Zambelli fez pagamento a Delgatti via empresa que fazia materiais de campanha para candidatos do PL, diz denúncia
Zambelli fez pagamento a Delgatti via empresa que fazia materiais de campanha para candidatos do PL, diz denúncia
Deputada e hacker foram acusados de invadir ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para, segundo a PGR, obtenção de vantagem política. Parlamentar nega envolvimento e atribui culpa ao hacker, cuja defesa não se manifestou.
Por Julia Duailibi, Paula Paiva Paulo, Matheus Moreira
A deputada
Carla Zambelli (PL-SP) usou um funcionário e uma empresa contratada para cuidar
das redes sociais dela e de candidatos do PL para fazer pagamentos a Walter
Delgatti pela invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), segundo
a Procuradoria Geral da República (PGR).
Zambelli e
Delgatti foram denunciados nesta terça-feira (23) pela PGR. A invasão, que
tinha como vistas desacreditar o sistema judiciário brasileiro, ocorreu entre
novembro de 2022 e janeiro de 2023.
Segundo a denúncia, Zambelli planejou e comandou a invasão, executada pelo hacker Walter Delgatti.
“O
pagamento a Walter Delgatti foi escamoteado, já que realizado por interpostas
pessoas, o funcionário Jean Hernani Guimarães Vilela e a empresa de sua esposa,
a Hernani Filmes E Marketing Digital, à época contratada para cuidar das redes
sociais e materiais de campanha de uma frente parlamentar de doze candidatos do
PL”, diz o texto.
Jean Hernani
e a empresa não foram denunciados pela PGR. O blog tenta contato com ambos. Os
nomes dos candidatos e o valor pago a Delgatti não constam da denúncia.
Em nota, a
defesa de Zambelli diz ter recebido a denúncia com surpresa e diz não existirem
provas de que sua participação.
“A
narrativa dele acusando a Deputada e terceiras pessoas foi desmentida pela
própria investigação, e a defesa irá exercer sua amplitude para demonstrar que
ela não praticou as infrações penais pelas quais foi acusada”, diz o
texto.
Procurada, a
defesa de Delgatti informou: “Walter é réu confesso na invasão do CNJ,
portanto não é surpresa a denúncia em seu desfavor. Com relação a denúncia
perpetrada a Carla Zambelli, só confirma que Walter falou a verdade”.
A primeira
turma do STF, composta pelos ministros Alexandre de Moraes (presidente), Cármen
Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino, ainda não decidiu se aceita a
denúncia.
O que
fizeram Zambelli e Delgatti?
Segundo a
PGR, “Zambelli comandou a invasão a sistemas institucionais utilizados
pelo Poder Judiciário, mediante planejamento, arregimentação e comando de
pessoa com aptidão técnica e meios necessários ao cumprimento de tal mister,
com o fim de adulterar informações, sem autorização expressa ou tácita de quem
de direito.”
Delgatti,
sob o comando da deputada, “invadiu dispositivos informáticos utilizados
pelo Poder Judiciário, com o fim de adulterar informações, sem autorização
expressa ou tácita de quem de direito”.
Como foi
a negociação entre os dois e a invasão?
Segundo o
depoimento de Delgatti, em um encontro em um posto de combustíveis na Rodovia
Bandeirantes, em setembro de 2022, a deputada pediu que ele invadisse a urna
eletrônica “ou qualquer sistema da Justiça Brasileira, visando demonstrar
a fragilidade do sistema da Justiça Brasileira”.
Em seguida,
Delgatti realizou diversas invasões a sistemas utilizados pelo Poder Judiciário
que estavam sob a gestão do CNJ, utilizando, entre outras técnicas, credenciais
falsas.
Após as
invasões, Delgatti inseriu documentos falsos no sistema do órgão. Dentre eles
Um mandado
de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes (segundo a PGR, a própria
Zambelli escreveu o texto);
Uma ordem de
quebra do sigilo bancário de Moraes;
Uma ordem de
bloqueio de bens do ministro do STF no valor de R$ 22,9 milhões (o mesmo valor
da multa que o ministro impôs ao PL por contestar a eleição);
Uma ordem de
bloqueio de um veículo;
Alvarás de
solturas.
Qual a
motivação de Zambelli e Delgatti?
O texto
afirma que Zambelli e Delgatti buscavam obter “vantagem de ordem midiática
e política” por meio da desmoralização do sistema de Justiça”.
Segundo a
PGR, Zambelli usava os ataques às urnas eletrônicas para obter apoio popular.
“É
nítido o objetivo de alimentar posicionamentos infundados sobre pleito
eleitoral e de desdourar o TSE, seus magistrados e o CNJ, com isso agitando e
engajando seguidores da denunciada, conferindo-lhe vantagem política e de ordem
econômica daí advinda.”