Superávit primário atinge segundo maior valor da história para outubro
Superávit primário atinge segundo maior valor da história para outubro
Contas do governo ficam positivas em R$ 40,811 bilhões no mês.
Wellton Máximo - Repórter da Agência Brasil
Em um mês
tradicionalmente de forte entrada de recursos no caixa do governo, as contas
públicas surpreenderam. Em outubro, as contas do governo central (Tesouro
Nacional, Previdência Social e Banco Central) registraram superávit primário de
R$ 40,811 bilhões. O valor representa aumento real (acima da inflação) de
114,9% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando o superávit tinha
atingido R$ 18,124 bilhões.
Esse é o
segundo melhor superávit para meses de outubro desde o início da série
histórica, em 1997. O valor só perde para outubro de 2016, quando o resultado
positivo tinha ficado em R$ 40,872 bilhões, motivado pela repatriação de
recursos do exterior naquele ano.
O resultado
veio melhor que o esperado pelas instituições financeiras. Segundo a pesquisa
Prisma Fiscal, divulgada todos os meses pelo Ministério da Fazenda, os
analistas de mercado esperavam resultado positivo de R$ 32 bilhões em outubro.
As contas do
governo central foram divulgadas com uma semana de atraso por causa da greve do
Tesouro Nacional, que acabou na sexta-feira (29).
Com o resultado positivo de outubro, o rombo nas contas públicas ficou menor no acumulado do ano. Nos dez primeiros meses de 2024, o governo central registra déficit primário de R$ 64,376 bilhões. No mesmo período do ano passado, havia déficit primário de R$ 76,206 bilhões.
O resultado
primário representa a diferença entre as receitas e os gastos, desconsiderando
o pagamento dos juros da dívida pública. A Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) deste ano e o novo arcabouço fiscal estabelecem meta de déficit primário
zero, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do Produto Interno
Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) para cima ou para
baixo, para o governo central. No limite inferior da meta, isso equivale a
déficit de até R$ 28,75 bilhões.
Na
sexta-feira, a edição especial do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas
projetou déficit primário de R$ 64,426 bilhões para o governo central, o
equivalente a um resultado negativo de 0,56% do PIB. A conta, no entanto,
inclui gastos fora do arcabouço fiscal, como o pagamento de precatórios e os
créditos extraordinários para reconstruir o Rio Grande do Sul e combater
incêndios florestais.
Ao
considerar apenas os gastos dentro do arcabouço, a previsão de déficit primário
cai para R$ 27,747 bilhões, dentro da margem de tolerância de R$ 28,75 bilhões.
O resultado deste ano está sendo ajudado pelas receitas extraordinárias da
taxação dos fundos exclusivos, da reoneração dos combustíveis e do crescimento
econômico, que se reflete no pagamento de mais tributos.
Receitas
Na
comparação com outubro do ano passado, as receitas subiram, mas as despesas
caíram se descontada a inflação. No mês retrasado, as receitas líquidas subiram
16,2% em valores nominais. Descontada a inflação pelo Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA), a alta chega a 10,9%. No mesmo período, as despesas
totais subiram 4% em valores nominais, mas recuaram 0,7% após descontar a
inflação.
O superávit
primário foi impulsionado pela arrecadação federal recorde em outubro. Se
considerar apenas as receitas administradas (relativas ao pagamento de
tributos), houve alta de 14,5% em outubro na comparação com o mesmo mês do ano
passado, já descontada a inflação.
Os principais destaques foram o aumento da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), decorrente da recomposição de tributos sobre os combustíveis e da recuperação da economia, e o aumento na arrecadação do Imposto de Renda Retido na Fonte, por causa da tributação sobre os fundos exclusivos, que entrou em vigor no fim do ano passado. A alta do lucro trimestral de empresas, principalmente financeiras, também beneficiou o caixa do Tesouro.
As receitas
não administradas pela Receita Federal subiram 5,9% acima da inflação na mesma
comparação, puxadas pela transferência de R$ 6,2 bilhões de depósitos judiciais
da Caixa Econômica Federal para o Tesouro Nacional. Essa alta compensou a queda
de R$ 2,158 bilhões nos royalties, decorrente da queda do petróleo no mercado
internacional.
Despesas
Quanto aos
gastos, o principal fator de alta foi com a Previdência Social, que subiu 3,8%
acima da inflação, devido ao aumento do número de beneficiários e à política de
valorização do salário mínimo. Os gastos com o Benefício de Prestação
Continuada (BPC) saltaram 14,2% acima da inflação, pelos mesmos motivos.
Por causa da
revisão de cadastros do Bolsa Família, os gastos com despesas obrigatórias com
controle de fluxo (que engloba os programas sociais) caíram 3,6% em outubro,
descontada a inflação na comparação com o mesmo mês do ano passado. Também
subiram gastos com créditos extraordinários (R$ 1,1 bilhão acima da inflação),
impulsionados pela reconstrução do Rio Grande do Sul.
Os gastos
discricionários (não obrigatórios) caíram R$ 5,99 bilhões descontada a
inflação. Desse total, reflexo dos bloqueios no Orçamento em vigor desde julho.
As maiores quedas, em valores corrigidos pela inflação, foram observadas nas
despesas com saúde (R$ 2,4 bilhões) e defesa (R$ 1,1 bilhão).
Os gastos
com o funcionalismo federal cresceram R$ 2,84 bilhões (1%), descontada a
inflação nos dez primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano
passado. A alta foi compensada pela quitação de precatórios no início do ano, o
que diminuiu em 48,2%, descontada a inflação, o pagamento de sentenças
judiciais.
Quanto aos
investimentos (obras públicas e compra de equipamentos), o total nos dez
primeiros meses do ano somou R$ 58,304 bilhões. O valor representa alta de 9,1%
acima do IPCA em relação ao mesmo período de 2023. Nos últimos meses, essa
despesa tem alternado momentos de crescimento e de queda, descontada a
inflação. O Tesouro atribui a volatilidade ao ritmo variável no fluxo de obras
públicas.