Reforma tributária: imposto de 25% sobre o consumo seria um dos maiores do mundo
Reforma tributária: imposto de 25% sobre o consumo seria um dos maiores do mundo
Dados são da Tax Foundation, uma organização que atua há mais de 80 anos coletando dados sobre tributos ao redor do mundo. Em 25%, valor considerado pelo governo federal, IVA brasileiro já estaria acima da média da OCDE e dos países da Europa.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília 16/02/2023 04h00 - Atualizado há uma hora
Uma alíquota
de 25% para o futuro Imposto Sobre Valor Agregado (IVA), a ser cobrado sobre o
consumo no Brasil, seria uma das maiores do mundo (veja abaixo quais são as
taxas mais altas).
Os dados são
da Tax Foundation, organização sem fins lucrativos que atua há mais de 80 anos
fazendo avaliações sobre impostos e coletando dados sobre tributos ao redor do
mundo.
A taxação de
25% por meio do futuro imposto sobre o consumo foi citada pelo secretário
extraordinário do Ministério da Fazenda para a reforma tributária, Bernard
Appy, como necessária para manter o atual peso dos impostos — objetivo da área
econômica.
“Todo
desenho é feito para manter a carga tributária, sem aumento. Até porque o
consumo já é muito tributado no Brasil”, admitiu Appy, na semana passada.
Com a manutenção do peso dos impostos sobre o consumo, os mais pobres seguem penalizados. Isso porque, proporcionalmente, o custo do consumo é maior para a população mais vulnerável do que para a mais abastada.
Segundo
Appy, porém, as propostas contemplam um sistema de “cashback”
(pagamento de recursos) para famílias de baixa renda. Ele não detalhou como
funcionaria esse modelo.
A ideia das
propostas é substituir ao menos cinco impostos por dois. Seriam extintos: ICMS
(estadual), PIS/Cofins e IPI (federais) e ISS municipal. Eles seriam seriam
substituídos por um IVA e, também, por um imposto seletivo (conhecido como imposto
sobre o pecado).
Imposto
em outros países
De acordo
com informações da Tax Foundation, mais de 170 países adotam o modelo de
cobrança do IVA, incluindo todos os países europeus.
A média do
IVA nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), o chamado “clube dos ricos”, que o governo Jair Bolsonaro fez
pedido de adesão para o Brasil, é de 19%.
A taxa
padrão média da União Europeia é de 21%, seis pontos percentuais acima da taxa
mínima de IVA exigida pela regulamentação da região.
– Japão tem
um imposto sobre valor agregado de 10%.
– Hungria
tem o maior IVA do mundo em 27%.
– Croácia,
Dinamarca e Suécia possuem um imposto sobre o consumo de 25%.
– Luxemburgo
tem uma taxa de 16%, Malta de 18% e Alemanha de 19%.
A única
grande economia do mundo sem IVA são os Estados Unidos. No país, cada estado
tem seu próprio regime sobre vendas, em vez de um imposto federal. A média dos
impostos sobre o consumo nos EUA, porém, é baixa: de 7,4%.
Transição
No Brasil, a
transição, que vem sendo discutida no Legislativo, prevê um período de migração
dos antigos tributos para o novo IVA gradualmente em cinco anos.
Após a
transição para o novo IVA no Brasil, as propostas preveem que os três entes da
federação teriam autonomia para fixar a alíquota do imposto.
Ou seja,
cada estado e município teria liberdade para elevar ainda mais sua alíquota,
que poderia ficar acima dos 25% fixados inicialmente (dependendo da localidade
do país).
Reforma
tributária
Discutida há
décadas e muito aguardada pelo setor produtivo, a reforma dos impostos sobre o
consumo é considerada prioritário pelo governo para aproximar as regras
brasileiras do resto do mundo e reformar um sistema que é tido como caótico por
empresários e investidores.
O tema
voltará a ser debatido no Congresso Nacional, onde já tramitam duas propostas
sobre o assunto: PEC 110, que iniciou a tramitação pelo Senado, e a PEC 45, que
iniciou a tramitação pela Câmara dos Deputados.
O principal
objetivo da reforma é simplificar e facilitar a cobrança dos impostos. Essa
medida é considerada fundamental para destravar a economia e impulsionar o
crescimento do país e a geração de empregos.
Novo
imposto
Com a
implementação do IVA no Brasil, os tributos passariam a ser não cumulativos.
Isso significa que, ao longo da cadeia de produção, os impostos seriam pagos
uma só vez por todos os participantes do processo. Atualmente, cada etapa da
cadeia paga os impostos individualmente, e eles vão se acumulando até o
consumidor final.
Outra
mudança é que o tributo sobre o consumo (IVA) seria cobrado no
“destino”, ou seja, no local onde os produtos são consumidos, e não
mais onde eles são produzidos. Isso contribuiria para combater a chamada
“guerra fiscal”, nome dado a disputa entre os estados para que
empresas se instalem em seus territórios.
As propostas
em discussão no Congresso Nacional, porém, preveem uma regra de transição da
origem para o destino que contemple um período de 40 a 50 anos, sendo que, nas
primeiras décadas, a arrecadação obtida pela regra anterior seria blindada pela
correção inflacionária. O objetivo desse longo período seria assegurar que não
haveria perda de recursos para os estados e municípios.
Base
ampla
Durante
evento na semana passada, o secretário Bernard Appy, do Ministério da Fazenda,
defendeu que o futuro IVA tenha uma base ampla de incidência, ou seja, que boa
parte dos produtos e serviços sejam tributados pelo novo imposto.
De acordo
com a Tax Foundation, Nova Zelândia é o país com a base tributária mais ampla,
cobrindo aproximadamente 100% do consumo total com o imposto.
Em seguida,
aparecem: Luxemburgo e Estônia com 78% e 73%, respetivamente. México (37%),
Colômbia (35%) e Estados Unidos (34%) apresentam os piores índices. O índice de
base tributária médio da OCDE é de 54%.
A
organização informa que, na OCDE, se uma empresa estiver abaixo de um
determinado limite de receita anual, ela não é obrigada a participar do sistema
de IVA.
“Isso significa que as pequenas empresas – ao contrário das empresas acima desse limite – não cobram IVA sobre suas saídas vendidas a clientes, mas também não podem receber um reembolso pelo IVA pago sobre insumos comerciais”, informou.
A média nos
países da OCDE que têm um limite de IVA é de aproximadamente US$ 56.300, ou
seja, cerca de R$ 300 mil.
No Brasil, o
secretário Bernard Appy indicou que o Simples Nacional seria mantido na reforma
tributária. O regime de exceção beneficia empresas com faturamento anual de até
R$ 4,8 milhões.