Reconstrução e fortalecimento marcam Dia da Luta dos Povos Indígenas
Reconstrução e fortalecimento marcam Dia da Luta dos Povos Indígenas
Data nacional é comemorada nesta terça-feira.
Publicado em 07/02/2023 - 06:24 Por Agência Brasil* - Brasília
A criação do
Ministério dos Povos Originários e a condução da Fundação Nacional dos Povos
Indígenas (Funai) por uma mulher marcam o Dia Nacional da Luta dos Povos
Indígenas, comemorado nesta terça-feira (7). A data foi criada em 2008 como
forma de dar visibilidade aos debates sobre pautas importantes desses povos.
Para a
ministra dos Povos Originários, Sônia Guajajara, há uma crise humanitária no
Brasil. Ela citou como causas as invasões de territórios, o desmatamento, o
garimpo ilegal, a falta de assistência adequada em saúde e saneamento, entre
outros.
“Não é
mais possível convivermos com povos indígenas submetidos a toda sorte de males,
como desnutrição infantil e de idosos, malária, violação de mulheres e meninas
e altos índices de suicídio. Presidente Lula, arrisco dizer, sem exagero, que
muitos povos indígenas vivem verdadeira crise humanitária em nosso país e agora
estou aqui para trabalharmos juntos, para acabar com a normalização deste
estado inconstitucional que se agravou nestes últimos anos”, disse
Guajajara, a primeira indígena a ocupar um cargo de ministra, no dia de sua
posse.
Ela tem
acompanhado as ações interministeriais que tentam conter a crise humanitária
envolvendo o povo Yanomami. Afetados pela presença do garimpo ilegal em suas
terras, os indígenas enfrentam casos de desnutrição e doenças como malária e
pneumonia, situação histórica que piorou nos últimos quatro anos.
Entrevista
coletiva da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, com lideranças ao
voltar da visita a Terra Indígena Yanomami, no Distrito Sanitário Especial
Indígena Yanomami.
Entrevista
coletiva da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, com lideranças ao
voltar da visita a Terra Indígena Yanomami, no Distrito Sanitário Especial
Indígena Yanomami. – Fernando Frazão/Agência Brasil
Segundo
Guajajara, setores de inteligência do governo federal e o movimento indígena
identificaram a fuga de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, em Roraima.
“Temos
essa informação de que muitos garimpeiros estão saindo. Mas é bom que saiam
mesmo, porque assim a gente até diminui a operação que precisa ser feita para
retirar 20 mil garimpeiros, [o que] demora um tempinho”, disse a ministra,
em entrevista. “Importante dizer que, para que a gente consiga sair dessa
situação de emergência em saúde, é preciso combater a raiz, que é o garimpo
ilegal. Não é possível que 30 mil yanomami sigam convivendo com 20 mil
garimpeiros dentro do seu território”, destacou.
Atualmente,
a Casa de Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista, tem 601 yanomami, entre
pacientes e seus acompanhantes. Além disso, 50 indígenas estão internados no
Hospital Geral de Roraima (HGR) e no Hospital da Criança Santo Antonio (HCSA),
ambos em Boa Vista. Há duas equipes compostas por profissionais da Força
Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), uma em Auaris e outra no Surucucu,
onde são feitos, em média, de 60 a 70 atendimentos diários.
Reconstrução
Ao tomar
posse na presidência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia
Wapichana prometeu reconstruir o órgão e elogiou o fato de a Funai estar pela
primeira vez sob o comando de indígenas.
“Esse é o
primeiro passo que a gente tem de dar. Reorganizar a Funai. Fortalecer, buscar
orçamento”, afirmou. A presidenta também citou a falta de servidores públicos e
o estoque de ações judiciais acumuladas nos últimos anos como desafios para o
órgão.
“Todo esse
caminho que percorremos até hoje para chegar aqui foi longo e muito sofrido.
Muitas vidas se perderam no caminho e ainda estão se perdendo. Passamos anos de
desmonte, de sucateamento, de desvalorização dos servidores públicos”, declarou
Wapichana.
Ambivalência
Para o
coordenador jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Maurício
Terena, a data é “ambivalente” pois esses povos vivem momento significativo em
relação às políticas brasileiras para a
área.
“Digo que
ela carrega um sentimento de ambivalência porque, ao passo que estamos felizes
com [as novas interlocuções para os povos indígenas], também temos assistido a
situação dos yanomami, que sofrem uma crise humanitária desde 2020. Acho
importantíssimo salientar a articulação dos povos indígenas, que já vinha
denunciando a invasão garimpeira dentro do Território Yanomami”, afirmou.
Segundo
Terena, a gestão de Jair Bolsonaro promoveu “uma desestruturação dos órgãos
responsáveis pelos povos indígenas”. Entre os pontos destacados pelo
coordenador, como sucateamento de políticas públicas, está o enfraquecimento da
Funai e a queda no orçamento destinado à área.
Sepé
Tiaraju
O Dia
Nacional de Luta dos Povos Indígenas é celebrado desde 2008. A data escolhida é
uma homenagem ao guarani Sepé Tiaraju, guerreiro morto em 7 de fevereiro de
1756 durante a histórica Batalha de Caiboaté, em São Gabriel (RS).
O motivo do
conflito foi o Tratado de Madrid, que estabelecia novas fronteiras entre as
colônias da Espanha e de Portugal e, consequentemente, determinou a evacuação
da população que vivia na República Guarani, na região das Missões, abrangendo
o que é hoje o oeste do Rio Grande do Sul, o Norte da Argentina e o Paraguai.
Assim como Sepé, cerca de 1.500 indígenas foram mortos na batalha. Contudo, o
corpo dele não foi encontrado e, assim, nasceu o mito de que o herói teria
subido aos céus, tornando-se um santo.
Em 2017, o
Vaticano autorizou o início do processo de canonização do guarani para se
tornar, oficialmente, santo. Atualmente, a canonização está na fase de
beatificação e pode demorar alguns anos para ser concluída.
*Com
informações da Agência Senado
Edição:
Graça Adjuto