Sánchez se alia a independentistas catalães para assumir comando do governo espanhol

Sánchez se alia a independentistas catalães para assumir comando do governo espanhol

Premiê firma acordo controverso de anistia aos separatistas em troca de votos no Parlamento.


Por Sandra Cohen

Quatro meses após as eleições, Pedro Sánchez deverá ser novamente alçado ao cargo de presidente do governo espanhol, nesta quinta-feira (16), a um custo alto, que claramente reflete a divisão do país.

Segundo colocado no pleito de julho passado, ele assume o comando da Espanha graças a um acordo obtido com um grupo de pequenos partidos de esquerda e separatistas, com ideologias diferentes, que lhe cobrarão o preço da legislatura.

A encrenca de Pedro Sánchez reside na sua aliança mais controversa, com o partido independentista Juntos pela Catalunha, que enfureceu os opositores. Em troca da garantia dos sete votos da legenda no Parlamento, o pacto estipula a anistia ao líder Carles Puigdemont, exilado na Bélgica desde o fracassado referendo separatista em 2017.

A fúria desencadeada pelo acordo levou milhares de espanhóis às ruas, convocados pelo Partido Popular, de centro-direita, e pelo Vox, de extrema direita, em protestos que vêm se repetindo nas últimas semanas. O líder do Partido Popular, Alberto Nuñez Feijóo, foi o mais votado em julho, mas não conseguiu o número suficiente de deputados para formar governo mesmo se aliando ao Vox.

Com o apoio de mais seis partidos, Sánchez aposta que interromperá o avanço do populismo e do radicalismo de direita no país, conforme ele justificou nesta quarta-feira (16), no discurso em que apresentou seu projeto político ao Parlamento.

“Vale a pena assumir a anistia. As circunstâncias são o que são”, vaticinou ele, assegurando estar comprometido com a unidade da Espanha.

Ao obter a maioria de 179 deputados no Parlamento — três a mais do que o necessário — o Partido Socialista conseguirá aprovar o projeto de lei da Anistia a Puigdemont e outros quatro condenados, que poderão voltar ao país e concorrer a cargos públicos, além do indulto a centenas de funcionários públicos catalães.

A independência da Catalunha levou o país à beira da ruptura há seis anos e ainda divide a população catalã, embora as pesquisas recentes indiquem que atualmente um número menor apoie a separação da região do governo federal.

Sánchez é tachado de traidor da Espanha por seus opositores, que o acusam de vender o país em troca dos votos dos deputados do Juntos pela Catalunha e de aliar-se ao inimigo número 1 do Estado.

O desgaste do premiê em relação a anistiar os independentistas condenados é visível até entre os socialistas. Uma pesquisa da Metroscopia revelou que 40% dos simpatizantes do PSOE se sentem desconfortáveis com o acordo de anistia e 20% são contrários a ele.

No geral, dois entre cada três espanhóis rejeitam o projeto de Sánchez para indultar os independentistas. O temor é que os separatistas voltem a se agrupar em torno da secessão e pressionem o primeiro-ministro a ponto de comprometer o governo, que já nasce sob a insígnia do confronto.

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