Senado vota nesta terça projetos do pacote de Haddad para garantir meta fiscal em 2024
Senado vota nesta terça projetos do pacote de Haddad para garantir meta fiscal em 2024
Comissão deve analisar textos sobre apostas esportivas e tributação de offshores e fundos exclusivos. Projetos estão na lista de prioridades da Fazenda para elevar arrecadação.
Por Kevin Lima, g1 — Brasília
O Senado vai dar início nesta
terça-feira (21) à análise de duas propostas que compõem o pacote econômico do
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) para elevar a arrecadação
em 2024.
Os projetos em pauta já foram
aprovados pela Câmara dos Deputados. Um deles trata da regulamentação do
mercado de apostas esportivas online, enquanto o outro estabelece regras para a
tributação de offshores (investimentos no exterior) e fundos de investimento
exclusivos para pessoas de alta renda. (veja mais abaixo)
O compromisso de votar os textos foi
anunciado pelo presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na última
semana. A decisão vem na esteira de um vaivém de declarações de Lula e de
membros do governo sobre a possibilidade de uma mudança na meta fiscal estabelecida
para o próximo ano.
Meta fiscal
Ao enviar para o Congresso os projetos
da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA), o
governo definiu — em abril e em agosto, respectivamente — uma estimativa de
déficit zero nas contas da União.
Na última semana, após dizer que
“dificilmente” a meta proposta seria cumprida em 2024, Lula se reuniu
com o relator da LDO, deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), e ministros para
afastar a incerteza em torno do objetivo fiscal.
Ao deixar o encontro, Forte e o
ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, garantiram que não
haveria mudança na meta. No mesmo dia, Pacheco reiterou o compromisso do Congresso
em “perseguir a meta”.
“Temos responsabilidade com eles
porque são importantes para a sustentação do regime fiscal. […] Já houve
manifestação minha — e também do presidente [da Câmara,] Arthur Lira — nesse
sentido de que nós temos que perseguir e buscar a meta, que foi estabelecida
pelo ministro da Fazenda”, disse o presidente do Senado.
“Temos que confiar ao ministro da
Fazenda essas diretrizes e esse rumo da economia brasileira, e o Congresso
Nacional tem que ser colaborativo para essa finalidade”, acrescentou Pacheco.
R$ 168 bilhões
Na prática, o objetivo traçado pela
equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prevê que o governo gastará
somente o que arrecadar e o que tiver em caixa — ou seja, sem aumentar a dívida
pública para cumprir gastos e investimentos.
A definição e o resultado da meta
influenciam no cálculo do teto de despesas no novo arcabouço fiscal, que prevê
gatilhos para limitar o crescimento de gastos.
A Fazenda calcula que, para alcançar o
déficit zero, serão necessários R$ 168 bilhões a mais em arrecadação. A
aprovação dos projetos das apostas esportivas e das offshores fazem parte da
lista de prioridades da pasta para atingir a meta.
O ministério estima que, em 2024, será
possível arrecadar:
– R$ 700 milhões com a taxação do
mercado de apostas esportivas online
– e cerca de R$ 20 bilhões com a
taxação das offshores e dos fundos exclusivos.
Entenda a seguir as propostas em
discussão no Senado:
– regulamentação da apostas esportivas
– tributação de offshores e fundos
exclusivos
Apostas esportivas
Em linhas gerais, o projeto estabelece
tributação de prêmios e casas de apostas esportivas online, define taxas de
operação e estipula regras para publicidade do setor.
O texto já foi aprovado pela Câmara e
analisado pela Comissão de Esporte (CEsp) do Senado. Segundo acordo anunciado
por Pacheco, o projeto será votado nesta terça pela Comissão de Assuntos
Econômicos (CAE) da Casa e, em seguida, deverá ser enviado para votação em
plenário no mesmo dia.
A regulação do mercado já está
valendo, em razão de uma medida provisória editada pelo governo em julho. No
entanto, a MP perde validade nesta terça (21) e, para seguir valendo, precisa
ter o projeto de lei com mesmo teor aprovado até as 23h59 desta terça — e
sancionado pelo presidente no mesmo dia.
As regras tratam das chamadas apostas
de cota fixa em eventos esportivos reais — ou seja, jogos em que o apostador
sabe, no momento da aposta, quanto poderá ganhar em caso de acerto.
No parecer aprovado pela CEsp, foi
definido que, para operar no Brasil, a casa de aposta teria que arcar com uma
licença de R$ 30 milhões. A autorização será de até cinco anos e dependerá de
outros critérios, avaliados pela Fazenda, como a existência de sede no país.
O texto também define a tributação de:
– 18% para as casas esportivas e
até 30% para os prêmios obtidos por
apostadores
Responsável pelo parecer da CAE e do plenário, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) se reuniu com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para acertar detalhes do texto, que deve ser apresentado somente nesta terça-feira.
Representantes de clubes de futebol
receberam, nos últimos dias, sinalizações de que o relatório permitiria a
publicidade de casas de apostas em camisetas e a criação de um mecanismo de
reconhecimento facial dos apostadores para assegurar a maioridade do apostador.
Offshores e fundos exclusivos
A proposta deverá ser analisada nesta
terça pela CAE. O relator, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), já apresentou
seu parecer em que mantém a versão da matéria que saiu da Câmara.
O texto, aprovado pelos deputados em
outubro, prevê a tributação de offshores e de fundos de investimento exclusivos
para pessoas de alta renda. (veja abaixo como foi a aprovação)
Offshores:
Offshores são rendimentos obtidos fora
do Brasil, por meio de aplicações financeiras ou empresas no exterior.
Neste caso, a tributação atualmente
ocorre apenas quando o lucro obtido com investimentos no exterior é transferido
para a pessoa física no Brasil. Ou seja, se a pessoa decidir manter os recursos
no exterior, a tributação pode ser postergada ou nunca acontecer.
Com o projeto aprovado, a tributação
será feita uma vez ao ano, no dia 31 de dezembro, e será de 15% – percentual
menor do que o previsto pelo governo e na primeira versão do relator, que
variava de 0 a 22,5%.
Fundos exclusivos:
Os fundos exclusivos são feitos de
forma personalizada para o cotista. Pelas regras atuais, esses fundos são
tributados apenas no momento de resgate do investimento. Como no caso das
offshores, esse momento pode ser postergado com a intenção de adiar o pagamento
do imposto.
Segundo o projeto, a tributação dos
fundos exclusivos será realizada duas vezes ao ano, a cada seis meses — o
chamado “come-cotas”, que já é aplicado hoje a outros tipos de fundos.
Neste caso, a taxa vai variar conforme
o tempo de duração dos investimentos:
– 15% no caso de fundos de longo prazo
e
– 20% no caso de fundos de curto prazo
— com até um ano ou menos.