Serviços mostram sinais de desaceleração, mas setor mantém otimismo e projeção de crescimento para 2023
Serviços mostram sinais de desaceleração, mas setor mantém otimismo e projeção de crescimento para 2023
Segmento cresceu 1,1% no terceiro trimestre em relação ao anterior– abaixo dos 1,3% daquele período; Fim dos estímulos fiscais e piora do poder de compra das famílias influenciam desaceleração da atividade.
Por André Catto e Isabela Bolzani, g1 01/12/2022 09h20 Atualizado há uma hora
O setor de serviços, um dos principais motores do crescimento econômico no Brasil neste ano, já começa a demonstrar sinais de desaceleração. Dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o segmento cresceu 1,1% no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores – abaixo dos 1,3% daquele período.
O setor ainda registrou um avanço de
4,5% no terceiro trimestre em comparação ao mesmo intervalo de 2021. Nos três
meses anteriores, a alta também havia sido de 4,5%.
O que explica a
desaceleração de serviços?
O movimento tem algumas explicações. A
principal delas é o fim dos estímulos concedidos pelo governo à população – que
já começa a se traduzir em uma renda menor das famílias disponível para esse
tipo de gasto.
“É preciso lembrar que tivemos a
antecipação do 13º salário, da aposentadoria, da pensão e a liberação dos
saques do FGTS. Tudo isso ajudou muito o setor nos últimos meses, mas agora já
começamos a ver uma normalização, com cada vez menos benefícios sendo pagos. O
dinheiro que foi antecipado já acabou, e mesmo o Auxílio Brasil já não gera
mais renda nova”, afirma o economista e analista da Tendências Consultoria,
Thiago Xavier.
O poder de compra das famílias também
é prejudicado pelos juros elevados no país, com a taxa básica (Selic) no maior
patamar desde 2017, 13,75% ao ano. E o resultado é uma menor demanda no
comércio, e a desaceleração do setor de serviços.
O outro lado da
moeda
Apesar da projeção mais fraca por
parte dos economistas, o setor ainda demonstra otimismo. Para a Associação
Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), tanto este quanto o próximo ano
serão de bons resultados – ainda que a previsão seja de um crescimento menor em
2023.
A estimativa do presidente-executivo
da associação, Paulo Solmucci, é de um avanço real (descontada a inflação) de
8% em relação a 2019, ano pré-pandemia, e de 5% em comparação a 2021.
“Nosso setor tem muita elasticidade.
Se tivermos um PIB crescendo 2,5% em 2023, por exemplo, podemos crescer perto
de 4%. Nós temos, normalmente, até 50% de elasticidade em relação ao PIB”, diz
Solmucci.
Esse otimismo também pode ser visto no comércio: em novembro, por exemplo, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurado todo mês pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), atingiu o maior patamar da série histórica, iniciada em 2011.
“A chegada das festas de fim de ano e
o desempenho mais favorável da economia e do comércio estão incentivando as
intenções de investir para absorver funcionários e estimular o consumo”, aponta
a economista da CNC responsável pela pesquisa, Catarina Carneiro da Silva.
Resultados
positivos
O Pina Drinques é um exemplo do
momento do segmento de serviços. Desde sua abertura, em setembro de 2021 – mês
em que São Paulo começou a aplicar a dose de reforço da vacina contra a
Covid-19 –, o bar localizado na região central da capital paulista acumula bons
resultados, segundo o proprietário Gabriel Szklo.
“Em um bom mês, faturamos cerca de R$
50 mil [bruto]. Neste ano, a gente soma um faturamento de R$ 550 mil. Então, o
valor que investimos inicialmente já foi praticamente recuperado. Contanto que
haja controle, fica mais fácil administrar”, diz.
Ele ressalta que, desde a abertura do
estabelecimento, o principal desafio enfrentado foi o mais comum entre bares e
restaurantes: a incerteza em relação ao movimento.
“Às vezes, em uma terça-feira em que
você acha que não vai acontecer nada, vem todo mundo”, diz. “E um fim de semana
– que é quando a gente mais ganha dinheiro –, quando não dá movimento,
basicamente você joga a semana fora e o mês vai para o buraco”, continua.
“Novembro e dezembro são sempre muito
melhores para bar e restaurante. Com décimo terceiro salário e festa de firma,
esses meses rendem bem mais do que no começo do ano. Tanto é que decidimos
fechar por 20 dias em janeiro, porque precisamos de férias”, conta, destacando
que também planeja novidades para o meio do ano que vem.
“O plano é trocar a carta de drinques.
Isso dá uma oxigenada. Vamos conseguir fazer um investimento grande no menu”,
revela.
Esse cenário deve
continuar nos próximos meses?
Mesmo com as projeções mais otimistas
das associações, o segmento ainda passa por reajustes, e a previsão do mercado
é de um crescimento cada vez menor para os serviços e para a economia
brasileira como um todo.
Dados recentes de um levantamento da
Abrasel, por exemplo, apontam que 18% dos bares e restaurantes analisados ainda
operavam com prejuízo em outubro deste ano. O número representa uma boa melhora
do que o observado no auge da pandemia, quando 82% dos estabelecimentos
funcionavam no vermelho, mas ainda está bem acima da médica histórica, de 5%.
Segundo Solmucci, parte do que explica
esse resultado é o nível elevado da inflação dos alimentos e a queda na renda
das pessoas, que obrigaram os estabelecimentos a segurarem os repasses nos
preços.
Outra explicação, diz o coordenador de
contas nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas
(Ibre FGV), Cláudio Considera, vem dos efeitos tardios das elevações da taxa de
juros.
“O maior endividamento e volume de
calotes entre as famílias também dificulta o crescimento da atividade”, diz
Considera, destacando que as incertezas fiscais que ainda existem no país
também são um ponto de atenção.
Para Considera, a expectativa é que o
Produto Interno Bruto (PIB) do país cresça em torno de 2% neste ano, enquanto
para Xavier, da Tendências, a previsão é de uma alta de 2,8%. Já para o setor
de Serviços, ambos os especialistas projetam um avanço de 4% em 2022.