Sob pressão, Banco Central deve manter juro básico em 13,75% ao ano, maior nível em seis anos

Sob pressão, Banco Central deve manter juro básico em 13,75% ao ano, maior nível em seis anos

Essa é a expectativa de economistas do mercado financeiro. Apesar do juro alto, mercado financeiro estima que a meta de inflação não deve ser cumprida pelo terceiro ano seguido.


Por Alexandro Martello, g1 — Brasília 01/02/2023 00h01 - Atualizado há 10 horas

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (1º) e deve manter a taxa básica de juros da economia estável em 13,75% ao ano, segundo expectativa do mercado financeiro.

Esse é o maior patamar desde novembro de 2016, ou seja, em pouco mais de seis anos. Se confirmada, essa será a quarta manutenção da taxa Selic nesse nível. A decisão será anunciada por volta das 18h30.

A expectativa do mercado financeiro é de que a taxa de juros comece a recuar somente em setembro deste ano, quando passaria para 13,5% ao ano. A projeção é de que a Selic termine 2023 em 12,5% ao ano.

 

Pressão no BC

A primeira primeira reunião do Copom de 2023 acontece sob pressão.

Neste mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou abertamente o atual patamar da Selic, que gera despesas altas.

Ele também tem defendido a queda da meta de inflação — como estratégia para redução do juro.

Nesta terça-feira (31), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que conversou com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre medidas para baratear o crédito no país.

“Conversei com o presidente do BC em São Paulo sobre uma agenda rápida de crédito no Brasil, sistema de garantias, diminuição do spread, e melhoria do ambiente de concorrência para que haja mais crédito barato no Brasil. Isso é um grande impedimento do crescimento econômico. O crédito caro impede os negócios”, declarou o ministro.

O Banco Central tem autonomia, prevista em lei, desde 2021. Campos Neto, tem mandato até 2024 e tem dito que permanecerá no cargo até o término do período.

Ele tem indicado que o BC reagirá ao aumento de gastos públicos autorizado por meio da PEC da transição, se necessário, com seu principal instrumento, a taxa Selic (aumentando ou mantendo-a elevada).

“Temos declarações polêmicas em relação a independência do BC e possíveis mudanças em relação à meta de inflação. Tudo isso tem interferência na dinâmica da curva de juros [futuros, que servem de base para as taxas cobradas pelos bancos]”, observou Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.

Segundo ele, o BC pode começar a reduzir a taxa básica quando for possível vislumbrar uma inflação menor.

“Mas esse não é o cenário base. Hoje, temos um cenário de riscos fiscais e, até que a gente veja a inflação melhorando de fato, acredito que a estratégia seguirá sendo a de manutenção de juros”, acrescentou Ricardo Jorge.

 

Metas de inflação

Para definir o nível dos juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode reduzir o juro básico da economia.

Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação dos próximos anos, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.

Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.

A meta de inflação do próximo ano é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.

O Copom tem informado em documentos oficiais que se manterá “vigilante”, indicando que deve manter os juros elevados por um “período suficientemente prolongado” de tempo para conter a inflação. E não afastou a possibilidade de voltar a subir a taxa Selic.

Apesar da retórica, o Banco Central não conseguiu cumprir a meta de inflação nos últimos dois anos, quando o IPCA ficou acima do teto do sistema de metas. E a expectativa do mercado financeiro é de que a meta não será cumprida novamente em 2023.

 

Consequências de juros altos

De acordo com especialistas, juros elevados têm vários reflexos na economia, entre os quais:

Aumento das taxas bancárias: a tendência é que novos aumentos também sejam repassados aos clientes. Em 2022, os juros bancários subiram 8,2 pontos percentuais, mais do que o aumento registrado na Selic.

Redução do consumo da população e afeta os investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Na semana passada, analistas projetaram uma expansão de 0,80% para o PIB nesse ano, contra uma estimativa de alta de 3% em 2022. Em 2021, o PIB cresceu 5%.

Despesa adicional com juros da dívida pública: em 2022, a despesa com juros somou R$ 586 bilhões. Na porcentagem do PIB (5,96%), é o maior patamar desde 2017. Juros altos pressionam a dívida pública que, se muito elevada, pode interferir nos investimentos.

Aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, passam a render mais: em 2022, as vendas de títulos públicos por meio do Tesouro Direto bateram novo recorde.

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