Salário mínimo será de R$ 1.412 em 2024; entenda o que muda e como o valor foi calculado
Salário mínimo será de R$ 1.412 em 2024; entenda o que muda e como o valor foi calculado
Nova legislação prevê que mínimo suba de acordo com a inflação e a alta do PIB. Reajuste de quase 7% já vale para salário e benefícios de janeiro, que serão pagos no início de fevereiro.
Por Mateus Rodrigues, Ricardo Abreu, g1 e GloboNews — Brasília
O salário
mínimo nacional será de R$ 1.412 a partir de 1º de janeiro de 2024 – R$ 92 a
mais que os R$ 1.320 em vigor atualmente.
O cálculo
tinha sido antecipado pelo g1 e inserido como previsão no Orçamento de 2024.
Segundo o Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou o
decreto assinado antes de viajar para o recesso de fim de ano.
Não há data
marcada para a publicação do documento, que pode acontecer até o próximo
domingo (31).
O novo valor
do salário mínimo entra em vigor em 1º de janeiro. Ou seja: quem recebe o
salário mínimo (ou múltiplos dele) ou benefícios vinculados a esse valor, como
o seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), já recebe o
total reajustado no início de fevereiro.
Entenda
abaixo como funciona o salário mínimo, qual a regra de reajuste e como essa
mudança impacta a economia brasileira.
Como funciona o salário mínimo?
Como o nome
já indica, o salário mínimo é a menor remuneração que um trabalhador formal
pode receber no país.
A
Constituição diz que trabalhadores urbanos e rurais têm direito a um
“salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender
a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”.
Ou seja:
pela Constituição, o salário mínimo tem que ser reajustado ao menos pela
inflação, para garantir a manutenção do chamado “poder de compra”. Se
a inflação é de 10%, o salário tem de subir pelo menos 10% para garantir que
seja possível comprar, na média, os mesmos produtos.
Nos governos
Michel Temer e Jair Bolsonaro, o reajuste do salário mínimo seguiu exatamente
essa regra. Foi reajustado apenas pela inflação, sem ganho real.
De acordo
com informações divulgadas em maio pelo Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo serve de
referência para 54 milhões de pessoas no Brasil – um em cada quatro
brasileiros.
O Dieese
calcula ainda que 22,7 milhões de pessoas são diretamente atingidas no bolso pelo
patamar do salário mínimo.
Além dos
trabalhadores que, por contrato, recebem um salário mínimo (ou múltiplos do mínimo),
há também as aposentadorias e benefícios como o Benefício de Prestação
Continuada (BPC) vinculados ao mesmo valor.
O salário
mínimo também gera impactos indiretos na economia, como o aumento do
“salário médio” dos brasileiros e a elevação do poder de compra do
trabalhador.
Como o governo chegou aos R$ 1.412?
Se cumprisse
apenas a regra da Constituição, de corrigir o valor pela inflação, o governo
poderia reajustar o salário mínimo dos atuais R$ 1.320 para algo em torno de R$
1.370,82.
O cálculo leva
em conta a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)
em 12 meses até novembro, que foi de 3,85%.
O governo
Lula, no entanto, prometeu ainda durante a campanha que retomaria a chamada
“política de valorização do salário mínimo”, o que significa aumentos
para além da inflação.
Em agosto, o
Congresso aprovou uma medida provisória editada por Lula em abril e incluiu
esse mecanismo na lei. Pela nova regra, o reajuste do salário mínimo leva em
conta dois fatores:
– a inflação
medida pelo INPC até novembro, como prevê a Constituição;
– o índice
de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores.
Com isso,
além dos 3,85% de inflação, o salário mínimo de 2024 crescerá 3% (ganho real)
equivalente à expansão do PIB em 2022.
Qual o impacto geral na economia?
Na proposta
de orçamento de 2024, enviada ao Congresso Nacional em agosto, o governo diz
que a valorização do salário mínimo (acima da inflação) está entre as políticas
para redução da desigualdade, que buscam garantir crescimento com inclusão
social.
O governo
também avalia que o aumento real do salário mínimo, em conjunto com o processo
de corte dos juros básicos da economia, devem impulsionar a demanda doméstica
em 2024 e ajudar no crescimento do Produto Interno Bruto – estimado em 2,5%
pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Ao conceder
um reajuste maior para o salário mínimo, o governo federal também gasta mais.
Isso, porque os benefícios previdenciários não podem ser menores que o valor do
mínimo.
De acordo
com cálculos do governo, a cada R$ 1 de aumento do salário mínimo cria-se uma
despesa pública adicional em 2024 de aproximadamente R$ 389 milhões.
O governo
chegou a prever inicialmente um salário mínimo ainda maior para 2024, de R$
1.421. Essa estimativa era baseada em uma previsão mais alta de inflação – que,
no fim das contas, não se confirmou.
O aumento maior do salário mínimo é um dos itens que eleva as despesas obrigatórias do governo para o ano – e, com isso, reduz os gastos livres. Dentro dos gastos livres estão, por exemplo, os investimentos em infraestrutura e o pagamento das contas de consumo dos órgãos públicos.