Tribunal Penal Internacional emite mandado de prisão para Netanyahu e líder do Hamas por crimes de guerra
Tribunal Penal Internacional emite mandado de prisão para Netanyahu e líder do Hamas por crimes de guerra
TPI também emitiu mandado para ex-ministro da Defesa israelense. 124 países signtários do TPI, incluído Brasil, devem cumprir ordem de prisão. Argentina disse que não obedecerá. Tribunal diz ter provas de que os dois lados cometeram crimes de guerra, como 'indução à fome' e 'exterminação de povo'.
Por g1
O Tribunal
Penal Internacional (TPI) emitiu nesta quinta-feira (21) um mandado de prisão
internacional para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por
crimes de guerra.
O TPI também
expediu mandados para Mohammed Deif, líder do Hamas que Israel diz já ter
matado, e para o ex-ministro da Defesa de Israel Yoav Gallant, demitido há duas
semanas por Netanyahu.
O TPI disse
ter evidências suficientes de que todos os condenados cometeram crimes de
guerra por deliberadamente atacarem alvos civis, de um lado e de outro. As
condenações também incluem os crimes de “indução à fome como método de
guerra”, pelo lado de Israel, e “exterminação de povo”, pelo
lado do Hamas.
Os mandados
de prisão foram emitidos para todos os 124 países signatários do TPI —
inclusive o Brasil — e significa que os governos desses países se compromentem
a cumprir a sentença e prender qualquer um dos condenados caso eles entrem em
territórios nacionais. EUA e Rússia não são signatários.
O governo
israelense chegou a apresentar recurso ao TPI questionando a jurisdição do
tribunal para julgar o caso. Nesta quinta, os juízes também rejeitaram o
recurso por unanimidade e também emitiram os mandados a Netanyahu e Gallant por
crimes de guerra e contra a humanidade.
“O
tribunal encontrou motivos razoáveis para acreditar que o senhor Netanyahu
e o senhor Gallant têm
responsabilidade criminal pelos crimes de guerra de fome como método de guerra; e os crimes contra a
humanidade de assassinato, perseguição e outros atos desumanos”, diz a sentença.
Gallant foi
demitido por Netanyahu no início de novembro. Os dois já vinham discordando em
diversos pontos da Defesa do país.
A senteça
acatou um pedido da Procuradoria do tribunal feito em maio, o primeiro trâmite
da Justiça internacional contra Netanyahu. Originalmente, a Procuradoria do TPI
havia pedido prisão para três ex-líderes do Hamas, mas, após o pedido, eles
foram mortos em ataques de Israel (leia mais abaixo).
Dos três, o
Hamas ainda não confirmou a morte de Mohammed Deif e, por isso, o TPI diz ter
optado por expedir uma ordem de prisão para ele também.
“O
Tribunal encontrou motivos razoáveis para acreditar que o senhor Deif
(…) é responsável pelos crimes contra a humanidade
de assassinato; extermínio; tortura;
estupro e outras formas de violência sexual, bem
como pelos crimes de guerra de assassinato; tratamento cruel; tortura; tomada
de reféns; ultrajes à dignidade pessoal; e estupro e
outras formas de violência
sexual”, diz a sentença.
Repercussões
Entre os
signatários do TPI, apenas a Holanda e a Argentina já haviam se manifestado até
a última atualização desta reportagem. O chanceler holandês disse que acatará a
ordem e prenderá Netanyahu caso ele entre em seu país.
Já o
presidente argentino, Javier Milei, afirmou rejeitar o mandado e disse que não
cumprirá a ordem de prisão caso Netanyahu visite a Argentina.
“Israel
enfrenta agressões brutais, uma tomada de reféns desumana e o lançamento
indiscriminado de ataques contra a sua população. Criminalizar a legítima
defesa de uma nação e ao mesmo tempo omitir estas atrocidades é um ato que
distorce o espírito da justiça internacional”, disse um comunicado
divulgado por Milei.
Já os EUA,
que não são signatários do TPI disseram também rejeitar
“categoricamente” a sentença.
O gabinete
de Benjamin Netanyahu chamou a sentença de “antissemita”. Disse que
“rejeita categoricamente” o mandado de prisão e acusou o TPI de
“mentiras absurdas”.
O líder da
oposição, Yair Lapid, chamou o mandado de prisão a Netanyahu de “uma
recompensa ao terorrismo”. O ex-primeiro-ministro israelense Naftali
Benett, também criticou a decisão.
O Tribunal
Penal Internacional foi criado em 2002 como o tribunal permanente de última
instância para julgar indivíduos responsáveis pelas atrocidades mais hediondas
do mundo, como crimes de guerra e contra a humanidade.
O TPI não
faz parte das Nações Unidas e se reporta aos países que ratificaram (ou seja,
adotaram internamente como lei) esse documento.
Entre os
países que não são membros do estatuto do tribunal estão a Rússia (que assinou,
mas não ratificou o documento), os Estados Unidos (que assinou o estatuto, mas
retirou a assinatura posteriormente) e a China (não assinou).
Pedido da
Procuradoria
O pedido
original de prisão de Netanyahu, Gallant foi feito em maio deste ano pelo
procurador do TPI, Karim Khan, que também pediu a prisão emitida contra o
presidente russo, Vladimir Putin. Na ocasião, Khan também pediu a prisão dos
então três principais chefes do Hamas. Israel diz já ter matado os três, mas o
Hamas só confirmou a morte de dois deles:
Yahya
Sinwar, o ex-chefe do Hamas na Faixa de Gaza morto em Gaza por Israel;
Mohammed
Deif, comandante da ala militar e quem arquitetou o ataque de 7 de outubro ao
sul de Israel. Segundo o Exército israelense, ele morreu em um ataque em
agosto;
Ismail
Haniyeh, chefe político do grupo e que vivia no Catar, morto por Israel no Irã.
Segundo o
procurador, do lado do Hamas, os seguintes crimes foram cometidos:
Exterminação
de povo;
Assassinato
de civis;
Sequestrar e
fazer civis reféns;
Tortura;
Estupro e
atos de violência sexual;
Tratamento
cruel e desumano
Já do lado
de Israel, Kham disse ter identificado os seguintes crimes:
Indução à
fome como método de guerra;
Sofrimento
deliberado na população civil;
Assassinato
de civis;
Ataques
deliberados a civis;
Exterminação
de povo;
Perseguição
e tratamento desumano.
“Agora,
mais do que nunca, precisamos demonstrar coletivamente que o direito
internacional humanitário, a base fundamental para a conduta humana durante o
conflito, se aplica a todos os indivíduos e se aplica igualmente a todas as
situações abordadas pelo meu escritório e pelo tribunal”, disse Khan.
Limitações
do TPI
As decisões feitas pelo TPI devem ser cumpridas por todos os 124 países signatários do acordo que criou a Corte — o Brasil é um deles.
No entanto,
o tribunal não tem uma força policial que cumpra os mandados de prisão, e
depende do comprometimento de cada Estado para prender um condenado que entre
em seu território.
Reações
Tanto o
governo de Israel quanto o Hamas criticaram a decisão do procurador do TPI.
Netanyahu
criticou o pedido:
“Eu rejeito
essa comparação nojenta do procurador em Haia entre a democracia de Israel e os
assassinos em massa do Hamas. Que audácia você compara o Hamas, que matou,
queimou, fatiou, decapitou, estuprou e sequestrou nossos irmãos e irmãs e os
soldados das Forças de Defesa de Israel, que lutam uma guerra justa”.
Já o Hamas
disse, em comunicado, que o pedido de Khan “iguala a vítima ao
carrasco” e disseram querer que a Procuradoria anule a solicitação de
prisão para seus líderes.
Outro
desafio é que Israel e seu principal aliado, os Estados Unidos, não são membros
do TPI, assim como a China e a Rússia.