Sob risco de prisão em reunião de Brics, Putin se apequenou
Sob risco de prisão em reunião de Brics, Putin se apequenou
Com mandado emitido pelo TPI e direitos cerceados em boa parte da comunidade internacional, presidente russo finalmente desiste de viajar à África do Sul.
19/07/2023 11h20 - Atualizado há 57 minutos
Fim do
suspense. Com um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional
(TPI), o presidente da Rússia finalmente desistiu de participar da reunião de
cúpula do Brics, que se realizará no mês que vem na África do Sul com a
presença confirmada dos líderes de Brasil, Índia e China.
A decisão
encerra um impasse complexo para o governo sul-africano – o de ter, como
signatário do TPI, que prender Vladimir Putin caso ele pisasse em solo
nacional. É também uma derrota para o presidente russo: a confirmação de que
seus direitos foram cerceados, e ele perdeu a liberdade de circular livremente
fora do país. Sem alternativa, será representado pelo chanceler Sergei Lavrov.
Desde o
início, a participação de Putin no encontro dos Brics revelou-se um nó
complicado de desatar para o presidente Cyril Ramaphosa: ser forçado, como
anfitrião da conferência, a prender um convidado e aliado. O TPI emitiu em
março um mandado de prisão contra o presidente pela suposta deportação forçada de
milhares de crianças da Ucrânia para a Rússia.
Soluções
alternativas para destrinchar o imbróglio diplomático foram cogitadas, sem
sucesso. A participação de Putin poderia ser virtual, mas foi descartada pelo
chanceler Sergei Lavrov. A conferência poderia ser transferida para a China,
que, como a Rússia, não é signatária do TPI. Não houve, contudo, unanimidade
para aprovar a proposta.
Ramaphosa
chegou a sugerir a retirada de seu país do Tribunal de Haia, mas a solução foi
rechaçada pelo próprio partido, o Congresso Nacional Africano, e considerada
inconstitucional. E o presidente foi forçado a voltar atrás, atribuindo a ideia
a um erro de comunicação.
O governo
sul-africano arquitetou e aprovou, então, uma mudança na legislação a fim de
conceder imunidade diplomática às autoridades que participassem da reunião de
dois dias em Joanesburgo. Aparentemente, o problema estaria resolvido, mas a
medida, encarada como uma manobra para assegurar a presença de Putin, também se
revelou controversa.
O Estatuto
de Roma, que em 2002 criou o TPI, prevê que a corte internacional é soberana.
Nenhum país pode anular um mandado de prisão, argumentaram analistas jurídicos.
Em 2015, a África do Sul enfrentou um dilema semelhante, ao se recusar a
cumprir um mandado de prisão ao então presidente do Sudão, Omar al-Bashir,
acusado de genocício pelo TPI.
A diferença
é que agora há uma guerra em curso, protagonizada pela Rússia, alvo de sanções
de boa parte da comunidade internacional. A África do Sul vem se mantendo
neutra nas resoluções contra a Rússia. Ramaphosa se mostrou previdente em
relação às ameaças do país sobre uma possível prisão de seu mandatário.
“A Rússia
indicou claramente que qualquer detenção de seu presidente em exercício
equivaleria a uma declaração de guerra. Não seria consistente com nossa
Constituição arriscar envolver o país em uma guerra com a Rússia”, argumentou
o presidente sul-africano.
Por ora, é
improvável que o julgamento de Putin siga adiante em Haia. Por não ser
signatária do TPI, a Rússia não entregará seu presidente. Ele teria que ser
preso fora do país, uma vez que a corte internacional não realiza julgamentos à
revelia. Por esta razão, a decisão de suspender a viagem à África do Sul para
evitar ser preso mostra que Putin se apequenou.