Protestos contra violência policial na França revivem a memória da revolta das periferias em 2005

Protestos contra violência policial na França revivem a memória da revolta das periferias em 2005

Macron tenta evitar a disseminação de confrontos, que se agravam pela terceira noite, após a morte de jovem por policial.




30/06/2023 10h15 - Atualizado há 4 horas

Três noites de protestos violentos, barricadas, prisões, prédios públicos danificados e carros incendiados.

A reação popular à morte do adolescente Nahel, baleado à queima-roupa por um policial em Nanterre, nos arredores de Paris, vem alarmando o governo francês: numa tentativa de evitar o risco de contágio e a repetição dos distúrbios ocorridos na chamada “revolta das periferias”, em 2005, Emmanuel Macron despachou 40 mil agentes de segurança para as principais cidades do país.

A tensão racial se alastra num roteiro já conhecido e ancorado na brutalidade policial em regiões marginalizadas e povoadas por descendentes de imigrantes. Fez o presidente francês pedir calma e apontar a morte do jovem como inexplicável e indesculpável.

O policial suspeito de atirar em Nahel, jovem de origem argelina que dirigia um carro e tentou escapar de uma blitz, foi preso preventivamente.

“Ele viu um rosto de árabe, um garotinho, e quis tirar a vida dele”, desabafou a mãe Mounia, referindo-se ao agente que disparou a arma.

O drama tem os mesmos ingredientes do estopim dos protestos que eclodiram por três semanas nos subúrbios 18 anos atrás: um policial mata um adolescente de uma comunidade carente da capital francesa.

Grupos de jovens dos chamados banlieues saem às ruas para expressar a raiva latente de uma população marginalizada e oriunda de ex-colônias francesas, destruindo o que há pela frente.

Em outubro de 2005, os jovens Zyed Benna, de 17 anos, e Bouna Traoré, de 15, morreram eletrocutados em uma subestação elétrica em Clichy-sous-Bois, na periferia de Paris, tentando escapar de uma revista policial.

Os confrontos repetidos a cada noite levaram o então primeiro-ministro Dominique Villepin a instaurar o estado de emergência, pela primeira vez desde a Guerra da Argélia, permitindo o toque de recolher sempre que necessário.

O motim teve reflexos traumáticos para os franceses: 10 mil veículos queimados e 300 prédios danificados em dezenas de distritos e quatro mil presos. Dez anos depois, os dois policiais indiciados pela morte dos dois jovens foram absolvidos.

Tudo o que Macron quer e precisa é não ter que enfrentar mais uma onda de protestos, após amargar meses de insatisfação popular em torno de sua reforma previdenciária.

O presidente foi rápido em condenar a morte do jovem, distanciando-se do antecessor Nicolas Sarkozy, que em 2005 atuava como o poderoso ministro do Interior. Ele incitou a repressão policial, chamando os jovens mortos de bandidos, e viu a situação sair rapidamente do controle.

Com a popularidade em queda livre e ciente do barril de pólvora que está prestes a explodir, Macron se equilibra entre condenar a violência policial e ordenar mais medidas enérgicas para conter os protestos, sob o risco de ser arrastado pelo efeito bumerangue. 

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