Zema procura Tarcísio e já busca aliança com adversários do PT para disputar a Presidência em 2026
Zema procura Tarcísio e já busca aliança com adversários do PT para disputar a Presidência em 2026
Governador de Minas aproveitou agenda em Brasília para se reunir com lideranças de PP, Republicanos e União Brasil.
Por Bernardo Mello — Rio de Janeiro 07/07/2023 04h30 - Atualizado há 7 horas
Cotado como
um dos possíveis herdeiros políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o
governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), abriu conversas com rivais do PT
e interlocutores do chefe do Executivo paulista, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), de olho na próxima corrida ao Palácio do Planalto, em 2026.
Durante viagem a Brasília nesta semana, agendada inicialmente para discutir
ajustes na reforma tributária, Zema se reuniu com lideranças de PP,
Republicanos e União Brasil que se alinham à oposição a Luiz Inácio Lula da
Silva, e conversou sobre uma aliança voltada à próxima eleição presidencial.
O périplo de
Zema começou na manhã de terça-feira numa reunião com o vice-presidente
nacional do União Brasil, Antonio Rueda. Também participaram do encontro,
revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, lideranças do partido na Bahia, como o
atual prefeito de Salvador, Bruno Reis, e seu antecessor, ACM Neto, que
enfrentam a concorrência do PT pela capital baiana em 2024.
Na quarta, Zema conversou com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, e com o deputado federal Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos.
— Nosso foco
foi a reforma tributária, mas obviamente no caso de Republicanos, União Brasil
e PP os encontros também serviram para falar dos rumos desse campo da direita e
da centro-direita. A caminhada (até 2026) é longa, mas é importante que esses
atores políticos estejam alinhados e construam esta unidade — afirmou o chefe
da Casa Civil do governo de Minas, o ex-deputado Marcelo Aro (PP).
Ao GLOBO, um
cacique partidário que participou dos encontros disse que Zema mostrou foco
“total” na construção de uma aliança com outros possíveis herdeiros do espólio
do bolsonarismo. Na avaliação de parlamentares, o governador de Minas tem
evitado disputar protagonismo e adota uma postura estratégica de aliado de
Tarcísio.
Chapa ‘café com leite’
O deputado
José Rocha (União-BA), aliado de ACM Neto e que defende o apoio a Tarcísio na
próxima disputa presidencial, vê abertura para uma chapa com Zema.
— Se tiverem
juízo, vão relembrar a aliança do “café com leite” (de Minas e São Paulo, na
República Velha). Uma chapa com os dois seria muito forte — declarou Rocha.
Assim como o
governador de São Paulo, Zema mostrou objeção ao modelo do novo Conselho
Federativo, responsável por distribuir os valores arrecadados com o futuro IVA
dual, e pressionou para que a composição do colegiado leve em conta o peso
populacional ou o volume de arrecadação. O pleito favorece estados como Minas e
São Paulo. Tarcísio, contudo, virou o principal alvo de aliados de Bolsonaro ao
tomar a dianteira e declarar apoio ao texto da reforma, após sinalizações do
relator, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), de que atenderia as solicitações.
Interlocutores
avaliam o governador de Minas como mais “acanhado” e com menos traquejo
político do que outros cotados à corrida presidencial, como o próprio Tarcísio
e o governador do Paraná, Ratinho Jr. — a quem Zema já visitou. No entanto,
consideram que ele tem melhorado a relação com a classe política, além de
acenar à base bolsonarista.
No sábado,
dia seguinte ao julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que condenou
Bolsonaro à inelegibilidade, o governador de Minas publicou uma frase, atribuída
ao ditador italiano Benito Mussolini, que chama atenção para tentativas de
“restringir a liberdade do indivíduo”. Essa retórica constantemente é levantada
pelo ex-presidente, por exemplo, ao criticar a atuação do Judiciário em casos
em que é alvo.
Para um
interlocutor de Bolsonaro e de Tarcísio, Zema procura dosar os acenos para que
não pareçam “artificiais”, levando em conta o fato de não ser tão próximo ao
ex-presidente quanto o governador de São Paulo.
A
movimentação nacional de Zema ocorre em paralelo a uma fase de turbulências
envolvendo seu governo e a oposição em Minas, capitaneada pelo PT. Na semana
passada, após um vácuo na articulação do seu governo, a oposição obstruiu
trabalhos na Assembleia Legislativa de Minas e adiou a votação do Programa de
Acompanhamento e Transparência Fiscal , pré-requisito para a adesão do estado ao
regime de recuperação fiscal.
Como o prazo
vencia em junho, a situação abriu brecha para que o Tesouro Nacional executasse
uma dívida de R$ 16,4 bilhões do estado com a União. O governo de Minas
criticou ontem a cobrança, afirmando que ela representaria o “colapso das
contas públicas”, e ingressou no Supremo Tribunal Federal para anular a
execução, alegando que a exigência de aval dos deputados estaduais é ilegal.
Ainda ontem, após acordo, parlamentares aprovaram o PAF, com voto contrário da
oposição.