Rússia dispara novo míssil balístico contra Ucrânia
Rússia dispara novo míssil balístico contra Ucrânia
Artefato atingiu cidade de Dnipro, a 1.000 km de onde foi lançado, segundo militares ucranianos. Putin afirmou tratar-se de um novo míssil que foi testado após ataque da Ucrânia com mísseis dos EUA e do Reino Unido.
Por Redação g1
A Rússia
lançou um novo míssil balístico contra a Ucrânia nesta quinta-feira (21), em
reação ao ataque ucraniano com artefatos fornecidos pelos Estados Unidos e pelo
Reino Unido.
Mais cedo,
militares ucranianos afirmaram que a Rússia usou um míssil balístico
intercontinental no ataque. Em pronunciamento horas depois, o presidente russo,
Vladimir Putin, disse que o artefato utilizado foi um novo tipo de míssil
balístico.
Putin disse
que o ataque foi uma forma de testar o novo míssil “em resposta à agressão
do Ocidente”. O líder russo considera o uso de mísseis norte-americanos e
britânicos em ataques ucranianos uma entrada forma dos Estados Unidos e do
Reino Unido no conflito.
Segundo a
Ucrânia, o míssil russo foi lançado da região de Astrakhan, no sul da Rússia,
em ataque a Dnipro, no centro-leste da Ucrânia, na manhã desta quinta.
As duas cidades são separadas por 1.000 km.
Horas após o
bombardeio, autoridades ocidentais falaram à agência de notícias Reuters sob
condição de anonimato não se tratar de um míssil balístico intercontinental a
partir de uma análise inicial, mas que a avaliação ainda poderia mudar. Um
oficial dos EUA também falou à Reuters que a Rússia lançou um míssil balístico
de alcance intermediário, e não um intercontinental, segundo apuração
preliminar.
O ataque
russo desta quinta teve como alvo empresas e infraestrutura crítica na cidade,
segundo a Força Aérea ucraniana. O governador regional, Serhiy Lysak, afirmou
que o ataque de mísseis russo danificou uma instalação industrial e provocou
incêndios em Dnipro. Duas pessoas ficaram feridas.
Um míssil
balístico intercontinental é lançado a partir da terra, pode ser equipado com
ogivas nucleares e, como o próprio nome indica, é projetado para viajar longas
distâncias, superiores a 5.600 km. Segundo a enciclopédia Britannica, apenas os
Estados Unidos, Rússia e China possuem esse tipo de mísseis.
Uma fonte da
Força Aérea ucraniana afirmou à agência de notícias AFP que o míssil lançado
pela Rússia não transportava uma ogiva nuclear.
O presidente
Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chamou Vladimir Putin de “maluco” e
afirmou que o presidente russo desdenha da vida humana.
“Hoje,
nosso insano vizinho mais uma vez revelou sua verdadeira natureza: seu desdém
pela dignidade, pela liberdade e pela própria vida humana. (…) Hoje, foi um
novo míssil russo. Sua velocidade e altitude sugerem capacidades balísticas
intercontinentais. As investigações estão em andamento”, afirmou Zelensky.
A acusação
do uso de um míssil intercontinental pelos russos ocorre após a Ucrânia ter
usado mísseis dos Estados Unidos e do Reino Unido para atingir alvos dentro da
Rússia nesta semana, algo que Moscou havia alertado repetidamente que seria
considerado uma escalada significativa. Os mísseis ATACMS e Storm Shadow, que
os ucranianos foram autorizados a utilizar, têm alcances de no máximo 300 km.
No ataque
desta quinta, a Rússia também lançou um míssil hipersônico Kinzhal e sete
mísseis de cruzeiro Kh-101, dos quais seis foram derrubados pelas defesas
aéreas, informou o Exército ucraniano.
Ao longo do dia, jornais e agências de notícias levantaram a possibilidade de que o míssil lançado não havia sido do tipo balístico internacional. Fontes de um governo do Ocidente disseram à agência de notícias Reuters que a Rússia não havia utilizado o míssil balístico internacional no ataque.
A Rússia não
havia se pronunciado sobre o lançamento do míssil até a última atualização
desta reportagem. Perguntado se o lançamento aconteceu, o porta-voz do Kremlin,
Dmitri Peskov, afirmou não ter nada a dizer sobre o assunto.
‘Totalmente
sem precedentes’
Andrey
Baklitskiy, um pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa para Desarmamento da
ONU, demonstrou surpresa com o lançamento do míssil intercontinental pelos
russos.
“Se for
verdade, isso será totalmente sem precedentes e o primeiro uso militar real de
um ICBM [míssil balístico intercontinental]. Não que faça muito sentido, dado
seu preço e precisão”, afirmou Baklitskiy.
A Defense
Express, uma consultoria de defesa ucraniana, questionou se os Estados Unidos,
principal aliado internacional da Ucrânia, haviam sido informados sobre o
lançamento do míssil com antecedência.
“Também
é uma questão se os Estados Unidos foram avisados sobre o lançamento e sua
direção, pois o anúncio de tais lançamentos é um pré-requisito para evitar a
ativação de um sistema de alerta de mísseis e o lançamento de mísseis em
resposta”, escreveu a Defense Express.
O
especialista em segurança alemão Ulrich Kuehn postou: “Parece que a Rússia
usou hoje pela primeira vez na história um míssil balístico intercontinental em
uma guerra, contra o alvo civil Dnipro”
Dimensão
internacional e acirramento das tensões
Nas últimas
semanas, a guerra na Ucrânia chegou ao seu 1.000º dia, e o conflito assumiu uma
dimensão internacional, com acirramento de tensões.
Isso ocorre
por conta da chegada de tropas norte-coreanas para ajudar a Rússia no campo de
batalha. Segundo os EUA, esse novo movimento motivou a mudança de política de
Biden em mísseis de longo alcance, o que irritou o Kremlin.
Como
resposta, na terça-feira (19) o presidente russo, Vladimir Putin, flexibilizou
os parâmetros para o uso de seu arsenal nuclear. Agora será aplicada uma nova
doutrina, que permite uma potencial resposta nuclear de Moscou até mesmo a um
ataque convencional contra a Rússia por qualquer nação apoiada por uma potência
nuclear. Isso poderia incluir ataques ucranianos, que são apoiados pelos EUA. Nos
últimos dias, a Ucrânia atacou o território russo com mísseis de longo alcance
americanos e britânicos. Um porta-voz do Estado-Maior Geral da Ucrânia afirmou
não ter informações, e a Rússia não confirmou imediatamente os ataques. A
extensão dos danos causados não foi esclarecida.
Após os
ataques ucranianos, o país ficou em alerta máximo para um “ataque
massivo” russo nesta quarta (20), o que causou o fechamento de embaixadas
dos EUA e de países europeus por precaução. O bombardeio de tamanha magnitude
não aconteceu, e foi denunciado pela Ucrânia como um “ataque
psicológico” — com isso, as embaixadas foram reabertas nesta quinta.
Trump
declarou que irá encerrar a guerra, sem especificar como, e criticou os bilhões
de dólares em ajuda à Ucrânia durante o governo Biden. Ambos os lados acreditam
que Trump provavelmente buscará negociações de paz — algo que não ocorre desde
os primeiros meses do conflito — e estão tentando fortalecer suas posições
antes de eventuais negociações.
A Rússia afirmou diversas vezes que o uso de armas ocidentais para atingir seu território longe da fronteira seria uma escalada significativa no conflito. A Ucrânia afirma que precisa dessa capacidade de mísseis para se defender, atacando bases na retaguarda usadas pelas tropas russas na guerra.