Todos os indícios apontam que havia Abin paralela, diz novo nº2 da agência
Todos os indícios apontam que havia Abin paralela, diz novo nº2 da agência
Cepik, que foi nomeado novo diretor-adjunto da Abin na terça (30), foi entrevistado no Estúdio i, da GloboNews, nesta quarta-feira (31).
Por Andréia Sadi, Matheus Moreira, GloboNews
O novo
número dois da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Marco Cepik, avalia
que todos os indícios apontam que havia, de fato, uma Abin paralela em
atividade durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Cepik, que
foi nomeado novo diretor-adjunto da Abin na terça (30), foi entrevistado no
Estúdio i, da GloboNews, nesta quarta-feira (31).
“O
avanço das investigações apontam para isso [existência da Abin paralela]. Temos
que aguardar o final do processo investigatório nas três instâncias administrativas
e criminal, para verificar a comprovação não só sobre se houve, mas sobre quem
estava ali. Todos os indícios que se tem é de que havia, sim”, disse.
Ele, que é
cientista político e comandava a Escola de Inteligência da agência, substitui
Alessandro Moretti, demitido pelo governo Lula nesta terça-feira (30), depois
de mais uma fase da investigação da Polícia Federal que apura a suposta
espionagem ilegal feita pela Abin durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
“Não pode
fazer condutas que violem a informação privada do cidadão. Ela [a Abin] não
monitora pessoas, não bisbilhota a vida das pessoas. Se isso aconteceu, e é
isso que está sendo apurado, é claramente um desvio de função”, disse Cepik.
Segundo Cepik, houve afastamento de policiais federais da agência: “Foram de pessoas específicas, que participaram da gestão de (Alexandre) Ramagem”.
Perguntado
se há a coerência a Abin monitorar a promotora do caso Marielle (como a PF
suspeita que foi feito), o novo número 2 disse que “é possível que isso
tenha acontecido”.
Na avaliação
dele, no entanto, a decisão de manter na agência pessoas que tiveram cargos de
confiança durante o governo Bolsonaro não foi um erro do diretor-geral Luiz
Fernando Corrêa. Ao assumir o comando da agência no início do governo Lula,
Corrêa manteve nomes que haviam sido apontados na gestão anterior.
Cepik disse
acreditar, ainda, que não houve tentativa de obstrução de investigação pela
alta cúpula da Abin.
“Teria que
haver uma contradição muito grande entre a conduta dos atores e o que foi
efetivamente feito. Por que que alguém que quer obstruir uma investigação vai
instaurar um procedimento apuratório?”, indagou ele.
“Não existe
a Abin do Lula, não existe a Polícia Federal do Lula”, afirmou.
Para Cepik,
a importância de uma política de reestruturação do sistema brasileiro de
inteligência é uma demanda dele e de outros integrantes da agência desde o
período de transição entre os governos Bolsonaro e Lula.
“Nós
insistimos na importância de ter uma política de reestruturação do sistema
brasileiro de inteligência como parte do esforço para relançar as instituições
brasileiras que haviam sido fortemente atacadas durante todo o governo
anterior. Foi um governo de profunda desorganização institucional de processos
internos e, também, tentativa de captura de algumas dessas instituições”,
afirmou.
Segundo ele,
os ataques às instituições culminaram no 8 de janeiro, quando golpistas
invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
“Nós
precisamos, como fez a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito),
averiguar os fatos do passado, buscar as responsabilidades de cada um, entender
a dimensão que permitiu a chegada até o 8 de janeiro, mas também reconstruir. É
isso que vem sendo feito desde o ano passado”, disse.