as provas ao lado da filha, a estudante
universitária Maria Eduarda Oliveira, após o primeiro dia do Enem 2023, na
Universidade Veiga de Almeida, na Tijuca. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de
Janeiro (RJ), 05/11/2023 – A candidata Cíntia Oliveira ao lado da filha, Maria
Eduarda Oliveira, após o primeiro dia do Enem – Fernando Frazão/Agência Brasil
O primeiro
dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) terminou e, para quem fez
o exame, agora o plano é descansar e se preparar para as provas do próximo
domingo (12). Segundo estudantes, a prova foi cansativa, com menos gráficos e
tirinhas e mais texto do que edições anteriores. Professores classificaram como
médio o nível de dificuldade desta edição.
Quando
Cintia Oliveira, 45 anos, deixou o local de prova, a filha, Maria Eduarda
Oliveira, 24 anos, já estava no portão esperando por ela. “Em 2017, foi ela que
veio me buscar e agora eu vim com ela”, diz a filha, que com a nota do Enem
entrou no curso de conservação e restauração na Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). A mãe, que é costureira, quer usar a nota do Enem para entrar
no curso superior. Ela ainda está decidindo o curso, mas pretende entrar na
área de logística.
“Não estava difícil não, só não me preparei tanto quanto gostaria”, diz Oliveira. “Não tive muito preparo, chego do trabalho tarde, não estou fazendo cursinho, busco o conteúdo na internet, então, estudar em casa é mais difícil. Achei que tinham muitas questões voltadas para mulheres, preconceito, questões indígenas. Achei bem interessante”, complementa. Oliveira agora prepara-se para o segundo dia de exame e espera ir com a filha também para a faculdade.
Neste
domingo (5), os candidatos resolveram questões de linguagens e ciências
humanas, além da redação. No próximo domingo (12), as provas serão de ciências
da natureza e matemática. Ao todo, são 180 questões, sendo 45 de cada área do
conhecimento.
Gabrielle
Gomes, 20 anos, que pretende cursar publicidade, audiovisual ou fisioterapia,
fez a prova do Enem pela segunda vez. “Confesso que estou tranquila, estava bem
nervosa, mas agora estou mais tranquila. Agora é esperar a segunda fase, se
Deus quiser, vai dar tudo certo”. A estudante diz que não conseguiu estudar
muito, mas não achou a prova muito difícil. “Estou aqui pela segunda vez, mas
ainda vejo como teste, para ano que vem melhorar mais e fazer o curso que
quero”.
Carks
Suarez, 20 anos, conta que foi surpreendido pelo tema da redação do Enem:
Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado
realizado pela mulher no Brasil. “Fui pego de surpresa. Decidi não fazer porque
não compreendi muito. Acho que faltou da minha parte conteúdo explicativo do
que era para fazer. Acho que não compreendi direito o que eu tinha que
explicar”, diz.
Não tirar a
nota zero na redação é pré-requisito para participar de programas federais de
vagas e bolsas no ensino superior. Suarez diz que sabe que isso o prejudicará.
Mesmo assim, ele vai fazer o segundo dia de prova, para testar os
conhecimentos. “Eu sou bom em números e questões de química, acho que me darei
melhor. Hoje vou descansar bastante, comer um pouco e me preparar para mais”,
diz.
Pedro
Henrique Cabral, 17 anos, também pretende descansar. Este foi o primeiro Enem
que fez. Ele termina este ano o ensino médio. “Foi cansativo, mas não é muito
difícil. Achei a prova tranquila, mas acho que vencem você na base do cansaço.
Teve cinco questões que não consegui fazer por cansaço”, conta.
Nível médio
Na avaliação
do professor e autor do Colégio e Sistema pH Diogo D’Ippolito, a prova deste
domingo teve nível de dificuldade médio para fácil, além disso, segundo ele,
muitos conteúdos trabalhados ao longo do ensino médio ficaram de fora da
avaliação. “Considero com abrangência média com relação aos temas do ensino
médio, não passou por todos os temas trabalhados no ensino médio, o que já era
de se esperar. Isso, entretanto, não invalida a relevância das questões, com
temáticas socialmente importantes como racismo e questões de gênero”, diz.
Segundo ele,
as questões estavam bem trabalhadas e desafiavam os estudantes a associarem o
conteúdo à vida real, ao cotidiano e a pensarem isso de forma crítica. De
acordo com o professor, a prova contou com menos imagens do que edições
anteriores do Enem.
O diretor do Curso Anglo, Sérgio Paganim, concorda com D’Ippolito. “É uma prova com muito texto. Houve poucos gráficos, tirinhas, imagens, campanhas publicitárias, o que já foi uma tônica do Enem. A gente tem, na verdade, fundamentalmente, uma prova com uma quantidade muito grande de textos, de diversos gêneros textuais, mas textos verbais, escritos, o que leva à exaustão”, diz.
A presença
dos textos, no entanto, faz com que o Enem seja menos conteudista. “Claro que
cobra alguns conteúdos, mas a leitura dos textos é fundamental para estabelecer
a relação entre a atualidade, entre os problemas sociais e entre os
conhecimentos específicos das disciplinas abordadas”.
O Enem é a
principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio do
Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Programa Universidade para Todos
(Prouni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). A nota também pode ser
usada para ingresso em universidades no exterior.
Edição:
Sabrina Craide