RBR findou reinado da Mercedes na F1 em 2022 com pentacampeonato
RBR findou reinado da Mercedes na F1 em 2022 com pentacampeonato
Time encerrou jejum de nove anos sem títulos em temporada que sagrou Verstappen como prodígio de sua geração e futuro da categoria, com bicampeonato incontestável. Veja ainda números e recordes.
Por Bárbara Mendonça e Bruna Rodrigues — Rio de Janeiro 28/12/2022 12h12 Atualizado há 48 minutos
O inverno chegou para a Mercedes em 2022. Em um ano de mudança no regulamento técnico na F1, a octacampeã de construtores viu o ressurgir da rival RBR, potencializado pela leitura precisa do novo regulamento da categoria por parte do projetista Adrian Newey e a excelente fase do agora bicampeão Max Verstappen. O título de construtores da equipe austríaca findou um jejum de nove anos, desde que Sebastian Vettel conquistou o tetracampeonato em 2013.
Ferrari só teve
oito corridas sem problemas na F1 em 2022
A trajetória da RBR reforça o projeto
de sucesso da equipe na temporada. O time começou o ano novo tendo dor de
cabeça com o RB18, seu carro de 2022, e sofrendo com a confiabilidade;
abandonou três vezes nas primeiras três corridas e viu a Ferrari disparar com
Charles Leclerc e vencer duas delas. Mas o jogo mudou e terminou com 17
vitórias e oito poles positions para a equipe austríaca.
A conquista, porém, veio após longa
espera, e começou a ser pavimentada com o retorno da Honda, sua fornecedora de
unidades de potência que retornou em 2022 para auxiliá-la a desenvolver seus
próprios motores (e decidiu ficar).
Nesse meio tempo, de 2014 a 2021, a
Mercedes conquistou oito campeonatos mundiais de construtores e sete de
pilotos. E foi justamente no último ano de domínio da montadora alemã que a RBR
começou sua volta por cima.
Prelúdio em 2021
Beneficiada pelo congelamento dos
carros de 2020 devido à pandemia do coronavírus e o aprendizado em oito
temporadas com os motores híbridos, a RBR em 2021 conquistou mais vitórias (11)
que a Mercedes (9), dez delas com Max Verstappen e uma com Sergio Pérez. Foram
ainda dez poles contra nove da rival, embora as aparições em pódios tenham sido
menores – 35% contra 42%.
Foi crucial, também, a chegada de
Sergio Pérez. Dispensado da Racing Point após conquistar a primeira vitória do
time em 2020, o mexicano ficou atrás do campeão Verstappen mas conseguiu
incomodar a Mercedes em momentos cruciais, principalmente no polêmico GP de Abu
Dhabi.
A RBR deixou a Mercedes sem vencer por
cinco corridas consecutivas, maior jejum da equipe alemã na era híbrida, e
desde 2013; Hamilton se ausentou do lugar mais alto do pódio até o GP da
Inglaterra – no qual colidiu com Verstappen, foi punido, mas, ainda assim,
chegou em primeiro.
Até então detentor do recorde
exclusivo de pelo menos um triunfo a cada temporada que disputou (marca que se
foi em 2022), ele nunca havia ficado tanto tempo sem vencer desde a seca de
seis corridas, do GP do México de 2017 ao GP da China de 2018.
No fim, foi a octacampeã de
construtores quem levou a melhor, mas a RBR pôde se despedir de 2021 tendo
liderado o Mundial por algumas semanas, algo que não fazia desde 2013.
O ano da virada:
2022
Ano novo, vida nova, regulamento novo.
O novo carro da F1 resgatou o efeito solo esquecido na década de 1980 e
prometeu revolucionar a competição na categoria. Sem uma referência recente, a
livre interpretação das novas regras levou muitas equipes ao erro – incluindo a
octacampeã Mercedes. Outras, como Ferrari e a RBR, acertaram na medida.
No caso da equipe austríaca, parte do
sucesso se deve à presença do projetista Adrian Newey, que possui diversos
projetos de carros vitoriosos no currículo e foi contratado pela RBR em 2006.
Com isso, o time chefiado por
Christian Horner pôde superar seus problemas de confiabilidade do começo da
temporada, que provocaram três abandonos nas três primeiras corridas. O
desenvolvimento em curso do RB18 foi potencializado pelos deslizes da Ferrari,
que tirou mais de 150 pontos de Charles Leclerc só na primeira metade da
temporada.
A RBR concluiu a primeira parte de
2022 liderando os campeonatos de construtores e pilotos e, embora Leclerc tenha
se aproximado de Verstappen, o time austríaco esteve longe de ser ameaçado pela
Ferrari no Mundial de equipes até seu pentacampeonato, no GP dos Estados Unidos
– a três corridas para o fim do ano.
A conquista ainda ganhou um caráter
emocional: no sábado que antecedeu a corrida em Austin, faleceu o fundador da
equipe Dietrich Mateschitz. Christian Horner, chefe da RBR, dedicou o
pentacampeonato ao bilionário austríaco.
Super Max
Falar do sucesso da RBR é,
necessariamente, analisar a temporada de excelência de Max Verstappen. No posto
de homem a ser batido em 2022 após a conquista de 2021, o holandês se
sobressaiu em prudência, velocidade e paciência – diante da desconfiança inicial
com o RB18.
O jovem conhecido e criticado pelo
excesso de arrojo deu lugar a um competidor que desfilou potência enquanto
duelava com um rival que cometeu erros importantes e mostrou-se pressionado.
Superou Leclerc e a Ferrari e aí, bastou jogar com o regulamento “debaixo
do braço”.
Se o bicampeonato veio com quatro
provas de antecedência, no entanto, não quer dizer que não houveram percalços.
O RB18 sofreu com problemas por quase toda a metade inicial da temporada. Max
abandonou os GPs do Bahrein e Austrália com quebras no carro. Entre estas, sua
primeira vitória, na Arábia Saudita, veio depois de um duelo intenso com
Leclerc.
F1 2022: relembre
marcos do bicampeonato de Verstappen
Max Voltou a sofrer com falhas
mecânicas na Inglaterra, já líder do campeonato mas cercado pelo monegasco da
Ferrari e o colega Sergio Pérez. Na Hungria, porém, ele virou o jogo: depois de
uma quebra do motor na classificação, foi de décimo ao primeiro lugar.
Ele voltou a escalar o grid na etapa
seguinte, na Bélgica, ao partir de 13º depois de trocar sua unidade de
potência. O xeque-mate veio no Japão, em uma prova caótica que chegou a ser
paralisada por mais de 2h devido à chuva – e contou com uma punição a Leclerc
para não adiar a conquista.
Domínio em
números
2022 foi o quinto campeonato de
construtores da RBR. O título encerrou um jejum de nove anos, desde o
tetracampeonato em 2013;
Max Verstappen faturou seu
bicampeonato um ano após encerrar o jejum de oito anos da RBR sem conquistar um
Mundial de pilotos. Ele é o primeiro holandês com dois títulos e o segundo mais
jovem bicampeão da F1 (25 anos e 9 dias), atrás de Sebastian Vettel (24 anos e
28 dias);
Verstappen conquistou seu segundo
título com a terceira maior antecedência na história, a quatro corridas para o
fim do campeonato, atrás de Michael Schumacher (2002, seis corridas) e Nigel
Mansell (1992, cinco corridas).
1º – Recorde de
vitórias em uma única temporada
Verstappen venceu 15 corridas em 22
etapas, 68% do calendário 2022. A marca o estabelece como maior detentor de
triunfos num único ano, superando Michael Schumacher (13, em 2004) e Sebastian
Vettel (13, em 2013). Lembrando que a temporada de 2004 teve 18 provas,
enquanto a de 2013 teve 19.
2º – Recorde de
pontos
Verstappen anotou 454 pontos em 2022 e
bateu a marca de Lewis Hamilton (413) de maior pontuação conquistada numa
temporada, desde a introdução do atual sistema, em 2010.
3º – Maior número
de aparições no pódio em 2022
Verstappen terminou 17 corridas de
2022 entre as três primeiras colocações. Além disso, a RBR colocou seus
titulares no top 3 das corridas em 27 ocasiões, maior marca de 2022. Atrás dela
vem a Ferrari, com 20; 11 pódios de Leclerc e 9 de Carlos Sainz.
4º – Recorde de
diferença de pontos superada até o título
Para ser campeão, Verstappen teve que
superar 46 pontos de distância para o então líder Leclerc. E o fez em três
provas, no GP da Espanha – contando com o abandono do monegasco. Foi a maior
diferença batida por um piloto para assumir e manter a liderança do Mundial da
F1 desde Sebastian Vettel, que estava a 44 pontos de Fernando Alonso a seis
corridas para o fim da temporada 2012.
5º – Melhor taxa
de conversão de poles positions
Verstappen teve a melhor taxa de
conversão de poles positions em vitórias: 85%, faturando seis corridas das sete
em que largou da ponta. Maior pole sitter de 2022, Leclerc só triunfou duas
vezes nas nove etapas em que largou da primeira colocação, com apenas 22% de
conversão.
6º – Recorde de
vitórias fora da pole position
Verstappen se tornou o piloto com mais
vitórias fora da pole position numa única temporada, um total de nove,
superando a marca de Lewis Hamilton de oito triunfos, em 2019.
7º – Segunda
maior vantagem de pontos para o vice-campeão
Com 146 pontos, Verstappen não
conseguiu bater a marca de Vettel de 155 pontos de diferença para o
vice-campeão Fernando Alonso (2013). Mas valeu a segunda maior vantagem da
história, superando Hamilton. Em 2020, o britânico anotou 124 pontos sobre o
vice-campeão Valtteri Bottas.
8º – Primeira
vitória largando abaixo do quarto lugar
O triunfo na Holanda, após largar do
décimo lugar, foi a primeira vitória de Verstappen fora do top 4 no grid
inicial. Ele ainda ampliou sua marca pessoal ao ir de 13º para 1º no GP da
Bélgica. Vale destacar: essas corridas foram consecutivas, o que fez do
bicampeão da RBR o primeiro piloto, desde Bruce McLaren em 1959 e 1960, a
faturar duas provas largando sucessivamente fora do top 10.
A vitória na Bélgica do 13º lugar foi
também um marco para a RBR, que nunca teve um piloto a vencer partindo de tão
longe no grid de largada.
9º – Segunda
maior pontuação no Mundial de equipes
Somando 759 pontos no campeonato de
construtores com Verstappen e Pérez, a RBR anotou o segundo melhor resultado do
atual sistema de pontuação da F1, estabelecido em 2010. Quem pontuou mais que
ela foi apenas a Mercedes, em 2016: 765 pontos.
10º – Maior
número consecutivo de 1º ou 2º lugares de uma equipe
Se não dá pra vencer, é importante
garantir a segunda colocação em uma corrida. E com Verstappen e Pérez, a RBR
pôde fazê-lo em 19 ocasiões sucessivas em 2022, batendo um recorde de 17
corridas da Williams, em 1993 e 1994, e também de 17 da rival Mercedes em 2014
e 2015.